[CONTOS] ‘Transgressão e prazer’
Por Lúcia Carvalho
A transgressão das normas sociais sempre fascinou Ana. Tinha enorme curiosidade em conhecer a história das prostitutas da sua cidade e admirava os boêmios que varavam a noite, cantando e jogando conversa fora.
Mas Ana, moça “de família” e, ainda, do interior, não podia participar desses prazeres. Até a
curiosidade que ela tinha pelas prostitutas era vista com muita cautela pela família. Será que essa menina tem tendências para essa vida? Ana podia ler o questionamento nos olhos assustados da irmã.
Efetivamente, Ana estava fadada a ser certinha: estudar, casar e ter filhos. E assim ela o fez!
Casou, teve filhos! Mas continuou sonhando – porque sem sonhos fica difícil viver.
Seu marido era um bom homem. Caixeiro-viajante era a sua profissão. Só aos domingos retornava para casa. Cumpria com todas as obrigações do lar e de marido também. Gostava de Ana. Gostava muito!
Ana gostava de flores, de cuidar do jardim da sua casa. Mas havia muito capim e era preciso contratar um jardineiro. Ela o fez. Duas vezes por semana o jardineiro ia à sua casa. Arrancava os capins, cuidava da grama, das flores e cantava, cantava…
Ana começou a prestar atenção nele. Era forte, moreno, bronzeado. E possuía um estranho brilho no olhar. Convidado por ela para jantar, aceitou. Sabia servir-se à mesa, entendia de vinhos, de música, de literatura e, sobretudo, entendia de vida.
Falava com naturalidade sobre temas que a maioria das pessoas via com preconceito e pavor.
Ana estava encantada! E o convidou para um 2º e um 3º jantar.
Aconteceu! E ela resgatou todos os sonhos não vividos e a fêmea que nunca havia podido ser!