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Homenagem a João Paraibano dia 18/10/2014 no Recife

Vários poetas e músicos promovem no dia 18 de outubro um tributo ao repentista João Paraibano, falecido em setembro passado. Recitais e shows animarão o evento,  a partir de meio dia, na Associação dos Servidores da Sudene, no Recife. O ingresso custa R$ 20,00 e todo o lucro será revertido à família de João Paraibano.

João Pereira da Luz, nasceu em Princesa Isabel, na Paraíba,  em 7 de outubro de 1953,e residia em Afogados da Ingazeira/PE. Com trinta e cinco anos de profissão e mais de quinze discos gravados, vivia exclusivamente da cantoria. Tem centenas de participações em Festivais de Cantadores com vários primeiros lugares. O poeta é chamado, no meio artístico, de “o Canário do Pajeú”.

Entre os seus discos, destacam-se: Encontro com a Poesia (com a participação dos repentistas: Valdir Teles, Sebastião da Silva e Sebastião Dias) e A Arte da Cantoria (com Ivanildo Vilanova). O  ‘embaixador do sertão’ notabilizou-se pela facilidade com que expressava poeticamente as coisas da natureza e o mundo do sertanejo, tornando-se imbatível quando a cantoria enveredava por estes dois assuntos.

É desse gigante do improviso, mestre observador das coisas sertanejas, os versos seguintes:

JESUS SALVA A POBREZA NORDESTINA,
COM TRÊS MESES DE CHUVA NO SERTÃO

Um bezerro mamando, a cauda abana;
A espuma do leite cobre o peito;
Cada estaca de cerca tem direito
A um rosário de flor de jitirana.
No impulso do vento, a chuva espana
A poeira do palco do verão;
A semente engravida e racha o chão,
Descansando dos frutos que germina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.

Quando Deus leva em conta a nossa prece,
O relâmpago clareia, o trovão geme,
Uma nuvem se forma, o vento espreme,
Pelos furos do véu, a água desce;
A campina se enfeita, a rama tece
Um tapete de folhas, sobre o chão;
Cada flor tem formato de um botão
No tecido da roupa da campina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.

No véu negro da barra, o sol se esconde;
Um caniço amolece e cai no rio;
Nos tapetes de grama do baixio,
Um tetéu dá um grito, outro responde;
A frieza da terra faz por onde
Pé de milho dar nó no esporão
E a boneca, na sombra do pendão,
Lava as tranças com gotas de neblina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.

A presença do sol é por enquanto.
Onde vinga uma fruta, a flor desprende;
Cada nuvem que a mão de Deus estende,
Cobre os ombros do céu, de canto a canto.
Camponês não precisa roubar santo,
Nem lavar mucunã pra fazer pão;
Faz cacimba na areia com a mão,
Onde o pé deixa um rastro, a água mina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.

A cabocla mulher do camponês
Caça ninho nas moitas quando chove,
Quando acha dez ovos, tira nove,
Deixa o outro servindo de indês;
As formigas de roça fazem vez
De beatas seguindo procissão;
As que vêm se desviam das que vão,
Sem mão dupla, farol e nem buzina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.
Sertanejo apelida dois garrotes,
Bota a canga nos dois e desce a serra;
Passa o dia, no campo, arando terra,
Espantando mocó pelos serrotes;
Sabiá, pra o conforto dos filhotes,
Forra o ninho com pasta de algodão;
Bebe o suco da polpa do melão,
Limpa o bico nas varas da faxina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.

Treme o gado na lama do curral,
Sopra o vento, cheirando a chão molhado;
Cada pingo de chuva, congelado,
Brilha mais do que pedra de cristal.
Uma velha, durante o temporal,
Se ajoelha, rezando uma oração,
Fecha os olhos com medo do trovão
E abre a porta, depois que a chuva afina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.

Cresce a planta, viçosa, e frutifica
Com um cacho de flor em cada galha;
Vê-se o milho mudando a cor da palha
E o telhado chorando pela bica;
A cigarra emudece, acauã fica
Sem direito a fazer lamentação;
Deus afina a corneta do carão,
Só depois de três meses, desafina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no sertão.

cartaz joão paraibano

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