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[SEXO, AMOR E TERAPIA] “Seja homem!”

Foto: Acervo Pessoal/ Airton Santos

| Por Airton Santos (Avadhyan Prem)* |

Pensando no tema que poderia trazer para vocês, lembrei de algumas memórias de minha infância, no fim da década de 1980, onde vivi alguns episódios ilustrativos de como deveria ser homem nessa sociedade. Tive, por exemplo, que jogar futebol, mesmo não gostando do esporte; de levar uma ‘surra por chegar em casa apanhado’ após uma briga, mesmo abominando qualquer tipo de violência. Era comum na época tecer comentários sobre os corpos femininos seminus exibidos nos programas de auditório. Era chamado para ver a cena, e comentar como a mulher era gostosa fazia de mim um membro do grupo. Todo esse ritual significava que eu era homem como todos que se comportavam desse modo.

Confesso sem muito orgulho que até pouco mais de vinte anos era um típico ‘Exemplar da Espécie’: machista, homofóbico, misógino, agressivo, mulherengo. Não importava se essas práticas me agradavam ou não. O importante era ser aceito nos padrões culturais que me tornassem parte da ‘matilha’, ou mais: queria ser o ‘macho alfa’ entre os lobos. Porém, não observava a dor que todas essas coisas plantavam dentro de mim e cresciam como uma erva daninha. É claro que não podia admitir ou externar sem que fosse prontamente questionado sobre minha orientação sexual, e meu choro era ativamente castrado, afinal… “homem não chora.”

Hoje me pergunto quantas vezes essa ‘masculinidade frágil’ me impediu de ser ou fazer o que realmente gostaria de fazer e viver no mundo, e o quanto isso castra tantos e tantos homens? Afinal, o que diabos é essa tal ‘masculinidade frágil’?

‘Masculinidade frágil’ é todo sentimento negativo que um homem tem quando acredita que está se afastando do que a sociedade considera padrões de masculinidade, o que resulta em atitudes regressivas socialmente, que reforçam o domínio do homem sobre a mulher, a desvalorização da mulher, a rejeição de homoafetivos e violência com todos os diferentes. Enfim, a ‘masculinidade frágil’ foca em ações que negam o feminino, gerando uma eterna urgência no homem em se provar homem.

Mentiras como “homem não chora”, “homem não usa rosa”, “homem não expressa sentimentos”, e outras ainda, são muito comuns, mesmo num momento em que a sociedade se abre cada vez mais, exigindo uma postura diferente, mais respeitosa, principalmente com relação à igualdade de gênero.

Outros problemas relacionados à ‘masculinidade frágil’ são observados “de dentro para fora”: o mundo interno pouco desenvolvido trazendo dificuldades em perceber, sentir e comunicar o que se sente, compulsões sexuais e vícios em pornografia, acessos de raiva aumentando a violência doméstica, entre outros.

A boa notícia é que com um pouco de boa vontade e muito esforço é possível ressignificar toda essa educação danosa. Se houver identificação, como homem, com isso que estou dizendo, proponho um exercício, busque em sua memória algum momento em que protagonizou alguma dessas cenas em sua vida, mesmo que de forma leve, e reflita o quanto isso trouxe de dificuldades emocionais, o quanto isso foi danoso ou quebrou sua alma infantil.

Crescemos com essa cultura, e ela está mais enraizada em nossa formação do que possamos imaginar. É urgente desconstruir o que nos faz mal pessoalmente, e como sociedade. Experimente conversar sobre isso com seus amigos. Não tenha medo. E mesmo se zombarem de você ou questionarem sua masculinidade, tente entender que aquele amigo está apenas reproduzindo o que a sociedade o ensinou durante toda sua vida. Ouça as mulheres de seu convívio, certamente ninguém será melhor do que elas para descrever os danos que esses comportamentos causam. Experimente conversar também com pessoas mais jovens que você. Além de fazer parte de uma geração mais nova, mais propensa à abertura de ideias, lembre-se que os conceitos de masculinidade frágil foram injetados em sua formação e não na sua maturidade. E, uma vez admitindo o desejo de mudar, busque ajuda profissional. Um pouco de terapia não faz mal a ninguém.

Lembre-se, não há nada que você faça que te torne ‘menos homem’. O que existe na verdade são diversas atitudes que podem te tornar um homem melhor ou pior. A escolha é sua.

* Airton Santos (Avadhyan Prem) atua como terapeuta tântrico (através do Método Mahadevi), é
terapeuta corporal e continua não gostando de futebol.

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