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Morre em Caruaru o folclorista Aleixo Leite Filho

aleixo
Aleixo Leite com os poetas Diniz Vitorino e João Batista de Siqueira, o Cancão

Faleceu ontem (12/04/13), aos 83 anos, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, onde morava, o escritor Aleixo Leite Filho, que também era poeta e pesquisador da cultura popular nordestina. Professor, integrou o corpo docente da Faculdade de Formação de professores de Arcoverde, no Sertão pernambucano, e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru. Natural de Bom Conselho, Agreste de Pernambuco, viveu grande parte de sua vida na cidade sertaneja de São José do Egito, onde era mais conhecido por Leci. O folclorista tinha mais de 20 livros lançados e era uma referência do folclore do Brasil. Entre seus livros, os romances: “Mangação do Pajeú” e “Um Rastro na Pedra”. Na poesia destacam-se: “Prelúdios”, “Postais da Minha Terra”, “Nostalgia”, “Canto Bissexto” e “Missão do Amanhecer”. Ensaios: “Louro de São José ou O Rei dos Trocadilhos” e “Reflexões Sobre Verso Popular”.

Em 2010, Aleixo Leite foi agraciado pela Câmara de Caruaru com a medalha Rafael Santos Barros, concedida às pessoas que têm relevantes trabalhos na área literária. Naquele mesmo ano o comunicador Mário Flávio fez uma entrevista com ele e em forma de homenagem, postou no seu blog. Confiram abaixo a entrevista:

(Entrevista reproduzida do blog do Mário Flávio)

O senhor completou 80 anos e é considerado uma das referências do folclore pernambucano, como surgiu o interesse pelo tema?
Aleixo Leite – Eu me criei nas ruas de São José do Egito e desde pequeno convivi com os cantadores de viola, sempre fui muito curioso, queria entender como era que aquelas pessoas conseguiam fazer versos de improviso, simplesmente extraordinário. Foi a partir daí que comecei a divulgar o povo, principalmente os mais esquecidos, que sempre têm histórias fantásticas para ser contadas.

Como o senhor pode definir o folclore nos adias atuais?
Aleixo Leite – Hoje em dia fazer folclore não é uma das tarefas mais fáceis, primeiro devido à perda dos valores da maioria da sociedade, segundo pelo fato de existir uma confusão entre o que é folclore e cultura popular. A diferença está na forma da divulgação, se uma obra não tem autor conhecido é folclore. Caso o trabalho seja assinado por alguém, vira elemento da cultura popular.

Mas é possível manter os costumes e tradições com tanta modernidade? 
Aleixo Leite – Mas é claro. O próprio significado da palavra folclore é um bom exemplo disso. Folk quer dizer povo e lore cultura, então as manifestações vindas do povo não se acabam nunca. E mesmo com toda modernidade que existe atualmente, não podemos ignorar a importância do povo. Desde o início do mundo que as classes sociais são divididas, e o folclore é a sapiência do povão, o chá que vai curar, as lendas, os mitos e uma série de fatores que mantêm viva a cultura popular.

De que forma a escola pode trabalhar as culturas populares? 
Aleixo Leite – Quando escrevi o livro “Noções do Folclore” a obra foi considerada pelo professor Bráulio Nascimento, que na época era o presidente nacional do folclore, como a única do tema a ser escrita utilizando as normas da ABNT, uma coisa que para muitos era impossível, já que o folclore para meia dúzia de intelectuóides não pode se confundir com a academia. A escola é o momento ideal para garantir viva a tradição de um povo.

Em Caruaru, o senhor trabalha com autores como o Mestre Dila, mas ele ainda é pouco conhecido nas novas gerações. Qual o valor da obra de Dila?
Aleixo Leite – Dila é simplesmente extraordinário. A maior virtude do artista que trabalha com a linogravura é a autenticidade, já que ele criou essa técnica de esculpir a imagem na borracha, uma coisa fantástica. Eu considero Dila extraordinário, porque muitas vezes desenvolve um trabalho sem ter noção do que está fazendo. Certa vez ele estava no Rio de Janeiro para uma exposição, e perguntaram onde estão as suas peças? Então ele perguntou: quais peças? As que o senhor viria expor aqui. Ele simplesmente pediu um pedaço de borracha e começou a esculpir. Os cariocas ficaram loucos e compraram todas as peças que ele fez. Sabe o que Dila fez com o dinheiro meu filho? Na volta dentro do ônibus distribuiu com todas as pessoas carentes (risos).

É verdade que não foi o Mestre Vitalino que criou a arte de fazer peças em barro? 
Aleixo Leite – Sim. Ao contrário do que muita gente pensa, não foi ele quem criou a arte de fazer as peças de barro. Este tipo de artesanato já existia no agreste de Pernambuco, mas o grande diferencial do deus do barro foi a criatividade. Em 1937 o meu pai quando ia para a feira sempre trazia umas peças de barro para a gente, gosto de citar isso, porque o Mestre Vitalino não é o fundador do estilo, mas ele passou o sentimento para o barro. Os outros faziam uma chaleira de barro, ele fazia uma onça subindo no pau, ou um médico operando, mesmo sem nunca ter presenciado tais situações, esse foi o grande diferencial do Mestre.

Esta semana o senhor foi contemplado com a concessão pela Câmara Municipal de Caruaru da Medalha de Honra ao Mérito Rafael dos Santos Barros, concedida a pessoas que têm relevante trabalho na área da literatura. Como o senhor recebe esta homenagem?
Aleixo Leite – O requerimento do vereador Rogério Meneses foi aprovado por unanimidade por políticos da situação e oposição, que foram meus alunos. Estou satisfeito em receber tal homenagem por uma vida dedicada à arte de escrever. Eu me sinto mais feliz, principalmente porque fui amigo de Rafael Barros, uma pessoa que tinha um texto fantástico. Não esperava receber a homenagem, mas ela chega em boa hora, já que o meu último livro é uma despedida desse mundo. Estou alegre também por chegar aos 80 anos com a saúde que gozo atualmente. Se eu voltasse no tempo, faria tudo de novo, foi uma vida de situações boas e ruins, mas não me arrependo, sou uma pessoa feliz!.

 

Leia homenagem a Aleixo Leite (Leci) ,por Carlos Rabelo aqui!

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