[HAROLDO BARROS] Mercúrio entra em Leão
| Por Haroldo Barros |
Em seu contínuo caminhar pelo círculo zodiacal, o planeta Mercúrio ingressa o signo de Leão, dando início a um ciclo de valorização da palavra e dos processos de comunicação.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus e o Verbo estava com Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele e sem ele nada do que foi feito se fez …”
As palavras de abertura do Santo Evangelho de São João, acima transcritas, nos dão conta de que o Verbo (ou seja, a palavra) é o instrumento da Criação. Por meio do Verbo, o Deus criador manifesta a Vida e o Universo.
Na condição de co-criadores do Universo (afinal, somos feitos à imagem e semelhançado Criador, trazendo, portanto, o mesmo poder de geração) precisamos ter consciência do imenso poder de nossa palavra.
A palavra tem a possibilidade de criar Universos, de expandir as possibilidades humanas ou mesmo de realizar alquimias. Basta lembrar do que dizia Hipócrates, cognominado o Pai da Medicina: “…o que o alimento não cura, a palavra cura…”
Ao ingressar o signo de Leão, o planeta Mercúrio, regente da comunicação, nos remete à necessidade de valorização da palavra e do seu significado. Se a palavra é instrumento de criação e geração, devemos usá-la com muito cuidado e discernimento. A fase inaugurada com a entrada de Mercúrio em Leão convida-nos à prática do verbo calar, um dos verbos sagrados das antigas tradições iniciáticas. O verbo calar, contudo, não significa não falar, mas sim falar a coisa certa, para a pessoa certa, no momento certo!
Com a nossa palavra, criamos e destruímos universos; erguemos e demolimos catedrais; conquistamos inimigos e amigos. Usando o poder da palavra, podemos adormecer os mortais ou despertá-los de seu sono de inconsciência; podemos apaziguar o coração dos homens ou insuflar-lhes a flama da discórdia.
Portanto, fique atento para usar esse dom de Deus com sabedoria e generosidade, como verdadeiro instrumento da Paz e da Harmonia, pois, durante a estada de Mercúrio em Leão, a palavra ganha força e majestade, imprimindo aos processos de interação humana um brilho e um impacto incomuns.
E nunca é demais lembrar um dos axiomas da ciência da maestria interpessoal humana: a responsabilidade da comunicação é do emissor da mensagem e não do receptor. Ou seja, se eu falo e você não entende, é minha (e não sua) a responsabilidade pela qualidade do processo comunicativo.
Sob esse aspecto, vale lembrar a frase atribuída a Franklin D. Roosevelt: o maior sábio é aquele que fala usando a linguagem de seu interlocutor.
Como reflexão, segue o poema Polígono Dourado, de autoria de um obscuro poeta pernambucano, que retrata bem o conceito da majestade da palavra humana.
Polígono Dourado
Contou-me um dia sábio asceta
Que usaria da palavra o poder
Para alcançar genial meta:
Num polígono traçado a linha reta
Com a tinta da voz escrever
Permitindo à alma humana alcançar
Da vida significativa o segredo
E vencendo a dor e o medo
Todo o Cosmos espelhar.
Trêmulo, ousei lançar o olhar marejado
Para a mensagem do nobre asceta
E li nas linhas do polígono dourado
As palavras do homem iluminado
Que inflamaram meu coração de poeta:
“Faze de ti terreno fecundo
Semeando palavras de verdade
Junta o adubo da humanidade
E se tu queres, enfim, mudar o mundo
Possa em tua voz manifestar-se a divindade.”