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‘Corpo-sensorial: por um contato poético com o corpo através das sensações’

Por Alessandra Guimarães*
 alessandraguima_1@hotmail.com

Como diz Clarissa Pinkola Estés, analista junguiana, o corpo é um ser multilíngue. Fala através da sua cor e da sua temperatura, grita quando se aquece, conversa a partir das batidas do coração, dialoga ao produzir sensações, conta histórias. Há quanto tempo não dialogamos com o nosso corpo? Uma das formas de estabelecermos este contato é pelo meio da estimulação sensorial. Proporcionando a nós mesmos vivências sensoriais, encontramos prazer e autoconhecimento. O tato, a audição, o olfato, a visão e o paladar são fundamentais no processo de organização da psique, através deles o individuo conhece a si mesmo e a realidade circundante.

O corpo é morada de heranças valiosas, como o prazer. Ao o explorarmos, nos deparamos com registros de delícias por muitas vezes encobertas pela velocidade dos acontecimentos cotidianos, pelo stress, pela falta de tempo. A nossa atitude diante do nosso corpo deve ser a de uma criança que brinca: curiosa e com o olhar brilhante. Ao observarmos uma criança em plena brincadeira, percebemos a liberdade e a imaginação correndo soltas. É essa a relação de diálogo e de aproximação que devemos ter com o nosso corpo: brincar e deixar o prazer fluir espontaneamente, assim, se abrirão portas e janelas há muito tempo trancadas.

Abrindo os portais para uma relação mais profunda com o próprio corpo, percebemos que somos agentes portadores de vida, com diz o Deldon, em seu livro “Tocar: terapia do corpo e Psicologia Profunda”. É preciso despertar para a vida! Nesse sentido, ele reforça a importância de trazer a sensação de vida inscrita no corpo. Todos nós temos a impressão da vida em nosso corpo. Por meio da vivência da sensorialidade é possível reintegrar o encanto pelo corpo, restaurando-o, reestabelecendo uma comunicação corporal.

Por onde anda a comunicação corpo-a-corpo? Hoje, percebo, é mais comum encontrarmos a comunicação longe-do-corpo, já que fomos engolidos pelo constante uso de novas tecnologias, pelo medo e pelo distanciamento que as pessoas instituem entre si.

Dentro da arte, em especial nas obras de Lygia Clark, sobretudo entre 1970 – 1980, quando ela cria e utiliza os objetos relacionais, encontramos o corpo idealizado como a própria obra, já que, para a artista, o contato do corpo com a arte é condição sine qua non para a arte existir. Não há arte sem a participação do corpo do espectador! Segundo Lygia, o estado de arte é o grande protagonista da obra. Podemos dizer que o estado de arte é o resgate da sensação de vida e sua potência criadora em cada um: o resgate das formas poéticas e criativas de interação do sujeito com seu próprio corpo e com o mundo. Que tal propormos um estado de arte ao nosso corpo?

A sensorialidade autoriza o contato (com tato) com um corpo vívido, com as misturas e fluxos. Nessa proposta de nos aproximarmos das sensações, afloram memórias, inscritos escritos na pele. E se nos aproximarmos ainda mais, podemos nos deparar com uma nascente de sensações, com um manancial de vida, de vazio e de preenchimento, de renascimentos intermitentes onde o corpo é concebido como uma grande obra de arte.

*Alessandra Guimarães é Psicóloga Junguiana e Arteterapeuta, faz parte do Lumen Novum, espaço destinado à difusão da Psicologia Analítica e da Arteterapia no Recife. Em agosto estará facilitando o grupo “Corpo e Bem-Estar: revitalizando o eu”.

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