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Da Série: Retratos em Relatos de Sonhos e Realidades, por Ana Araujo

ariano suassuna foto_ ana araújo
© Foto: Ana Araujo
Ariano Suassuna, Recife, 2014

O RETRATO do escritor ARIANO SUASSUNA, de minha autoria, em exposição com curadoria de Juan Esteves, Madu Dorella e Miguel Aun, no Foto em Pauta /Festival de Fotografias de Tiradentes(MG) – que acontece até hoje, 22 de março – carrega uma história curiosa que perpassa uma cena onírica. Foi feito aqui no Recife, em fevereiro de 2014, no camarim do Teatro Santa Isabel, antes de sua aula espetáculo e cinco meses antes do seu encontro com “Caetana”, expressão popular nordestina que ele usava para a morte. Quando saiu a convocatória do festival para enviar fotos que iriam concorrer para a expo “RETRATO”, lembrei logo dessa imagem dele. Mas, com o corre-corre da vida, não enviei e viajei para o meu Sertão, onde estava resolvendo muitas outras demandas. No penúltimo dia do término das inscrições, acordei em Tacaratu (região do Submédio S. Francisco/PE) com um sentimento de encantamento, mas um tanto pasmada. Era um sonho, mas foi muito lúcido e significativo. E na sabedoria do nosso povo do Sertão, sonhos devem ser considerados.

Pois bem, eu sonhei com Ariano me aparecendo com um sorriso largo e me estendendo uma belíssima e verdíssima bromélia, com uma flor encarnadíssima (vermelho “lisérgico”), em um plano de baixo para cima. Como se estivéssemos do outro lado de um muro, minha irmã Maria José, questionava: “ Mas como você pode estar vendo ele, se ele já morreu?”. Respondi: “Sim, eu sei. Mas é verdade, ele está me dando agora, de presente, essa bromélia que eu ainda não tinha no meu jardim, e ela é maravilhosa!”. Já acordada, tratei de providenciar o envio desse retrato dele para disputar a seleção do festival. Desconfiava que aquele sonho era um palpite, assim como nos jogos de azar. Portanto, a sorte estava lançada!

Em plena terça de momo, 17 de fevereiro, chegou o resultado confirmando a seleção desse retrato e não a de outros quatro, que eu também enviei. No dia seguinte, quarta-feira de cinzas, fui “bater” em Olinda, que quer dizer: Dançar frevo com amigas* no Bloco do Case. A próposito, o mestre Ariano devia ser arretado com o nome, em inglês, desse bloco “massa” – que reúne os profissionais da música – assim como implicava com o nome do nosso, outro saudoso, Chico Science. Ainda não tinha ido em Olinda, dias antes , e ele era o grande homenageado do carnaval 2015. Logo na chegada, no Carmo, avistei grandes painéis com gravuras armoriais (arte baseada em estéticas eruditas e populares, a partir do Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna, em 1974)*. E lá estava ela, a belezura de brómelia de folhagens verdes e de flor vermelha, reproduzida em um desenho de um estandarte da decoração da cidade histórica. Foi a confirmação, para mim, da simbologia marcante que permeia toda a vivência proporcionada por esse RETRATO.

Na mesma semana, precisei enviar para a organização do festival a autorização do uso de imagem. Quando voltava, da caminhada à agência dos Correios, na esquina da Rua das Creoulas com a Rua das Pernambucanas, eis que encontrei, jogados com o lixo na calçada, vários pés de bromélias arrancados do jardim do restaurante Macunaíma. Entre muitas completamente detonadas, achei uma intacta e vivíssima bromélia (Subfamília: Bromelioideae. Gênero: Nidularium sp.), a mesma que ganhava de Ariano, no sonho. Pasmada, de novo, “corri” até a rua das Graças, para plantar no meu adorado jardim, esse botânico presente junto com o desejo de que venham flores. Os amigos, mais próximos, sabem que “sou uma jardineira disfarçada de fotógrafa”, plagiando outro gigante das letras, Manoel de Barros.

Quem assistiu a aula espetáculo do inesquecível dramaturgo paraibano, radicado em Pernambuco, sabe que ganhou conhecimento e alegria. Por sorte, eu consegui na noite que fiz essa foto dele e no final do mês passado, quando a TV Senado reprisou o projeto “Arte como Missão”, também apresentado em Brasília. Nessa aula, ele falou que carregava sempre na pasta, uma caixinha com três relíquias. E mostrou cada uma delas: Um projétil da Guerra de Canudos – explicando porque esse acontecimento histórico foi fundamental na formação do povo brasileiro – e duas pedrinhas que ganhou de presente de dona Zélia, sua amada companheira de toda a vida: Uma do Rio São Francisco e a outra de TIRADENTES. Encantada com esse desdobramento, entendi que era a informação preciosa que faltava, para acabar de contar esse longo “causo” e saber o significado desse meu sonho misterioso e de tantas “sincroniCidades” envolvidas nesse RETRATO. Parece que Ariano queria mesmo era voltar à Tiradentes, pela magia da FOTOGRAFIA. No mais, “Só sei que foi assim!” como diria João Grilo, protagonista da peça “Auto da Compadecida”, A.Suassuna(1955).

* Para saber mais:
– Movimento Armorial:
“Elementos da estamparia Armorial: Motivos florais (papoulas, girassóis, hibiscos, margaridas, gérberas); frutais (caju, abacaxi, manga); folhagens (folha do cajueiro, das BROMÉLIAS e da bananeira). As estrelas, bolas, microfolhagens e microflorais.”
http://www.unicap.br/armorial/35anos/trabalhos/indumentaria_armorial.pdf

– Guerra de Canudos:
www.historia-bahia.com/canudos.htm

* “Gatas Amigas em Folia”: Adriana Borges, Cristina Moreira e Elisabete Araujo

 

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