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“Seria lindo se todos nós nos sentíssemos responsáveis pelas nossas crianças”

| Por Odília Nunes |

Ontem vim para o sertão num carro de “lotação” desde Recife. Entre muitas alegrias conheci uma amiga nova de 11 anos que estava viajando sozinha (não por nada. Só porque é possível! O motorista era de confiança do pai. E a menina voltava pra casa da mãe..)

Eu já estava toda orgulhosa desta criatura corajosa quando ouvi um: “Como é possível a mãe permitir…” Tanto medo né? Tanto medo espalhado que a gente fica logo julgando a mãe(o pai é massa. A mãe que é louca.), imaginando mil coisas. Sem nem se dá conta do medo que vamos jogando em cima de quem tá ali toda tranquila… Enfim. O que quero dizer é que quando vi esta menina entrar no mesmo carro que eu, senti que ali estava um taco da missão do dia.

Nos apegamos e eu vim sendo companhia deste ser que nunca tinha visto na vida. Estávamos tão grudadas que demorou as pessoas ali entenderem que eu num era a mãe ou acompanhante dela. Cuidei, mas do que como filha. Cuidei como desejo que minhas filhas sejam cuidadas um dia. Cuidei mais que por isso. Cuidei porque acredito no amor incondicional. Cuidei porque tenho percebido a grandeza de acolher os presentes diários… Quando ouvi o espanto me levei a pensar no quanto seria lindo se todos nós nos sentíssemos responsáveis pelas nossas crianças. Quanto é simples se perder nos outros…

Bom, a pequena enjoa carros. Inda teve este serviço estranho… limpar vômito. Muito por sinal. E eu que “inguio” quanto sinto cheiro de vômito nem o fiz ali. Igual quando é com minhas filhas… Falo disso só pra entender o quanto me conectei com esta menina.

Poderia escrever sobre isso. Poderia falar do que senti . Mas quero contar uma coisa desta menina que ficou grudada em mim e que adorei ouvir:
– Sabe Odília, eu não sou popular na minha escola. Mas nem ligo. Quero ser feliz. Busco ser amiga de meus colegas. Mas tb se não querem, paciência né? Outro dia um menino me chamou de bruxa idiota. Não tenho nada contra as bruxas. Mas uma bruxa idiota? Achei um desaforo! E este menino a tempos me aperreava sabe. Estava de saco cheio. Corri atrás daquele menino, derrubei ele no chão. Dei um golpe de mata leão nele e esperei o diretor da escola vim separar a confusão.
– Solta ele! Porque tá fazendo isso¿
– Porque ele me chamou de bruxa idiota!
– E vc é¿
– Não. Mas ele tem de entender que não pode de jeito nenhum me ofender. Todo dia este menino me insulta! Cansei.
– Porque você num foi me contar¿
– Porque nunca dá certo. No dia seguinte ele segue me aperreando. E hj num fui lhe contar porque minha raiva foi mais ligeira.
– …
– Fiquei de castigo aquele dia. O menino foi suspenso uma semana e quando voltou tratou de nunca mais me azucrinar. Não ser popular tudo bem né? Mas ser mal tratada? Vou nada!”

Gosto não de violência. Mas tenho de assumir que fico contente em ver uma mulher sabendo se defender!

Sai do carro antes dela. Ela me segura pelo braço e solta um:
– Queria que você fosse minha vizinha. Quero ficar perto de você.
– A gente se encontra já já. Em nome de tudo que é bom, forte e bonito eu te abençoo. Siga sendo esta menina corajosa viu? A liberdade. A liberdade é o que devemos buscar sempre! Você pode ser o que desejar.

Ela me deu um sorriso . Nos abraçamos e seguimos.

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