Poeta Lara se encantou
E mais um poeta pernambucano foi-se da Terra. Lara era conhecido não só no meio literário, como também por sua atuação nas lutas sociais. Foi um dos incentivadores da criação da Rádio Livre-Se, nos princípios dos anos 2000.
José Luís Miranda nasceu em 01/12/60, no município de Bom Conselho/PE. Residia no Recife desde meados de 1979. Participou, informalmente, do Movimento de Escritores Independentes em Pernambuco (MEI-PE). Foi escritor, recitador e participou de inúmeros recitais desde o início da década de 80. Era técnico administrativo aposentado da UFPE, tendo atuado por muitos anos no Departamento de Ciência da Informação.
Em entrevista concedida ao site ‘Domingo com Poesia’, em 2020, Lara reponde:
O que nos ensina a poesia?
“A poesia é mais ‘saborosa’ que a prosa. Por conta, principalmente, de estar impregnada de ritmo, métrica, harmonia, rima, melodia, etc. Tudo isso pode atuar como alguma espécie de “isca” para pré-adolescentes desenvolverem o gosto pela leitura. Começarem a sentir um “sabor” no ato de ler. Daí então é que vem a enorme importância de usar a poesia em sala de aula. E tem também a parte mais especificamente “existencial”, onde, desde a antiguidade, os poetas, na maioria dos casos, estiveram sempre na contramão da postura “pan-racional” de uma visão-de-mundo “proto-cartesiana”, por assim dizer. Orfeu e Dionísio contra Aristóteles e Comte.”
Na sua visão, qual seria a função social do poeta?
“ A função do poeta é uma função dupla: sintática e “ideológica”. Fonética e sintaxe. Arte e sociedade. Estética e política… econômica. Mas a poética politizada ainda é um tabu para a mente ocidentalesca tupiniquim do “aqui-e-agora”: vampiresca e “neocon”. Ginsberg ainda é um “papa-figo” para o patriarcado sertanejo d’antanho.”
Algumas das obras do poeta Lara podem ser baixadas e compartilhadas gratuitamente através do endereço: tinyurl.com/5yvysuxn
São elas:
– “Contos Sorumbáticos, Desvarios Poéticos e mais Prosa Confenssional”
– “Seleta da Literatura Visceral de Lara”
– “Lixão” (raspando o tacho)
– “Boi de Piranha” (crônicas)
Abaixo, um poema de Lara:
PATÉTICO
Só sei que
analistas e gurus
tentaram,
em vão,
curar-me.
Passei,
então,
a garimpar
raras rimas internas
para dedicar-te.
Como esquecer-te
no abandono
dessa escuridão?
Bem que me avisaram:
“o amor é maior
que a filosofia”.
Agora, ensandecido,
imploro
migalhas de ti
que desmoronaram
patéticas
em mim,
louco,
mais uma vez,
louco
(mais um – dirão).
Hoje percorro
ruas de sombras
sem fim…
e volto
à velha
e trôpega
ancestral
solidão.
O que direi
dos erros de macho
que exerci?
Que arrependimentos
assinarei
aos teu pés?
Que consolos
me restarão,
sem ti,
nestas noites
insones?
Em vão
apelo a
capengas muletas
espirituais.
Mas nada
substitui
teus sais.