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[ENTREVISTA] “Euritmia é a expressão visível do som”. Confira entrevista com Ananda Wanderley!

| Por Maria Júlia Sette |

(Entrevista publicada no Portal Flores no Ar em abril de 2019)

“A escola em que a criança dança o seu nome”. Assim são conhecidas as escolas Waldorf em diversos países da Europa. “Dançar o nome é uma das possibilidades da Euritmia”, conta-nos a euritmista pernambucana, formada no Eurythmeum Stuttgart, na Alemanha, Ananda Wanderley.

Nascida antes mesmo da Pedagogia Waldorf (1919), a Euritmia (1912) tem um lugar essencial nas escolas idealizadas por Rudolf Steiner. Deve fazer parte do currículo da educação infantil até o ensino médio. No entanto, uma série de dificuldades em viabilizar as formações impossibilitaram a presença organizada de tais movimentos no cotidiano de muitas iniciativas antroposóficas no Nordeste e em muitos lugares do Brasil.

Ananda precisou se deslocar para longe em busca de aprofundar-se nesta arte plena de sentido. 

Mas o que é afinal dançar o nome?
É tornar visível o som da palavra, realizar movimentos com a gestualidade do som. Estudamos a fundo todas as leis gramaticais, as relações do som com os planetas, com o zodíaco. Entramos em contato com a nossa origem, com o que não é material, e na Euritmia isso ganha corpo. Então, cada vogal, cada consoante tem um gesto e o mesmo é vivenciado, dançado. Não é algo para conhecer ou elaborar intelectualmente, mas para gerar um novo relacionamento com nossa essência. Movemo-nos conscientemente com essas forças. Em um mundo onde há cada vez mais desconexão, crises de identidade e falta de relacionamento com nossa essência primordial, realizar esse encontro com nossa origem é algo bastante salutar.

Há também música em nosso corpo, em nossos órgãos, em toda nossa composição, de modo que a Euritmia é a expressão visível do som, como se fosse a pele do som (música e palavra).

Como você vê o lugar que a Euritmia ocupa ao longo desses 107 anos de existência?
São cinco mil euritmistas no mundo todo. Isso não é nada. Estamos buscando encontrar o nosso lugar e ir além dos muros das escolas e instituições antroposóficas. O desafio é que a Euritmia é uma arte “jovem” e aponta para um caminho bem diferente do que se valoriza atualmente no mundo. É um nadar contra a corrente. O materialismo em si é uma ameaça aos movimentos que abarcam o que não podemos ver, ao espiritual. Nosso desafio é colocar no mundo nossa linguagem artística.

Para se ter uma ideia, os movimentos eurítmicos são alguns dos gestos realizados nas antigas escolas de mistério. As iniciações aconteciam também através do movimento. Steiner trouxe a proposta de levá-los para o palco, para que o mundo pudesse acessar.

A Euritmia tem uma força grande na Europa, de onde originou-se. Mas como podemos traduzir esta arte em nosso país, cidade, para que faça sentido e relacione-se com a alma da nossa gente?
Sim! Precisa muito ser assim. Fiz meu trabalho de conclusão de curso com um cordel. Falei de Euritmia brasileira na Europa, depois de quatro anos vivendo intensamente o alemão e toda música e cultura de lá. Foi um desafio.

Em São Paulo, onde há um movimento bem interessante, já aconteceram trabalhos lindos com trechos de obras como Grande Sertão – Veredas, Vidas Secas e textos de Clarice Lispector, por exemplo. Nosso povo é cheio de ritmo, gingado e leveza, precisamos muito aproveitar essa riqueza. Realizar pesquisas e experimentos. Tenho planos de voltar ao Brasil, futuramente, e trabalhar efetivamente nesse sentido, de fortalecer a Euritmia aqui, incluindo a nossa identidade.

A Formação em Pedagogia Waldorf em Pernambuco está crescendo e, cada dia mais, recebendo alunos de várias partes do Brasil. Há planos de ter formação em Euritmia também?
Há uma grande vontade. No entanto, esbarramos em algumas dificuldades da própria natureza do curso que exige muita disponibilidade interna e dedicação dos participantes. Para você ter uma ideia, em São Paulo, está acontecendo uma formação com um bom número de pessoas, mas passou dez anos sem conseguir ter turma. É necessário treinar muitos dias, com grande constância. É preciso de fato desenvolver nossas forças vitais e só é possível por meio de disciplina e exercícios. São quatro anos de curso, com intenso compromisso.

Como a Euritmia não é muito conhecida, também esbarramos na dificuldade em conseguir financiamento. Não podemos depender apenas dos alunos, pois há desistências ao longo da formação. Nossa ideia é iniciar oficinas, ver quantas pessoas se interessam, quantas permanecem, para formar um grupo, dar um passo seguro e iniciar a formação. No Recife, temos a euritmista Raissa Sarmento que poderá tutorar as oficinas. Há uma estrutura básica que envolve a disponibilidade de um músico, local adequado e os professores para das os módulos. É muito importante construir esse caminho aqui, beneficiar mais pessoas com a Euritmia, fazer com que experimentem. Tornar a Euritmia conhecida e ocupando o lugar que ela deve ocupar na arte, na educação e saúde!

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