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[SABEDORIA DE BRUXA] O Sacerdócio da Bruxa

| Por Lira de Apolo* |

Com este post inicio a coluna SABEDORIA DE BRUXA, que passo a publicar mensalmente no Portal Flores no Ar. Na qualidade de Sacerdotisa Wiccan, prestes a completar 20 anos de Sacerdócio (completarei em 2024), venho compartilhar com você leitora (uso o feminino como universal) a Sabedoria das Sacerdotisas do Feminino Sagrado.

A coluna faz parte das ações de comemoração desses 20 anos, que começam agora e seguirão pelo resto de 2023 e por todo 2024. Falarei mais sobre essas comemorações em posts próprios. Hoje quero falar sobre a qualidade dessa Sabedoria do Feminino e sobre o seu Sacerdócio.

A sabedoria do Feminino é a Sabedoria do Mistério, de penetrar naquilo que está oculto, guardado no útero. Seja no ventre da mulher, da Terra, do Universo, da Alma. Penetrar nesse útero, que é um caldeirão de segredo, envolve uma dissolução das certezas do ego. Para deixar o reino do consciente em segurança se faz necessária a rede de proteção do Sistema iniciático. Através da iniciação as energias e Sabedoria das bruxas que vieram antes de nós e nossas Deusas, ou seja, nossa ancestralidade, nos protege e nos guia.

Uma bruxa experiente e bem treinada domina o diálogo com seu inconsciente, domina sua kundalini, dialoga mediunicamente com seres diversos, desde o elemental até as consciências cósmicas criadoras de universos. Somos ativamente parte da Teia dos Seres Sencientes e podemos traduzir as vozes dos seres que você, leitora, talvez não seja capaz de escutar!

Essa escuta é dramaticamente importante agora que estamos colocando em perigo a vida no planeta e recebendo o retorno por isso. Essa coluna é parte da minha contribuição para a mudança de paradigma necessária para que possamos novamente nos harmonizar com a Teia. Comecemos por explicar melhor sobre o que é ser bruxa e um pouco de como tenho exercido esse Sacerdócio.

Nos últimos três meses estive divulgando intensamente meus trabalhos aqui no Flores no Ar. Divulguei meu trabalho de Arte do Amor , as Terapias Alquímicas, meu livro Sacerdotisa do Amor. Meus trabalhos são muitos e diversos e sinto necessidade de amarrar melhor tudo o que te apresentei sobre mim, cara leitora.

Meu Sacerdócio como Bruxa Wiccan permeia e dá significado a tudo que faço. Até meu nome, Lira, me foi dado pelo Deus Apolo, no meu ritual de iniciação. A Lira é um instrumento dado por Apolo e pelas musas a mortais para que desenvolvam o dom da profecia, ou seja, de se tornar a voz, a música do Divino que semeia a paz e distribui sabedoria. Fazer-me Lira e voz do Divino tem sido meu sacerdócio. Sacerdócio que estando próximo de completar 20 anos (iniciei-me em 2004) já atingiu uma maioridade própria.

A bruxa é um importante arquétipo de poder do feminino, então é importante que o entendamos bem. Por isso lhe pergunto, leitora, acaso você sabe bem o que significa ser bruxa? Hoje caiu no senso comum chamarmos bruxa praticamente a qualquer mulher que trabalha com ervas ou terapias e vemos muitas psicólogas e terapeutas conduzindo trabalhos criados por sacerdotisas pagãs, bruxas ou xamãs, como os círculos de mulheres.

No entanto Bruxaria é uma religião com história, tradições e ritualística próprias, e com exigências para que se possa ser membro. Existe, por exemplo, a Bruxaria Gardneriana (a primeira a ser divulgada), Bruxaria Alexandrina, Bruxaria Diânica, Bruxaria Streghe, Bruxaria Faery, Bruxaria Reclaiming, Bruxaria Familiar, Bruxaria Natural etc etc … Bruxa é a sacerdotisa dessa religião, que deve possuir no mínimo um ano e um dia de dedicação ritual intensa antes de assumir seu sacerdócio em um ritual de iniciação. E ainda não está pronta para guiar outras pessoas em rituais logo após este rito de iniciação.

Haverá um processo de aprendizado e amadurecimento antes que a comunidade e as Divindades a considerem apta a ensinar e conduzir outres, ocasião em que passa a ter o título de elder, ou seja, mais velha. Em geral esse processo leva cerca de sete anos, no mínimo, variando muito de tradição para tradição, e conta mais o aprendizado do que o tempo. Há tradições que reconhecem a possibilidade de auto iniciação, porque a Deusa ensina, outras não. A maioria des bruxes de hoje em dia somos autoiniciades (há bruxes de todes es gêneros) porque há pouquíssimos covens (grupos de bruxas que celebram juntas e concedem iniciação) e muitas pessoas que ouviram o chamado da Deusa.

Como se apreende do parágrafo acima, nossa Divindade maior é feminina e, diferente das religiões monoteístas, Ela nos responde, nos guia, nos ensina e educa, e bota para fora da egrégora sem dó nem piedade quem não estiver disposte a trabalhar as próprias sombras com seriedade. Uma bruxa, bruxo ou bruxe é alguém que tem obrigatoriamente que viver em um processo alquímico de transformação e crescimento constante! E em constante contemplação dos processos de vida-morte-vida que movem a existência.

Obviamente nem todos têm desejo ou capacidade de viver dessa forma, sempre dançando na corda bamba da consciência, confrontando seus medos e tendo o tapete da zona de conforto puxado de debaixo dos pés. É necessário extremos de amor pela liberdade, uma honestidade radical e uma coragem maior ainda! É claro que as compensações em termos de capacidade de criação consciente são incríveis, mas é de uma responsabilidade gigante! As capacidades mágicas que desenvolvemos se destinam a criar mudanças sociais para melhor. Bruxas são ativistas. A maioria de nós somos feministas, ecologistas e anticapitalistas.

Os círculos de mulheres surgem nesse contexto, para partilhar esse empoderamento com mulheres que não são bruxas nem querem vir a bancar tudo isso! Uma ferramenta feminista de fortalecimento mútuo e transformação social conduzida por Sacerdotisas para mulheres que não são Sacerdotisas. O primeiro círculo de mulheres do estado de Pernambuco foi conduzido por mim e por Kalinne Ribeiro em parceria, eu trazendo a visão da Bruxaria e ela a do Xamanismo. Isso ocorreu no antigo sítio Bicho do Mato que pertencia a Kalinne, na zona rural de Olinda/PE, entre 2009 e 2010.

Também foi no Bicho do Mato que a Caravana Arco-íris por La Paz se hospedou nesse mesmo período, e foi para conhecê-la que eu cheguei até lá. Era um grupo de artistas, ecologistas e anarquistas que viajava pelo mundo promovendo trocas de saberes libertários. Também foi lá onde também foi dado o primeiro curso de Design em Permacultura em Pernambuco (início da minha caminhada em Agroecologia e Permacultura).

Havia uma sacerdotisa do Xamanismo na Caravana e com ela eu conduzi o Círculo de Mulheres da Aldeia da Paz, no Fórum Social Mundial, em Belém, no ano de 2009. A Aldeia da Paz foi inesquecível! Éramos 500 pessoas acampadas no campus da UFPA, e quando desmontamos acampamento no último dia não havia um único papel de bala no chão, zero impacto ambiental negativo. Tudo isso organizado por decisões tomadas em consenso através da técnica do bastão da palavra. Se não o tivesse vivido não acreditaria.

Empoderadas por esta experiência, Kalinne e eu criamos o Círculo de Mulheres no Bicho do Mato. E depois trabalhos individuais nesse sentido. Mulheres que aprenderam conosco também se empoderaram de seus caminhos espirituais e passaram a conduzir círculos próprios. Esses trabalhos são ferramentas de transformação pessoal e social que nós sacerdotisas criamos e nutrimos.

Mas esse termo, círculo de mulheres, acabou apropriado por mulheres com outro tipo de formação, psicólogas e terapeutas e que veem as nossas Deusas apenas como arquétipos. Ou até mesmo como Deusas em alguns casos, mas que não passaram por todo esse processo de preparação. Eu me acautelaria.

Este artigo, no entanto, não visa criticar o trabalho alheio. Visa ajudar pessoas a compreender o que desejam e o que podem obter mediante o que estão dispostas a dar. Tudo no universo é troca, leitora, então se você se desafia pouco haverá pouco resultado! Se você se desafia muito poderá aprender a conquistar muito. Você e seu crescimento pessoal são a matéria-prima de sua capacidade magnética, presente ou ausente, de atração de bênçãos.

A bruxa trabalha em fazer sua capacidade magnética de criar realidades positivas chegar ao nível do (que parece) milagre. A pessoa que vai a um círculo de mulheres autêntico conduzido por uma Sacerdotisa se dá por satisfeita com o bem viver. Não sei com o que se dá por satisfeito alguém que frequenta trabalhos terapêuticos que não visam transformação social; imagino que seja com este mundo que está posto e com todo o sofrimento que existe nele.

E aqui chegamos ao ponto crucial deste texto. Uma “bruxa” que não está ativamente se empenhando em provocar transformação social pode ser tudo menos uma bruxa! É preciso que se respeite o sacerdócio, empenho e dedicação alheios. Bem como é preciso que se respeite toda a história que nós elders trazemos conosco.

Respeito à figura do mais velho que traz a sabedoria é um conceito fundamental no paganismo. Paganismo é o nome que se dá às religiões que consideram a natureza como sagrada e a Divindade como imanente (presente, parte de) à natureza. No paganismo, a elder toma a posição de ancestral ainda em vida e é guardiane da força da egrégora e da sabedoria. Não esperamos que nossas elders e mulheres sábias passem para o outro lado para serem reconhecidas. Nós as ouvimos e respeitamos.

Quem não respeita seus antigos não tem história e quem não sabe sua história não pode ser livre. Entendam que existem fortes razões para que nos tenham querido queimar. Não nos diminuam a todas dizendo que não foram bruxas a queimar, mas mulheres! Sim, a liberdade de todas as mulheres foi cassada, mas nós bruxas somos sim particularmente perigosas para os caçadores de liberdades. A sacerdotisa da bruxaria é uma guardiã e promotora das liberdades de todes, não apenas dela própria!

 

*Lira de Apolo é sacerdotisa Wiccan desde 2004. É canalizadora de Arte do Amor, apômetra, arteterapeuta, terapeuta de Frequências de Brilho, Reiki Master, condutora de Círculos de Mulheres, facilitadora dos trabalhos de Sexualidade Sagrada, Consagração do Ventre e do Falo.

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