Marte em trígono com Netuno
Por Haroldo Barros https://haroldobarros.wordpress.com
Os planetas Marte e Netuno se colocam em trígono (ângulo de cento e vinte graus), indicando uma rara sintonia entre a força e a serenidade, a ação e a não-ação.
O grande Lao-Tsé, filósofo e alquimista chinês do Século VI, nos fala da nobreza dos guerreiros pacíficos.
Guerreiros… pacíficos???
Como assim?
Esse pode ser um conceito estranho para a nossa civilização: guerreiros pacíficos…
Mas o grande mestre nos ensina que os guerreiros pacíficos são aqueles que têm a paciência para esperar que a lama assente e a água clareie. Permanecem imóveis até o momento oportuno, pois possuem três grandes tesouros: simplicidade, paciência e compaixão, o que os deixa em paz consigo mesmos e com o mundo.
O trígono entre Marte (em Escorpião) e Netuno (em Peixes) é um poderoso indicativo da possibilidade de resgatarmos a serenidade que nos permite enxergar a própria força. Contemplando-a, reconhecemos toda a potencialidade simples que ela traz; serenizando-nos, somos verdadeiramente fortes, capazes de lançar-nos aos combates que permitirão cristalizar todos os nossos objetivos.
No filme Herói (Ying Xiong, China, 2002), do diretorZhang Yimou, há um personagem, vivido pelo ator Jet Li, chamado o Herói Sem Nome que, após dez anos de intenso treinamento em artes marciais, descobre finalmente a grande lição do filme, que é a grande lição a ser aprendida pelo guerreiro em nós: “O ideal de todo guerreiro é renunciar à espada!”
O difícil é discernir, de forma justa e sábia, qual a hora de embainhar a espada e qual a hora de desnudá-la. Marte e Netuno em trígono nos dizem que podemos brandir a espada no justo combate ou abdicar dela, em função de um bem maior.
Nos próximos dias, talvez você se veja em situações em que precise tomar esse tipo de decisão. E se isso acontecer, lembre-se: a sua escolha deve ser sempre feita em função de um bem maior.
Mas não confunda covardia com magnanimidade: a paz não nasce da ausência dos conflitos, mas sim de nossa disposição para enfrentá-los.
De presente, um texto de outro grande sábio chinês, o grande Chuang Tzu, pensador e escritor taoísta do Século IV a.C. :
Chi Hsing-Tzu estava treinando galos de briga para o Rei. Após dez dias, o Rei quis saber se eles estavam prontos.
“Não, ainda. São muito soberbos e confiam no próprio atrevimento”.
Mais dez dias e o Rei indagou de novo.
“Não, ainda. Eles ainda reagem aos ruídos e movimentos.”
Mais dez dias e tornou o Rei a perguntar. “Estão quase. Outro galo pode cantar sem que dêem sinal de mudança. A virtude deles completou-se. Os outros galos não ousam enfrentá-los, viram-se e correm.”
(Extraído de Chuang Tzu – Escritos Básicos , Ed. Cultrix.)
Dica Cinematográfica
Além do acima citado Herói, indicamos Os Sete Samurais (Shichinin no samurai,Japão, 1954), do cineasta japonês Akira Kurosawa, um dos maiores nomes do cinema em toda a história da Sétima Arte.
Você vai conhecer a história de sete guerreiros que resolvem desnudar suas espadas, em nome de um bem maior. E aprender como a ação (Marte) pode ser inspirada (Netuno) por algo que vai além dos próprios interesses individuais.
Destaque para a interpretação do grande ator Toshiro Mifune, que tinha em seu mapa natal o planeta Marte em conjunção com a posição atual de Marte: seis graus de Escorpião.
Uma curiosidade: esse grande filme de Kurosawa foi a inspiração para o famoso western Sete Homens e um Destino (The Seven Magnificent, USA, 1960).