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[SEXO, AMOR E TERAPIA] Um corpo no mundo: corpo e negritude

Raphaella Maia pelo olhar da fotógrafa Sandra Soares.

| Por Raphaella Maia* |

Partimos do principio onde todos somos seres humanos, sendo assim, originários de um mesmo útero, não idênticos, porém iguais. O corpo que aqui escreve é igual ao corpo que do lado daí lê, as sensações são as mesmas. Nesse meio onde todos parecemos homogeneizados por tantos processos, parecemos não compreender o básico e fundamental para nos relacionar com nós mesmos e com o mundo que nos cerca: nossas diferenças são essenciais para nossa forma de compreender nossas relações com o corpo e com nossa intimidade.

O corpo que aqui hoje escreve é um corpo negro e lido socialmente na sua cisgeneridade, identificado com o sexo feminino, de desejo fluido. Demarco esse corpo no mundo a partir dessa e de outras características que o compõem. Em meio a todas as vivências do viver-aqui-com-o-outro, necessitei reconhecer meus limites de pele para compreender como as experiências atravessavam a mim e minha pessoalidade.

É vital para a compreensão dos processos íntimos, afetivos e sexuais a nossa auto-identificação corporal, racial e social. O corpo que está no mundo é atravessado por uma psique, por um mental e também por demandas sociais e políticas. Ao pensar a vida intima de casa sujeito, e também de casais, é inevitável o confronto com o espelho e o reconhecimento do que se reflete. Como compreender que corpos negros que buscam afeto e dengo, sem fazer a leitura do modo como esses corpos são lidos socialmente? Relegados sempre à conotação hiperssexualidazada, do fetiche, da objetificação, esses corpos são atravessados por violências e vivências especificas que se traduzem de maneira peculiar e singular.

A proposta que venho trazer nessa escrita de hoje é a seguinte: nossas corporeidades, nossas necessidades emocionais, passam por lugares diversos. Somos, sim, seres humanos dignos de felicidade, gozo pleno e liberdade, porém a maneira pela qual iremos internalizar e buscar nos lançar ao universo de possibilidades que a vida oferece, nos levará a caminhos e trilhagens outras, que não cabem no julgo social do menor ou maior, do melhor ou do pior. As dosagens binaristas aqui não darão conta de suprir todo o potencial vital que cada corpo-pele anseie. Atravessamos mares de distâncias entre nossas intimidades. Nossos corpos carregam em si embarcações de sentimentos, sensações e pensamentos únicos, com sentidos individuais e sociais.

Deixo o convite a você, caro leitor, que encontre teu corpo hoje e se proponha a reconhecer teus limites corporais, a sentir tua pele, e se indagar em como vem sendo habitar tua primeira morada chamada corpo, onde essa morada se encontra e quais as vivências que a atravessam.

Finalizo por hoje, deixando um fragmento da música de Luedji Luna, chamada ‘Corpo no Mundo’:

“Eu sou um corpo
Um ser
Um corpo só
Tem cor, tem corte
E a história do meu lugar
Eu sou a minha própria embarcação
Sou minha própria sorte.”

* Raphaella Maia é psicóloga clínica, sexóloga, terapeuta sexual tântrica (Método Mahadevi), pesquisadora das Relações Étnico Raciais e Efeitos Psicossoiais do Racismo na Saúde Mental da População Negra.
Instagram: @falaprettaapsi 

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