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“Minha carreira é despertar”

Nadine Kreisberger entrevista o Dharmacharya Shatum Seth

O que espiritualidade significa pra o Senhor?
Consciência, estar presente e estar consciente do que está acontecendo dentro de mim e à minha volta. É uma forma de ser, não é algo que eu faço meia hora, cantando ou sentado numa almofada e depois abandono o resto do dia.

Como o Senhor alcança esta consciência?
Eu uso minha respiração como âncora. O meu corpo está aqui de qualquer modo. Então eu tenho que treinar minha mente enquanto ela viaja constantemente para o passado ou o futuro.

O que esta consciência constante lhe traz?

Ao invés de ser uma pessoa responsiva dirigida por emoções impulsivas, eu respondo a partir de um lugar mais centrado, mais verdadeiro pra mim mesmo. Também é mais provável que eu responda de uma forma mais benéfica e útil.

Por que o Senhor escolheu esta prática em particular?
Isto tem sido uma longa jornada. Eu estava no setor corporativo na Inglaterra, trabalhando para uma fábrica de calçados, ganhando um sustento bem confortável. Mas eu entendi rapidamente que o nome do jogo no capitalismo é o lucro vir antes das pessoas, e este não é um jogo que eu poderia jogar. Então eu me demiti e me tornei um militante engajado em política, envolvido na ação de rua. Mas eu compreendi que estava lutando pela paz, mas não tinha paz interior. Espiritualidade parecia ser a solução. Eu pesquisei um caminho na Índia, mas sempre havia Deus demais ou “guru” demais.

O que o Senhor quer dizer por “guru demais”?
Colocar tudo nas mãos do guru, abrindo mão do meu poder. Eu terminei na Califórnia tentando todas as práticas possíveis, com os sufistas, cristãos, nativos americanos, hindus. Finalmente encontrei os ensinamentos budistas que foram mais apropriados pra mim, por causa do livre questionamento, da confiança em si mesmo e elementos reflexivos, da não necessidade de uma crença em Deus, da ênfase em como administrar a si mesmo e ao sofrimento, aqui e agora.

Mais especificamente, eu encontrei um Mestre, Thich Nhat Hanh, que me lembrava Gandhi com o budismo socialmente engajado dele. E mais importante, com a prática da consciência do momento presente, ele me permitiu tocar a paz. Não enquanto conceito, mas realmente a realização dela, no momento.

O Senhor mesmo também se tornou um professor?
Sim, eu também fui ordenado como um professor Zen no ano 2000. Espiritualidade prática é minha ênfase – seja partilhando dentro de sangas, grupos de pessoas ou através de peregrinações transformadoras na Índia. Ensinar crianças é também importante: quando criança, eu nunca tinha aprendido a fazer ajuste emocional ou resiliência interior. Eu tive que atravessar muita dificuldade e angústia para descobrir isso.

Eu gosto de partilhar coisas práticas, como a meditação do telefone, por exemplo. Qualquer hora que eu estou prestes a telefonar para alguém eu paro: é realmente necessário me intrometer na vida desta pessoa?, respiro e sorrio. Significa reconhecer o impacto das minhas palavras – comunicação em outra dimensão.

A raiva que o Senhor costumava ter se foi?
Não se foi, mas eu posso administrá-la. Mas o meu ciúme não diminuiu.

O que isso significa?
Quando as pessoas estão próximas a você e outra pessoa entra naquele espaço, um forte sentimento de ciúme surge. Eu administro isto como faço com a raiva: respirando, abraçando, e procurando suas causas raiz, um processo que freqüentemente leva à dissolução da raiva. Isto é a psicologia budista básica. Buda realmente foi um doutor da mente, explicando como a mente cria a realidade. Felicidade não é criada a partir de fora, mas vem de dentro. E este é o ponto crucial da espiritualidade. Estar vivo é um verdadeiro presente. Então eu sempre inspiro e sei que estou vivo, expiro e sorrio pra vida.

Mas tudo isso requer uma consciência de cada momento. Caso contrário nós perdemos a magia do momento como se ele nunca tivesse existido. Podemos sair de casa e ser atropelado por um carro. Mas se “neste” exato momento nós sentimos aquela conexão e magia, nós vivemos então num espaço diferente.

Todo mundo pode fazer isto. Não tem uma grande ciência ou falação irreal nisto.

Então isto quer dizer prática.
Sim, e também quer dizer processo. As pessoas me perguntam qual é a minha carreira, e eu respondo: é despertar.

Algum elemento predestinado nisto?
Não. Existem muitas coisas certamente fora do meu controle, que eu chamo interconexão. Mas existe também um grau de livre arbítrio. Quando um sentimento surge, eu posso escolher como responder a ele.

Até mesmo em tempos de desafios maiores, o Senhor consegue administrar e manter esta consciência?
Nem sempre eu consigo administrar, mas certamente melhorei. Basicamente eu vejo isso como uma consciência armazenadora com várias sementes: de raiva, ciúme, consciência, amor, etc. Quais delas eu escolho regar? Consciência plena em primeiro lugar, até mesmo antes do amor – senão eu não estarei consciente do amor. E reconheço sementes da raiva ou ciúme, abraço elas, mas tento não criar condições que irão alimentá-las.

Se o Senhor pudesse fazer uma pergunta a Deus, qual seria?
Que Deus?

Se existisse essa coisa de reencarnação, o que o Senhor escolheria?
Eu já estou escolhendo. Porque estou renascendo a cada instante. De um momento a outro, eu estou apenas sendo.

Qual é sua idéia de felicidade?
Eu inverteria a pergunta: a felicidade acontece aqui e agora, mas eu consigo estar consciente dela? Felicidade tem que ser uma realização, não uma idéia. A idéia de felicidade, assim como a idéia de uma pessoa ou da morte é realmente a chave de nosso sofrimento.

(Leia a entrevista completa no indianexpress.com/thirdeye. Envie seus comentários para thirdeye@expressindia.com)Tradução: Tâm Vãn Lang
The Third Eye. The Sunday Express, 1 November 2009.

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