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‘A beleza do masculino: endurecer sem perder a ternura’

Por Luiz Marcelo Oliveira*
 (luizmbdo@gmail.com)

Falar hoje sobre energia masculina se tornou uma ousadia. Dá arrepios em boa parte das mulheres que carrega a memória dos abusos e crimes cometidos a suas avós. Isso é totalmente compreensível. Aliás, o homem contemporâneo parece sentir culpa por seus ancestrais violentos. Não foi ele quem estuprou mulheres na Índia, apedrejou Madalena, queimou bruxas ou sangrou cabarés. Mas foram seus antigos vovôs tão presentes em sua alma.

O machismo, o patriarcado e a brutalidade são apenas o lado sombrio do masculino. Há na energia yang uma beleza e uma força tão necessárias à vida quanto na energia feminina. No início da existência, por exemplo, o pai se encarrega de apresentar o filho ao mundo depois que ele se nutriu no colo delicioso e apaixonante da mãe. A energia masculina favorece autonomia, decisão, ordem, lei, hierarquia, compreensão do dar e receber e dignidade para assumir as conseqüências dos nossos atos. É linda. Introduz os filhos nas leis da terra. Não tem a aura encantada do afeto e da ternura maternas. A beleza, a mística e o êxtase do colo absoluto. Mas serve o propósito assim. Masculino e feminino se reconhecem como um par de bailarinos.

Desconsiderar a importância do masculino, julgando-o pelos excessos da história, é mutilar a alma. Não se alcança a liberdade e a plenitude jogando o pai pela janela, desprezando sua função. Tampouco destronando o rei. O poder masculino é tão necessário quanto o poder feminino embora ambos se expressem de modo distinto. Uma sociedade que glorifica a mãe em detrimento do pai atrofia os meninos. É tão perversa quanto a que humilha as mulheres, ignorando-as rainhas sábias e sagazes. Carinho, amor, beleza, compreensão, criatividade precisam andar de mãos dadas com clareza, objetividade, justiça e honra. Claro, há também as sombras de cada aspecto. Porém, yin e yang não são rivais e sim amantes.

Tenho ouvido muitas mulheres se queixando da falta de iniciativa dos parceiros. Da passividade. Estão cansadas de fazer tudo. Os papéis ficaram misturados demais. Se o homem bruto era cruel, o homem culpado ficou omisso e reticente. Pede licença demais. Tornou-se flácido e vacilante. Nada atraente. Tem medo de se expor e conduzir. Porque conduzir é errar e ser finito. Ora, há momentos em que o homem conduz e há aqueles em que a mulher conduz. Iniciativa e sedução. É simples.

Porém, o coração precisa estar aberto. Para compreender, sem drama ou falso perdão, o peso dos relacionamentos violados, a culpa e o ressentimento, os jogos de vingança. Não apontar o dedo para vovôs dominadores e vovós submissas, desonrando nossa origem. Sem eles jamais estaríamos aqui. Isso não significa que precisamos segui-los, repetindo seus destinos. Pedir a benção é mais sábio e nos abre para o novo. Talvez eles nos sussurrem caminhos inéditos para o casamento feliz. Talvez nos contem segredos de amor que nos guardaram de herança. E assim quem sabe fiquemos realmente livres para amar. Além de todos os modismos e sectarismos. Ao som de um tango.

* Luiz Marcelo Oliveira é psicólogo e facilitador de grupos

7 Comments

  • Nunca pensei nisso (ancestrais & culpas). Mas achei super interessante!! E tem sentido mesmo. Parabéns pelo texto

  • Somos complementares! Gostei muito do texto. Abraço!

  • Parece ate que o homem, tadinho, é marginalizado.

    Eu vejo que tens pretensão em escrever um texto que não violente ou exclua o feminino, as mulheres, mas tu não foi bem sucedido.
    Usar palavras bonitas e fazer alegorias não torna o texto mais bonito, certo ou revolucionário.
    Primeiro porque ignora que a violência em todos os seus âmbitos ainda é praticada hoje, nesse “mundo moderno”. E segundo porque coloca os todos os homens como seres comportados, ótimos, feministas, entendedores da libertação da mulher, coisa que não é. Vivemos numa sociedade extremamente machista! Homens ainda estupram! Ainda violentam suas esposas, namoradas, filhas, sobrinhas…! Ainda há violência verbal, moral, psicologica, etc. Dizer que os homens de hoje talvez sintam a necessidade de pedir desculpas pelo passado, mas que não deveriam se culpar é muita lorota! São favorecidos dia e noite pelo patriarcado, queira ou não, o fato é que é! E se ainda vivem assim, mas sabem que é errado, ótimo, aja melhor, não é pedir desculpas, mas sim viver em harmonia com o feminino, tratando-a como humanamente e socialmente igual.

  • Achei muito interessante, pois trás uma visão nova de pensar o masculino. Não podemos negar os fatos, mas podemos compreendê-los e criar novas possibilidades para mudar.

  • Oi, gente! agradeço os comentários! Acho que é através do diálogo que podemos chegar num lugar novo.
    Em relação ao comentário de Alana, concordo em muitos pontos. Quando escrevemos um texto abordamos apenas um aspecto. Esta é uma limitação de qualquer fala. Por isso, a fala do outro é tão importante! Sei que a violência (de ordem física, verbal, etc) contra a mulher infelizmente ainda está muito longe acabar. E tampouco acredito que os homens são tadinhos ou vítimas. Por outro lado, sei também que há muitos homens íntegros e buscadores, que procuram maneiras de amar mais e melhor. Trago uma das muitas vozes masculinas possíveis, que deseja fazer amor e construir algo mais amplo junto ao feminino sem, no entanto, romantizar demais as relações. Tudo isso é um longo processo onde passamos por muitas feridas e ressentimentos. Por isso acredito no diálogo entre muitas vozes, como este que está havendo aqui. Me parece que precisamos primeiro expor nossos verdadeiros sentimentos para enfim cuidarmos deles. Atendo muitos homens e mulheres, e escuto o quanto ambos sofrem a seu modo. São seres humanos. E isso nos liga para além de qualquer gênero. Em resumo, parece que estamos buscando a mesma coisa: “viver em harmonia”. Mas ainda estamos aprendendo como fazer. Há uma boa estrada por caminhar…

  • Luiz Marcelo, gostei muito do texto! Porem gostaria de entender mais sobre alguns pontos: me pareceu que “Carinho, amor, beleza, compreensão, criatividade” são pontos ligados apenas ao feminino, e a “clareza, objetividade, justiça e honra” apenas ao masculino, limitando essas qualidades ao gênero..

  • tem razão, leonardo!
    todas essas qualidades atuam tanto no masculino como no feminino. Acrescentando ainda que masculino e feminino fazem parte de homens e mulheres. Com o objetivo didático, porém, podemos considerar que o masculino se expressa de um modo diferente do feminino. Nenhum dos dois é melhor ou está acima. Trata-se apenas de uma energia diferente ou uma maneira de expressar complementar como acontece na dança.

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