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[ARTIGO] O saber orgânico da oralidade

Foto: Layza Pereira

Por Aline Awa
@feitiodaterra

A moça me perguntou na última semana, depois de assistir ao II Ciclo Mulheres, Plantas e Cura, do ‘Selvagem –  ciclo de estudos sobre a vida’, quais eram as minhas referências de livros e estudos para viver os saberes ancestrais e os saberes das plantas. Ela não sabia por onde começar.

Taí algo que sempre vem a mim, quais são os livros que estudo para saber de plantas, saúde, curas… essa resposta segue inacabada. Como explica-se a oralidade, memória, o caminho, percurso e trajetória? Como se explica ancestralidade introjetada nas células, DNA, no sopro no ouvido, nos sonhos? Tem cura que vem em sonho. Tem planta também. Como explicar que corpo é tecnologia, instrumento, e que os sentidos do corpo são nossas ferramentas de conexão e percepção mais profundas. Como fazer entender, que tais saberes nenhuma tese acadêmica, nenhum livro de planta medicinal, recriará o grande mergulho do saber oral, da oralidade em memória, da oralidade cantada e do ‘fazer-ser’.

Como diz Nêgo Bispo, o que eu aprendi e aprendo, que reflete singela e humilde parcela, são pelos mestres e mestras do ofício, vivos e não vivos. Em cada trajetória, lugar que fui, eu fui até as entranhas do lugar. O que tem depois do aparente? Um mundo inteiro de saberes, gentes, humanos e não humanos. No meio da cidade tem pescador que pesca até hoje, tem marisqueira na maré. Quem vê? Estão ali nas pontes da cidade. Eles detêm saberes-fazeres da pescaria artesanal, de ler a maré, lua, movimentos das águas. mesmo com todo um modelo civilizatório e simbólico tentando corroer todas essas outras linguagens de vida. Nos mercados públicos tem as erveiras, nas margens os terreiros, nas beiras bairros semi-rurais. Cheio de gente da roça com um monte de saber de viver pela terra, mesmo que não o vivam mais integralmente, esses saberes vivem na memória. É preciso de movimento pra chegar. Percepções aguçadas. Sensibilidade instintiva, selvagem.

Nenhum conhecimento escrito superará o conhecimento que atravessa a pele e o corpo. Esse é o “saber orgânico”. (Nêgo Bispo).

Cada corpo um atabaque.

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