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[ARTIGO] “Ela é busca e cura da ferida ancestral!”

Hans Baldung Grien (1510)

| Por Juliana Ferreira (Zzui)* |

Hans Baldung Grien, em 1510, retratou o ‘Sabá das Bruxas’ com uma carga de elementos e expressões estigmatizadas do ser bruxa, reforçando um imaginário que vem se perpetuando quanto à representação dessa figura idealizada e, assim, subverteu suas origens de profundidades, o sentido da magia e a beleza do seu mistério.

A estereotipização dessa entidade enigmática, figurada como má e velha, sarcástica e impiedosa, extravagante e devoradora, foi mais uma das manobras patriarcais no sentido de moldar um outro feminino não íntegro em sua essência, o feminino da mulher dócil, recatada, a do lar e submissão.

O sentido castrador colonialista busca, justamente por via dos estereótipos, carregar essa bruxa de uma imagem exótica e grotesca, com elementos vinculados às “classes baixas” e de uma mulher serviçal.

Da vassoura ao caldeirão, com verrugas e manipuladora de sapos, a bruxa da antiguidade é manifesta por uma imagem apropriada à perseguição de tantas mulheres que mantinham seus rituais cotidianos e em conexão com a natureza e as intensidades do feminino daquela que não se permitia tolher, e portanto, condenadas ao extremo e ao apagamento de sua inteireza.

Na atualidade, longe desses estereótipos e da mercantilização de uma bruxa patética, ou severa, reunimo-nos em evocação ao nosso ser bruxa. As netas, as filhas, as rebrotadas e renascidas, recém autorreconhecidas, as libertas.

A ressignificação da bruxa se faz cada vez mais crescente e não cabe em definições únicas de elementos condenáveis, caricaturescos ou vulgares. Ela é natureza em sua potência intrínseca, ela é essência e urgência, ela é revolução, ela é busca e cura da ferida ancestral. Ela se observa e percebe os chamados; a bruxa do oráculo que cresce cada vez mais em você.

Uivemos para o alto no sentido de vingar o que merece brotar e crescer, na força do ventre, na revolta dos mares e dos ventos, no encantamento do fogo, na sabedoria lunar. Somos nós.

E que venha a revolução das bruxas!!!

* Juliana Ferreira (Zzui) é designer, artista e doutoranda em Antropologia. Pesquisa atravessamentos entre Arte e Antropologia a partir de representações visuais, dos grafismos rupestres às artes indígenas contemporâneas. No perfil do Instagram @reato.me publica ensaios sobre representações artísticas do feminino a partir de simbologias e imagens. “A arte como matéria bruta” é sua vertente de investigação poética.

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