[A MULHER NÔMADE] Arte da Terra
| Por Kelly Saura* |
Desde que entendo um pouco das coisas do mundo que rejeito a ideia de propriedade.
Foi a maturidade que me trouxe a compreensão de território e a responsabilidade por tudo aquilo que tocamos e alcançamos.
Substituo “apropriação” por “ocupação”, “posse” por “tutela”, “família” por “comunidade”, “casamento” por “amizade”, na tentativa de efetivar outro glossário de relações. Consigo. E parte do mundo compartilha comigo dessa mesma linguagem.
Nasci em um determinado local, sendo a extensão de um determinado clã. E lutar contra essas determinações tem se mostrado inútil. Há algo de inexorável nessa afirmação de algo novo para o meu glossário de reinvenções.
Herdei 1 montanha cavernosa – Um museu ?!, Uma porção de um vale fértil com vegetação nativa protegida por serras que formam um cinturão espinhoso de caatinga – Um terráreo ?! A ourivesaria, que tem sido minha práxis de compreensão no mundo ganha grandes proporções. A escala é sempre uma variação do ponto onde se fotografa. Faço camafeus de proporções monumentais.
Aprendi a extrair as propriedades dos vegetais – há um sentido em estarem tão bem protegidos em cascas duras e espinhos -, onde embalo pequenas porções em invólucros leves e resistentes. Aprendi a usar o facão para abrir meus caminhos de ida-volta ao lar.
*Kelly Saura
mulher, nômade (Recife-Brasil, 1986)
artista visual, designer, curadora
desenvolve e colabora com projetos culturais e sociais de mídia-tática
articula tecnologias e linguagens do tempo
E-mail: Kellysaura@gmail.com
Instagram: @saura.kelly