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[ZÉ DE JOANA] “Mãe dizia que tinha uns parente caboclo!”

| Por Lu Rabelo* |

Somente após mais de dois anos do desencarne de painho é que tive a graça de confirmar o que já sentia desde sempre: o meu parentesco bem próximo com os povos indígenas.

Quando, em 2008, através dos meninos da produtora Telephone Colorido, ouvi falar do povo Pankará, lá de Carnaubeira da Penha, senti uma forte conexão.

Desde então vinha tentando arrancar algumas lembranças de meu pai sobre a história de nossos antepassados daquela região. Mas painho, como a maioria dos brasileiros, foi vítima do cruel apagamento cultural.

Joana Luiza de Jesus, minha avó paterna, ainda moça, foi morar no vilarejo de Santa Maria (Tupanaci), em Mirandiba, sertão do Pajeú pernambucano, onde meu pai nasceu.

Na ânsia de conseguir pistas, ia perguntando a painho:
Eu: – Desde quando vovó fumava cachimbo?
Ele: – Desde menina.
Eu: – Painho, o senhor sabe se voínha tinha algum parente indígena?
Ele: – Mãe dizia que tinha uns parente caboclo.

(…) anos depois

Eu: – Painho, antes de vovó ir morar em Santa Maria, onde ela vivia?
Ele: – Uma vez mãe contou que vendeu umas terras de herança nos pés da Serra do Arapuá.

Pronto. A Serra do Arapuá é território Pankará!

Quando vovó se encantou, painho me confiou a guarda de uma bolsinha dela, com alguns pertences: facas de cortar fumo, relógio, carteira de identidade, óculos, fotos 3×4, um tufinho de cabelo, um terço, carteira de trabalho como agricultora e certidão de nascimento, onde constam o nome da mãe dela, minha bisavó (Luiza Maria da Conceição) e dos meus trisavós (Raimunda Maria de Jesus e Clementino Pereira da Silva).

O nome do pai da minha avó não consta na certidão, mas painho me disse que, lá pros idos dos anos 40, 50, o conheceu, e que ele morava em Barra do Silva (Carnaubeira), e se chamava Manoel Saturnino do Nascimento, mais conhecido como Pandú.

Recentemente, com a ajuda de meus Guias, e do amigo Marcelo Freire, que atua na Saúde Indígena, cheguei aos Pandú, parentes de minha avó por parte do pai dela. Entrar em contato com eles foi das maiores alegrias que ja senti nesta vida.

E a conexão com os Pankará segue se aprofundando. Pressinto que por parte de minha bisavó Luíza, nossas raízes vêm de um quilombo-indígena, de lá mesmo da Serra do Arapuá.

* Lu Rabelo é filha de Zé de Joana, cantadeiraarteterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar.

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