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Entrevista com Ana da Fonte sobre Constelação Familiar Sistêmica

Por Kelly Baêta

(entrevista realizada em janeiro/2017)

O método da Constelação Familiar Sistêmica é uma abordagem psicoterapêutica inovadora criada há 30 anos pelo alemão Bert Hellinger. O método resgata o tema da ancestralidade para trabalhar a cura de pessoas nos diversos sistemas. O Portal Flores no Ar entrevistou Ana da Fonte, do Instituto de Práticas Sistêmicas do Brasil. De acordo com Ana, nos últimos anos, o método de Hellinger está presente em vários países, inclusive no Brasil.  A Constelação Familiar Sistêmica é baseada na visão sistêmica fenomenológica e evidencia a nossa interconexão com tudo o que é vivo no planeta.

ana da fonte livro
Ana da Fonte. Foto: Renata Sabino

O que faz a Constelação Familiar Sistêmica?
O método promove a identificação das ordens do amor, colocando em evidência os profundos laços que unem a pessoa à sua família, sendo incluídas aqui as gerações anteriores. Esses laços são tão poderosos que quando membros de uma geração desaparecem, deixando pendências com seu sistema, ocorre de membros de gerações posteriores passarem a sentir uma força invisível atuando sobre eles e são compelidos a encontrar uma solução para aquelas pendências, para não permanecerem prisioneiros de acontecimentos, que não são de fato responsáveis. Podemos perceber estes fatos nos comportamentos estranhos de indivíduos que, de repente, aparecem com sintomas de tristeza ou depressão e que não conseguem encontrar uma razão específica para isso. Também é comum em pessoas com câncer, artrose e outras doenças cujos sintomas parecem ser herdados de gerações anteriores da família. Quando se identifica o reflexo do acontecido com antepassados em nossa vida, podemos olhar para as soluções que nos tornam livres para cumprir o próprio destino.

A partir de sua experiência, de que forma a Constelação Familiar Sistêmica contribui para melhorar a vida das pessoas?
Nós somos 50% nosso pai e 50% nossa mãe. Se olharmos para o nosso passado, nossos pais também são 50% pai e mãe e montando a árvore genealógica de cada um, vemos que o fenômeno da corresponsabilidade da ancestralidade vai penetrando a cultura e a história. Podemos representar o fato como uma grande colcha de retalhos, com interferências positivas e negativas de todos os nossos antepassados. Esta interferência pode trazer-nos prazer e bem-estar, no caso positiva, mas pode trazer-nos muitos sintomas corporais, emocionais e psíquicos negativos, no caso do amor ter sido interrompido, negado ou silenciado em algum momento anterior. Carregamos todas essas informações em nossa memória celular e por isso nos sentimos tentados a repetir situações desfavoráveis que aconteceram no passado. Saber que o que entendemos por dor é um profundo amor ainda inconsciente ou uma lealdade ao nosso sistema familiar, nos dá possibilidade de tomarmos consciência de como atua nossa parte neste Todo e assim nos libertarmos das prisões que nos colocaram, ainda no início de nossa vida. Quando criança, precisamos do calor e cuidados dos adultos, e assim fomos impulsionados a acolher ensinamentos de medo dos adultos, que nos ajudaram a estarmos vivos hoje. Mas esta imagem fica cristalizada em nosso corpo e qualquer movimento novo nos dá medo porque parece que iremos morrer. Com isso, naturalmente, deixamos estas imagens infantis e liberamo-nos para o momento presente, contando com toda força e sabedoria de nossos ancestrais.

O que acontece quando curamos esses sistemas?
Nesta explicação vemos na prática pessoas aprisionadas por uma ideia, uma maneira aprendida de relacionar-se e, aos poucos, ela vai ampliando seu campo de visão para detalhes e maneiras de amor que nunca havia tocado. Nesta compreensão de uma parte mudar, todo o sistema muda. Darei um exemplo para clarear o efeito do método. Muitos dos conflitos existentes na família é uma maneira de ajudar o outro a acordar para a vida. Muitas vezes, apesar de estar no corpo físico, escolhemos a morte e destruir a nós mesmos. Então, compreendemos que uma parte, ou membro do sistema, escolhe morrer ou viver morto-vivo e a outra parte do sistema vai gerar conflitos, dar trabalho para que o outro apegue-se à vida. Temos muitos casos como este, e muitas vezes queremos ‘curar’ o que expressa mais ‘problemas’, mas quem deveríamos olhar realmente, o que cria “problemas” ou o que quer morrer em vida? Neste exemplo, entendemos a função do amor na intensificação da dor. As crianças são as maiores vítimas desses processos e elas serão os futuros adultos. Muitas vezes os pais querem ‘curar’ seus filhos, sem olhar sua responsabilidade sobre o sintoma. As crianças saem facilmente dos seus lugares para preencher demandas interrompidas dos pais, porque elas estão puras de amor. São capazes de virar assassinas, só para reconhecer seu pai assassino, podem tornar-se alcoólatras para honrar aquele pai que se sentia pequeno, entregam seu corpo para ajudar a mãe com aquele homem agressivo.

Como é realizado o método?
O método ajuda-nos a trazer as imagens internas de nossa família, o que está oculto em relação ao passado – vivos e mortos – e que está inconsciente. É possível constatar que atrás de atitudes que julgamos ‘mau’, existe também o Amor. E através de mudanças dessas imagens o constelado vai introduzindo novas possibilidades, novas visões do acontecido. Assim, o mesmo amor que é capaz de criar sofrimento, é o mesmo que traz consigo a sabedoria da solução – desde que venha a tornar-se consciente para a pessoa – , como observamos na configuração de uma constelação familiar. Este método une a todos quando percorre a linha do tempo e do espaço, mostrando que todos os emaranhados que julgamos do passado estão acontecendo aqui e agora, estão acontecendo dentro de cada um de nós, sendo nosso futuro, também, a experiência do que está dentro de nós aqui e agora. Então, com esta visão ampliada do sistema familiar, podemos mudar para algo mais pleno e prazeroso a nossa percepção do futuro.

Fale-nos um pouco do autor do método.
Bert Hellinger, nascido em 1925, participou como soldado alemão da Segunda Guerra Mundial, vivendo por meses em campo de prisioneiros na Bélgica. Ingressou na Ordem de Missionários Católica e, com isso, viveu na África por um bom tempo. Foi trabalhando com os zulus que percebeu que a harmonia familiar pode trazer alegria, amor e liberdade aos seus membros, e quando este fato não acontece naturalmente a comunidade de destino apresentava sintomas de sofrimento. Filósofo, teólogo e pedagogo alemão, Hellinger estudou psicanálise e conheceu as terapias sistêmicas que estavam em um movimento bem forte nos Estados Unidos. Há mais de 30 anos, iniciou seus workshops e através da experiência prática foi identificando que uma grande parte de nossos conflitos internos são sentimentos adotados de ancestrais. Atualmente, este método está em todos os continentes, liberando as dores de um tempo de guerras, racionalidade excessiva e utilitarismo exacerbado e faz-nos recordar que somos Um em toda ligação com tudo o que está vivo.

Como você chegou a ser terapeuta do método da constelação?
Desde cedo uma busca natural sobre a verdade de quem realmente eu sou tomava-me. Neste movimento, encontrei muitos métodos preciosos em minha vida, mas foi num encontro com um mestre oriental, o Osho, em 1989, que pude tocar em raízes muito profundas do meu Ser e respirar um pouco da minha verdade. Neste momento, vivenciei processos terapêuticos buscando reencontrar fragmentos dispersos. Em 1997, foi me apresentada a constelação e logo me identifiquei com a forma amorosa de encontrarmos nosso verdadeiro lugar de honra nesta vida, uma oportunidade de reconhecer fragmentos deixados pelas heranças familiares. A constelação também me encontrava e pude compreender, em experiência, muitas das palavras do mestre que iluminou a minha vida em consciência. A partir desta data, levei o método para as organizações e vi seus resultados imediatos. Busquei novas maneiras de aprofundar-me realizando formações na época que este método não existia em grandes treinamentos, e, a partir daí, iniciei a jornada dos atendimentos em família, até que preencheu toda a minha vida profissional e tive que me afastar das organizações. Muitas experiências precisei realizar comigo para entender o método e, antes de tudo, como juntar também meus fragmentos pessoais e profissionais. Posteriormente, realizei formações com profissionais que acompanharam o Bert Hellinger por toda sua caminhada de descoberta do método e ainda tive oportunidade de compartilhar experiências em um treinamento avançado com o próprio Bert Hellinger que foi realizado no Brasil em 2008 e 2009.

Quais temas podem ser constelados?
A proposta deste trabalho é exercitarmos o fechamento de alguns pontos que foram interrompidos nos sistemas de convivência de uma maneira geral, seja trabalho, família, educação, ecologia, restauração da paz, ciclo de convivência, saúde, prosperidade etc. Ele identifica o reflexo do acontecido de sofrimentos passados, em nosso momento atual. Sendo assim, pode ser aplicado em várias temáticas que nos tiram do movimento da vida natural, ou seja: da nossa prosperidade, harmonia e amor. Este método esclarece fatos, segredos, conflitos e ressentimentos que migraram através de gerações e desconectam-nos do fluxo da vida. Nesta compreensão, de lealdade ao acontecido, podemos repetir padrões de sofrimento, doenças, fatalidades, como também dificuldades de relacionamentos, trabalho, que nos impede de viver nossa natureza essencial.

Para conhecer o método da Constelação Familiar Sistêmica, você pode entrar em contato com a terapeuta Ana da Fonte, através do perfil do Instagram: @anadafonte_ 

Ana da Fonte atende em consultório, grupos abertos, coordena a formação Internacional pelo Institut Lanshut da Alemanha e promove o curso do método para profissionais de várias áreas de atuação. Lançou “O Tao das Constelações” – o livro onde a autora estreia como escritora e reúne os aprendizados das suas experiências como consteladora sistêmica, nesses mais de 20 anos de vivências nos diversos sistemas.

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