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[CANTO DE LU] Meus traumas de infância

Lu Rabelo, aos 4 anos. Foto: Arquivo pessoal

| Por Lu Rabelo* |
(Dez/2017)

Ultimamente tenho ouvido bastante psicólogos e coaches falarem em ‘crenças limitantes’. Eles dizem que elas se instalam na primeira infância, até os 7 anos de idade, e são resultado de experiências negativas, traumáticas, que ocorreram nesta fase, e que marcam profundamente a nossa personalidade e a forma que agimos no mundo.

Refletindo sobre isso recordei um fato marcante em minha vida.

Eu tinha cinco anos quando entrei na escola. E foi nesta época que aconteceu minha primeira grande dor. Estava acontecendo uma festa na escola. Senti vontade de ir ao banheiro. O banheiro ficava dentro da sala de aula e a festa acontecia na área comum da escola. Entrei na minha sala, que estava aberta, e me dirigi ao banheiro. Lembro que uma mulher saiu do banheiro e eu entrei. Quando saí a sala de aula estava trancada. Comecei a bater na porta e chamar para alguém abrir, mas ninguém me ouvia. A minha lembrança é que eu gritei muito, esperneei até ficar prostrada. Achava que nunca mais sairia dali. Que nunca mais veria minha mãe. Não sei quanto tempo se passou, mas pra mim foi algo como uma eternidade. Acho que ali aconteceu a minha primeira morte em vida. Quando, enfim, abriram a porta, lá estava eu desfalecida de tanto pranto.

Dia desses perguntei a mainha se ela lembrava do episódio. Ela disse: “- nem me lembre disso!” Percebi o quanto aquilo pra ela também foi traumático.

Hoje me pergunto: será que aquela mulher que estava no banheiro quando entrei não me viu? Será que a porta estava destrancada, mas eu que não conseguia abrir? O que de fato aconteceu?

E como este trauma vem reverberando em minhas atitudes na vida desde então?!

Agora compreendo porque quando via uma foto minha sozinha eu chorava com pena ‘da menininha sozinha’. Entendo também porque chorava tanto ao ver alguns desenhos como Pinóquio e Marcos (este último era um menininho que nunca encontrava a mãe).

Recentemente, participando de um encontro de Cíclicas – mulheres em roda, numa vivência de Constelação Sistêmica, Laura Tamiana, a facilitadora, propôs que em duplas, uma fosse a criança da outra, antes do trauma. Me admirei que a minha criança era destemida, corajosa, rebelde, bem diferente da menininha medrosa que me tornei.

Outra lembrança traumática foi quando devia ter uns 6 ou 7 anos. Também na escola. Já era outro colégio. Era hora do recreio e eu tava brincando na gangorra no parquinho com uma coleguinha. Quando eu estava lá em cima da gangorra ela saiu e eu despenquei sentindo uma dor imensa na região do ânus/vagina. Foi uma pancada muito forte.

E hoje me questiono: o que, além daquela dor intensa, ficou registrado?

Sinto que nos dois episódios se instalou uma espécie de desconfiança, na mulher que me trancou e na menina que me largou na gangorra. Fui abandonada nos dois casos. Fui desconsiderada. Como isso vem refletindo, desde então, nas minhas relações?

Agora é investigar com mais consciência que padrões foram criados em mim a partir desses episódios traumáticos e trabalhá-los para que eu flua mais leve nesta vida.

* Lu Rabelo é cantadeiraarteterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar.

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