[CANTO DE LU] Dub Outonal
| Por Lu Rabelo* |
Era quarta-feira de Cinzas. 2015. Fui pro boizinho em Olinda. Naquele dia já saí de casa mêi estranha. Eu parecia um fantasma. A sensação era de morte. Encontrei Grilo e na noite toda ele era a única pessoa que eu conseguia conectar. Ele me disse: ‘vamos carnavalizar o sistema’. Fiquei pensando nas cinzas. Fui pra casa. Com medo.
Escrevi essa letra logo depois. As Cinzas me levou à Fênix, que me levou à estrela Sótis, Atlanta, Fogo, Terra, espelho, funeral.
Veio a melodia. Chamei Antônio de Hollanda (guitarra), Grilo, (baixo), Cleto Campos (percussão) e Moa Lago (samples e efeitos) e gravamos numa jam na sala do apartamento de Grilo, no Recife, pouco depois do Carnaval daquele 2015.
Nunca mais cantei ela. Nem ouvi a gravação. Fiquei com medo dessa música.
Hoje (pré Samhain no Hemisfério Sul), diante de tantas mortes pessoais e coletivas, neste Outono, 5 anos depois, tô perdendo o medo desse Dub Outonal e resolvi compartilhar.
DUB OUTONAL
Vamos carnavalizar o sistema
com as Cinzas do Carnaval
com o pó que já foi tantas cores
com o sal encharcado de nós
[si mesmo é tão intenso
momentos eternos] (voz em chinês)
Nos cinco pontos da Estrela
Sótis
Águas de Atlanta
Dourando a plumagem
Ave de Fogo
Vai, contempla
a Terra que és
o fora é espelho
Na pira Mirra, Sálvia e Canela
na boca gotas de Olíbano
Canto de funeral
pós Carnaval
no Reino da Criação
[Lu Rabelo, Quarta-feira de Cinzas, 2015]
* Lu Rabelo é cantadeira, arteterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar.