Vênus em sêxtil com Urano
Por Haroldo Barros (https://haroldobarros.wordpress.com)
Transitando no expansivo signo de Gêmeos, Vênus faz sêxtil com Urano, indicando a possibilidade de estímulos de recriação afetivos e da Beleza
Nunca é demais lembrar o mito do nascimento de Vênus.
Conta Hesíodo que Urano (o Céu) era o soberano do Universo e sempre fecundava a sua esposa
Gaia (a Terra), gerando vários descendentes. Insatisfeito com os filhos, que considerava feios, porquanto excessivamente grosseiros, materiais (o Céu é incorpóreo, imaterial), Urano, assim que os rebentos nasciam, aprisionava-os novamente no ventre da mãe. Aprisionados, os filhos devotavam ao pai um ódio mortal. Até que um deles, instigado pela mãe, se prepara para combater o pai. Era Saturno, associado a Cronos, o tempo, que, armado de uma foice, ataca de surpresa e decepa a genitália do pai, quando este, em plena cópula, fecundava mais uma vez a Terra.
Castrado, perdido seu poder de fecundar, gerar e criar, Urano é exilado e Saturno sobe ao trono.
Mas o que mais nos interessa da história é o seguinte: o sangue de Urano cai sobre a Terra e faz brotar as Fúrias e os Gigantes. E o esperma de Urano cai no mar e, em contato com a espuma do mar (“aphrós”, em grego), fecunda-a e faz surgir uma belíssima concha de madrepérola, que se ergue das águas. De dentro dessa concha, nasce Aphrodite (Vênus), linda e deslumbrante.
Assim, temos que o Amor (e a beleza e a arte) é filho da última semente do Céu, sob a intervenção do Tempo. Mas se eleva acima das águas do mar (as emoções).
Nossa! Quanta sabedoria há nos mitos, não é mesmo?
Não é à-toa que Jung diz que o Mito é uma ponte para os significados mais profundos do inconsciente coletivo; e Malinowsky diz que o Mito é a pré-história da Filosofia!
Bem, o que nos diz respeito, nesse momento, é que o pai Urano e sua filha Vênus resolvem se afinar, trazendo-nos a possibilidade de recriação.
Note que, ao mesmo tempo em que forma o sêxtil com Urano, Vênus faz um quincúncio (ângulo de 150 graus) com Plutão. Ou seja, Vênus se integra à quadratura Urano – Plutão (sobre a qual já escrevemos. Mais informações aqui)
Essa configuração (ver figura) pode ser significativa de duas possibilidades:
Primeira: a de que o aprofundamento de questões emocionais pode ajudar no nosso processo de recriação. Mais capacitados ficamos para operar as mudanças necessárias e os ajustes em nossos relacionamentos.
Ou
Segunda: anestesiar a possível crise, escondendo os significados mais profundos que ela traz, o que impedirá o aproveitamento que uma crise (vivida conscientemente) traz.
Portanto, fique atento.
Se você vive uma crise em algum relacionamento (na relação a dois, no trabalho, na família..), não esconda a cabeça na areia. Encare-a de frente e procure descobrir, junto com o parceiro, o que há do outro lado dessa história. Assim, será fácil descobrir os significados e, se for o caso, redesenhar a relação, em seus papéis e em sua significância.
Também as nossas tendências artísticas, nossa criatividade deverá se exaltar, durante os próximos dias.
Aproveitemos!
Nesse sentido, é válido lembrar a ideia do dramaturgo, poeta e escritor alemão Friedrich Schiller, quando diz que “fazendo o Bem, nutrimos a planta da Humanidade; produzindo o Belo, espalhamos as sementes do que é divino”.
Para concluir, se o assunto é Vênus, nada melhor do que poesia!
Assim sendo, convocamos o poeta pernambucano Carlos Penna Filho, o “Poeta do Azul”, com o seu “Soneto do Desmantelo Azul”.
E nele vemos o que é “uranizar”, dar significados à relação.
Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois, vesti meus gestos insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas.
Para extinguir em nós o azul ausente
E aprisionar no azul as coisas gratas
Enfim nós derramamos simplesmente
Azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós nem nos lembramos
Que no excesso que havia em nosso espaço
Pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
E vimos que entre nós nascia um Sul
Vertiginosamente azul. Azul.
Dica cinematográfica
O excelente Alguém tem que ceder (Something’s Gotta Give, USA, 2003) dirigido por Nancy Meyers e estrelado por Jack Nicholson e Diane Keaton (com Amanda Peat e Keanu Reeves no elenco).
Uma bela comédia romântica, engraçada, porém reflexiva, onde você vai ver direitinho como se recria o significado de amar e relacionar-se.