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CURUMIM

Foto: Isadora Zamarque
Por Isadora Zamarque
Rango Itinerante*

Nas águas do Panakuera conheci Antônio Neto, curumim ribeirinha. Conversador que só, me contou histórias do Boto, da Iara e do Saci Pererê. Era um pouco tarde e de bruços era o embalo naquela rede acolhedora. Nós aguardávamos o final do Remo com o Vasco no alojamento da escola.

Aquele curumim tem a infância que eu não tive. Não que tenha lado ruim nisso, mas o chão me afastou das águas doces e todos aqueles açaizeiros, me concedeu escadas rolantes e cereal matinal. Por um momento, nem tão curto, quis ser Neto.

Acorda cedo e logo vai para o rio se banhar, depois organiza seu material e pra escola vai. O rio é a rua da sua casa, não há mais rodas, é no barco que logísticas acontecem. Morar no meio da floresta e na beira do rio tem lá suas vantagens, o líquido é privilégio e a mata é mãe, te acolhe.

Curumim não queria desmerecer os caiçaras, habitantes das ondas salgadas, mas disse “Ei professora, eu não conheço o mar, mas eu acho que água de rio é bem melhor, porque é doce e água do mar tem sal, que faz mal.”

Tempos depois mergulhei nas águas de Marahú, água doce, cor achocolatada, fresquinha, não gelada. A fala de Neto bateu em mim junto com a onda, que bateu na boca sem engolir todo aquele sal que faz mal. Nessa hora até choveu, água de cima, água de baixo, que é pra receber as bênçãos da mãe.

*passagens de Isadora Zamarque em terras paraenses, Igarapé-Mirim e Mosqueiro.

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