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Poemas de César Leal

Elogio do sonho

Quando caminha nas águas
banha as agulhas noturnas
e bebe chamas de espumas
nos claros copos da lua
esconde no corpo um fogo
claro, vermelho, constante:
rubro ondular de bandeiras
por entre nuvens dançantes
ei-la subindo nas chuvas
galopando em seu cavalo
a cabeleira de trigo
solta ao furacão voante
ordena para que um dia
os sons se mudem nas cordas
destes violinos cegos
que por entre urtigas tocam
— vejo-a inteira, emparedada
entre as brasas que caíam
naqueles vales secretos
onde as árvores fugiam.

 

Análise da sombra

Analisa-se da sombra
seu caráter permanente:
pela manhã retraindo
a imagem, à tarde crescente.

E aquele instante em que a sombra
adelgaça o corpo fino
como se no chão entrasse
quando o sol se encontra a pino.

Quem a esse instante mira
em oposição ao lado
onde o sol era luz antes
logo vê o passo vago

da sombra que agora cresce
o corpo de onde se filtra
até fundir-se no limbo
que em torno dela gravita.

Forma esse limbo a coroa
que as sombras traz federadas:
soma de todas as sombras
num só nó à noite atadas.

 

Sutilíssimo eterno

Sutilíssimo eterno que habita
minhas saletas interiores
onde trago o tempo guardado
noturno e resignado

sutilíssimo eterno interior
que como um tálamo é
em minha alma limpa e sofrida
como água dormida em pedra

que eterna seiva alimenta
este tempo em mim retido
plumagem livre de flor
forma exata imperecível

sinto-te assim como um trunfo
branda coroa do eterno
além das nuvens, das águas
ouço o teu metal desperto

se existes no ser completo
na cinza móvel das sombras
por que retiras de mim
tudo o que em mim não é pântano?

Este rio de cinzas

Este rio de cinzas,
este lago de flores,
este bosque de nomes,
este mural de cores,

tantas pedras em queda
sobre os campos do sonho,
frutos moles, vermelhos,
panteras, sol medonho,

o touro na planície,
as aves nas gaiolas,
no céu girando a Terra,
a chuva e suas cordas

feitas de nuvens frias,
nuvens que formam vagas
e também formam vidas
com seu tecido de águas.

Abrir! Abrir os olhos…
mas os olhos não levam
a ver como são grandes
os pequenos da Terra!

Imagens

A Edson Nery da Fonseca

passa o tempo vivo,
tempo feito seta,
o tempo que mede
a vida na terra,

passa o tempo morto,
um tempo redondo,
tempo que circula
nas águas do sono,

é do tempo a voz:
a voz que adormece,
das chuvas que chegam,
das águas que crescem,

de tudo o que é vivo,
das coisas mais leves,
tudo o que dá flor,
tudo o que perece,

tudo o que tem nome,
tudo o que tem asa,
o que não tem chamas
mas é fogo: brasas!

O poeta, professor, crítico literário e jornalista César Leal é autor de mais de 30 livros de poesia, conto e crítica literária, publicados por grandes editoras do País. Também atuou no Diario de Pernambuco, onde dirigiu um suplemento literário por mais de 40 anos, e na Revista Estudos Universitários, da UFPE, do qual foi editor de 1966 a 2005, divulgando o trabalho de diversos poetas da chamada Geração 65. Faleceu no dia 5 de junho de 2013, no Recife, aos 89 anos.

Confira entrevista com César Leal aqui!

1 Comments

  • Vânia Luiza de Lira on

    Boa tarde! Sou Jornalista e Pesquisadora Social, e me interesso sobremaneira pela poesia do Jornalista e Escitor, César Leal. Com o objetivo de me aprofundar na sua Obra, gostaria de contar com o apoio desse portalfloresnoar.com.

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