Flor dos Ventos
Por Isadora Zamarque
Moro no nordeste, mas sou sulista e tantas outras coisas antes disso. A chegada da estação das flores aqui é a famigerada chuva de caju.
– Setembro! – foi o clamor sorridente da Dani, junto com o vento indiscreto de fim de tarde na Praia de Iracema.
O calor aqui é o mesmo, porém com mais vento, mas no sul essa divisão de estações é um pouco mais nivelada. Já faz tempo que não sei o que é usar suéteres, botinhas e guarda-chuva.
A canção de Atahualpa Yupanqui interpretada por Mercedes Sosa foi um presságio pra mim, uma forte lembrança das inspirações da música regional de lá, uma saudade, certamente, mas pensei também nesse período de tanto trabalho e dedicação, meu e de tantas brasileiras e brasileiros.
– Trabajando duramente! Trabajando sí!
– Duerme, duerme, negrita!
A resiliência chega ao fim ao som pampeano. É tempo de colher cajus, flores, cenouras, abacates e mangas. Fusão sul-nordeste. Guacamole, tapioca e café. O frescor é aromático, algo que fica no ar, no vento que chega atrás de mim como se fosse a amiga contando um segredo ao pé d’ouvido quando eu estava na pré escola. É ela! Ela já se encontra a caminho.
Flores no ar.