[ARTIGO] I-Ching: um oráculo moderno ou um antigo livro de adivinhações?
| Por João Carlos Paretti |*
O ato de consultar um oráculo sempre foi uma necessidade humana, há milhares de anos. A questão é: funciona? Muitos entendem que se trata de crendice e que não tem fundamento científico. Outros sabem que funciona, por experiência própria. Vamos procurar esclarecer do que se trata o oráculo I-Ching e como pode funcionar.
Carl Gustav Jung estabeleceu o conceito de sincronicidade, a partir de décadas de pesquisa e uso do I-Ching (vide prefácio de Jung no livro ‘O livro das mutações’, escrito por Richard Wilhelm). O termo Sincronicidade, antes entendido como Causalidade (espaço e tempo absolutos), passa, a partir de Jung, a ser entendido como: causa e efeito não necessariamente seguem uma linha no tempo e no espaço de forma cartesiana.
Um clássico exemplo é o caso de um paciente de Jung que, por mais que se fizesse, não conseguia sair de um determinado estado de ânimo. Naquele dia, o paciente lhe contava que havia sonhado com um escaravelho dourado e nesse exato momento ouviu-se um zumbido na janela, onde Jung se dirigiu e coletou um escaravelho dourado (raro naquela região) entregando-o ao paciente e dizendo: – “Eis aqui teu escaravelho.” A partir desse acontecimento (sincronicidade), o paciente evoluiu em seu processo.
Quem já não passou por algo onde causa e efeito fogem da regra estabelecida? Estar pensando em (ou ter sonhado com) alguém que não se falava há muito tempo e esse alguém entra em contato naquele dia ou até mesmo naquele momento é comum e pode ser entendido como sincronicidade. Tenho certeza que você experimentou vários acontecimentos desse tipo.
A Física Moderna começa a se aproximar de uma possível explicação para o fenômeno. Já utilizamos em nosso dia a dia o conceito de espaço e tempo relativos, por ex.: a utilização do GPS só é possível graças a algoritmos que levam em conta essa relatividade demonstrada por Einstein. (vide google ´GPS e relatividade`).
Nas palavras de Fritjof Capra, em seu livro ‘O Tao da Fisica’, “na Física Moderna, o universo é, pois, experimentado como um todo dinâmico e inseparável, que sempre inclui o observador, num sentido essencial. Nessa experiência, os conceitos tradicionais de espaço e tempo, de objetos isolados, de causa e efeito perdem seu significado.”
O I-Ching funciona como um oráculo de consulta que se utiliza da sincronicidade, desde que seja executado e interpretado corretamente. A edição 235 (Jan/2007) da revista Super Interessante conta a história de que certa vez Jung tratava um jovem com complexo de Édipo que pretendia casar com uma mulher que lhe lembrava profundamente a própria mãe. Ao consultar o I-Ching saiu o hexagrama ’44 Vir ao encontro’, que diz: “A jovem é poderosa. Não se deve desposá-la.”
Como explicar, de forma cartesiana, que ao jogar as moedas ou as varetas o hexagrama resultante (entre os 64 disponíveis) lhe trará uma resposta pertinente ao assunto? Seria uma interpretação forçada? Adivinhação? As respostas para essas questões só são possíveis pela experiência de cada um. Aqui é importante deixar claro que o oráculo não se propõe a dar a resposta para o desejo do ego, mas sim para o melhor caminho a se tomar naquele momento, referente ao desenvolvimento humano-espiritual (nas palavras de Jung, “ao processo de individuação”). Assim, o I-Ching não é apenas um oráculo, mas sim um livro de sabedoria.
‘I-Ching o livro das mutações’, considerado o livro mais antigo já escrito, tem sua origem na China a 5.000 anos atrás. Como o livro diz, tudo é mutável e em constante transformação, inclusive ele mesmo que já foi guia para governos (época de Confúcio) e quase foi destruído em outros (onde Mao Tse-Tung mandou queimar todos os exemplares existentes). Os ciclos entre: o em cima e o embaixo, Yang e Yin, positivo e negativo, etc., se renovam constantemente, e como em nossas vidas isso poderia ser diferente? Então por que não experimentar o que esse livro tem a nos dizer?!
* João Carlos Paretti é facilitador Didata em Biodança, consultor de I-Ching e terapeuta Junguiano
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