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[ARTIGO] ‘O isolamento está levando a gente pra dentro’

| Por Carla de Paula Campos* |

Esse texto é sobre carinho.

O isolamento tá levando a gente pra outro lugar. Um lugar muito especial, no entanto, doloroso: pra dentro. Pra quem dá esse passo, o que se vê pode não ser tão bonito. Na cultura ocidental esse exercício é pouco cultivado, principalmente na era dos estímulos, a era do consumismo e redes sociais. Aguentar a própria presença por muito tempo pode ser chato, tedioso, ansioso, triste e revoltante.

Mas quero falar sobre não perder a oportunidade de dar esse passo – e de não esquecer do carinho, que falaremos mais adiante. Um grande problema que afeta nesse momento é a dificuldade com a autodisciplina, por exemplo. É comum se ter problemas com autoridade – isso muito se deve às relações pouco pedagógicas que nossos pais tiveram conosco. Porém, na mesma medida, temos um montão de problemas com a autodisciplina (que é ser autoridade de si mesmo).

Deparar-se com essa incompetência é muito doloroso. Conviver com distúrbios de alimentação ou sono, vícios, procrastinação, perfeccionismo, imediatismo, inoperância, carências é uma bosta, vamos ser sinceros. Não há ninguém que lide com alegria no momento singular desse autoencontro com a sombra. É chato, gente. Mas, antes de falar sobre carinho, quero dizer: você não é o único que carrega essas e outras incompetências. Ser incompetente com a solitude é um traço da nossa cultura.

E o mais importante é, nesse momento chave, tratar-se com carinho. Eu ando vivenciando processos de autoconhecimento com essa introspecção quase forçada do momento. Houve instantes dolorosos, mas eu experimentei no auge da agonia dizer pra mim mesma (eu disse em voz alta mesmo) que eu tivesse calma e que eu me entendia por motivo tal (a raiz daquele comportamento/sentimento). Se você sabe a raiz, ótimo, cite ela e diga a si mesmo que está liberando-a aos poucos, peça paciência. Diga que está tendo paciência.

Aliás, dar esses passos para a raiz já é um grande passo. Se você não deu, é bom dar (rs). Em qualquer dos casos, identificando raiz ou superfície, trate-se com carinho. No livro “Autocompaixão” de Kristin Neff, ela cita alguns exercícios. Ela prova, inclusive, como a autocrítica pode facilmente ser, na verdade, um grande sintoma de autopunição. Mas o exercício básico pode ser falar com você mesmo em atitude cuidadosa.

Tem gente que funciona muito bem indo pro corpo. Eu estou experimentando chorar por coisas que normalmente não me faziam chorar. Chorar é dar vazão pelo corpo. Com menos aceleração no cotidiano, a percepção das emoções está mais forte e eu não estou desperdiçando nenhuma oportunidade de chorar. Pra muita gente chorar traz liberação. Chorar tem sido uma atitude de carinho comigo mesma.

É muito sutil e particular perceber o que te dá carinho nesses momentos. Pra pessoas que se cobram muito, a autocrítica não vai adiantar em absolutamente nada quando se está fragilizada, só vai aumentar a dor. Perceba que agora é você com você mesmo, então meça as palavras e gestos que terá consigo. Tem gente que pode elevar sua vibração habituando-se a fazer uma oração na hora da agonia. Tem gente que precisa meditar, outras ficarão mais frustradas com a tentativa da meditação, então é melhor escutar uma boa música.

O que quero que vocês memorizem é tratar-se com carinho no auge da dor. Você já está se percebendo incompetente em alguma área, ok, você não está fugindo da sua sombra. O próximo passo, agora, é se autoacolher. Tenha certeza de que essa atitude é a melhor via para reduzir a permanência no erro, e não o contrário. Você tem uma forma de tratar-se com carinho nesses momentos? Escreve aqui nos comentários, pode ajudar a mim e outras pessoas.

*Carla de Paula Campos é terapeuta de Constelação Familiar Sistêmica e de florais e mestranda em Educação Emocional pela UFPE. Também atua como educadora social e atende no Espaço Circular, no Recife.
Instagram: carladepaulaconstelacao

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