Campanha Ande Nua
Por Anaíra Mahin anaira.mahin@gmail.com
Nasci nua. Papai psicólogo reichiano, mamãe yoko ono. A nudez era comum dentro de casa, os órgãos sexuais peludos e protuberantes pelos aposentos, pela residência. Na casa dos pais a nudez nunca foi problema até chegar a pré-adolescência. Os seios começam a aparecer e você tem que se esconder, fica corcunda e se nega. Quem nunca teve aquele sonho besta de sair de casa e depois perceber que está nu e ficar morrendo de vergonha a fim de se esconder, de se enterrar? Eu já tive, mas depois passou, comecei a tirar a roupa nas festas, no calor, no protesto, nas performances, quando tava a fim, à vontade, ou quando queria morrer. Tirar a roupa passou a ser um suicídio usual, feito escrever, cantar, pintar; um tipo específico de nudez, e que sempre movimentava comentários, sempre repercutia.
Comecei a trabalhar na faculdade com emergência étnica, arte indígena, território; entendi que era esse corpo que mexia quando mexia na nudez, se tinha medo do índio, do eu-índio, o índio não era algo resolvido dentro da gente, e não era algo fácil de desnudar, de aceitar. Na legislação é a nudez um atentado ao pudor, um crime. A sociedade se ofende consigo, não se aceita, precisa do fetiche. A obrigatoriedade da roupa fere o direito, a liberdade de expressão e a beleza. A nudez não é mal nem pecado, mas socialmente passa a ser, é um forte complexo social e individual que tem que ser trabalhado, com arte, amor e compaixão.
A campanha nasceu casualmente como uma filha mulher, quando em 2007 pintei uma camiseta azul celeste para mim mesma. O desenho era de uma pessoa fêmea, feliz, acenando e caminhando nua; ao seu lado a mensagem escrita: ANDE NUA. Eu era acostumada a pintar minhas próprias camisas com os temas mais variados, mas esse chegou polêmico cômico, quando fui sair de casa minha tia me repreendeu: “você vai ser estuprada”, ela disse. Que coisa, era apenas uma camisa, uma camisa bem composta até, de manguinhas e botões, fiquei achando uma viagem ela me repreender por causa da tal camisa e achei que era coisa só dela, mas ao sair na rua vieram olhares e outros comentários. Gentes loucas. Claro que eu não era inocente quanto ao fato de quão tabu era a nudez na nossa sociedade, mas não imaginava que chegasse a tal ponto a abstração. Eu estava vestida, bem vestida, mas a mensagem incitava algo, e esse algo era a própria contradição que acabei achando ótimo que incitasse. Foi excitante, vieram mil outras reflexões, quais antes não faziam parte das pretensões, não pretendia polêmica, era uma brincância, uma camisa, uma tentativa estética, mas essa brincância acordava complexos mais amplos que a campanha agora tinha que arcar. Comecei a fazer mais camisas do tipo, figuras variadas e a nudez do meu traço, e fui vendendo e dando, umas eu fotografei, outras se foram sem registro, mas a proposta continua acesa, viva, acontecendo.
Interessados em adquirir camisetas Ande Nua podem entrar em contato com Anaíra pelo e-mail:
anaira.mahin@gmail.com
ou pelos telefones: 9511.4103 (tim)/ 8576.9111 (oi)
Os preços variam entre R$ 30,00 e R$ 60,00.
Confira abaixo algumas camisetas Ande Nua!
EU AMEI!!!
E GOSTARIA DE COMPRAR UMA PARA MIM.
AGUARDO.
Linda.