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Poeta Jorge Lopes foi se encontrar com Miró, França, Erickson Luna e tantos outros saudosos poetas que se encantaram

[Foto reproduzida do perfil do instagram @valmir.jordao]
Ícone da poesia urbana pernambucana, o poeta, desenhista, compositor e escritor Jorge Lopes faleceu no início de fevereiro passado, deixando o movimento poético recifense de luto.

Nascido no Recife em 1951, Jorge foi um grande colaborador da cultura brasileira, com suas ideias libertárias e engajamento político.

Foi editor do fanzine ‘Balaio de Gato’, que circulou entre 1989 e 1999, sem periodicidade certa. “O Balaio de Gato era lançado no susto, não tinha data anunciada. Quando chegava, era o maior desbunde na cidade”, relembra o poeta, em entrevista publicada em 2020 no site da CEPE (Companhia Editora de Pernambuco).

“Tenho muito orgulho de ter editado o Balaio de Gato. Hoje percebo a importância que a revista teve. Foi fundamental porque a poesia estava nas ruas e não apenas nos livros empoeirados, nós levamos a poesia para a praia, os mercados, todos os lugares.”

O artista tem vários livretos publicados, entre eles: DOSE DUPLA (com Francisco Espinhara) e CURTA POEMA (com Celso Mesquita). Na Coletânea Poética Marginal Recife, publicou, além de seus poemas, as caricaturas de cada poeta da publicação. Pela CEPE, lançou em 2020 o livro POEMAS REUNIDOS, com poesias escritas entre os anos de 1970 a 1990.

“Conheci Jorge através de minha mãe (Clene Valadares) que o conheceu na época da fundação do MNU (Movimento Negro Unificado) em Pernambuco. Mainha lhe queria muito bem, e esse bem me foi passado, sendo Jorge parte de minha história e formação poética e artística, importante referência estética e ética”, conta a artista Anaíra Mahin.

Em entrevista ao site Domingo com Poesia, em 2020, o também poeta Valmir Jordão perguntou a Jorge:
– Como se define o cidadão e artista Jorge Lopes?
E ele respondeu:
– O cidadão é o pássaro. O artista é o voo.

Voa, Jorge! Gratidão!

Abaixo, compartilhamos alguns poemas de Jorge Lopes.

Gênese
(Jorge Lopes)

Sou um rei sem súditos.
Um gênio que não concede desejos.
Homem do futuro,
Pulsa em mim a eternidade.

 

O Poema
(Jorge Lopes)

Um homem se curva
Sob o peso do salário mínimo
Numa fábrica de Recife
Ou de São Paulo.

Um garoto pobre morre
Por falta de atendimento médico
Num hospital qualquer deste país.

Mas o poema não arqueja,
O poema não se entrega.
Feito uma pedra
No sapato
O poema incomoda
E arde essa chama
De justiça e liberdade.

 

Poema nacional
(Jorge Lopes)

Poderia dizer
que o poema tem pressa
e acalenta em mim
essa inquietude,
fervendo minhas tripas.
Poderia dizer
que o poema tem fome,
espetada nos olhos da balconista.
Mas o poema é pouco,
para alcançar os homens
adormecidos em seus sonhos de medo;
o poema é pouco,
contra os militares e suas armas mortais,
contra a igreja e seu deus profano,
contra os sórdidos capitalistas
e latifundiários desse meu país.
O poema é muito pouco,
mastigando essa esperança brasileira.

Conto de foda
(Jorge Lopes)

De madrugada
Quando as crianças estão dormindo
O soldadinho de chumbo
abandona o seu posto
E vai trepar com a bailarina
da caixinha de música.

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