[ZÉ DE JOANA] Sobre o poder da Palavra

Por Lu Rabelo*

Sobre o Poder da Palavra, painho me contou uma história, que me emociona.

Lá pros idos dos anos 50 do século XX, em Santa Maria (Tupanaci), vilarejo do município de Mirandiba no sertão pernambucano, às margens do Pajeú, painho tinha uma vendinha (espécie de mercadinho). Certa vez apareceu um senhor precisando comprar uns alimentos, mas não tinha dinheiro. Pediu a painho pra levar a mercadoria, e pagar quando pudesse.

Passaram-se os anos. Após terminar o ginásio no Cônego Torres, em Serra Talhada (ginásio que ele ajudou a criar), com mais de 20 anos, painho veio pro Recife trabalhar e estudar. Ele contava que quando saía do colégio (Ginásio Pernambucano), passava numa padaria e comia meio pão francês com queijo do reino e café com leite (“era o que o dinheiro dava”), e ia pra Casa do Estudante, estudar. Passou no concurso do Banco do Brasil, entre os primeiros colocados.

Perto dos 30 anos de idade, logo após passar no concurso, casou com mainha e moraram em Garanhuns, Caruaru, Limoeiro e Brasília, percurso que painho foi trilhando até chegar a chefe de gabinete do presidente do banco, cargo mais alto da carreira do Banco do Brasil. Foi também diretor de Crédito Rural do Bandepe.

Já aposentado, no Recife, no início do século XXI, o interfone do apartamento de painho toca e é um homem querendo falar com ele. Era o filho daquele senhor do começo dessa história, que havia vindo pagar a antiga dívida do pai. Antes de falecer, o tal senhor pediu ao filho pra procurar painho, agradecer e pagar o que devia.

Painho contou que o valor era o equivalente a no máximo uns 100 reais hoje. Ele disse ao rapaz que não precisava. Mas aceitou, pra também honrar o acordo.

[Foto no meu aniversário em 2016, quando eu tinha a careca do meu veínho pra cheirar.]

*Lu Rabelo é filha de Zé de Joana, cantadeira, arteterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar.