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‘Coração tranquilo’, de Walter Franco

Walter Franco – Coração Tranquilo 

(texto reproduzido do blog: http://taratitaragua.blogspot.com.br)
Walter Franco é um dos compositores brasileiros que fazem parte da tribo dos “malditos”, como ficaram conhecidos aqueles músicos que faziam um trabalho sofisticado e de difícil assimilação para o grande público. Seu trabalho anticomercial e polêmico chamava a atenção pela qualidade, ousadia e refinamento. Walter ficou conhecido nacionalmente a partir de sua participação no VII Fic, em 72, o festival que a Globo promovia em rede nacional, com a música Cabeça, que era na verdade uma experimentação sonora levada às últimas consequências, com as vozes intercaladas fazendo a vez de instrumentos.

Seu primeiro álbum, lançado no mesmo ano de 72, se intitulava “Ou Não”, e trazia uma capa toda branca, com uma mosca ao centro. A frase “ou não”, que muitas vezes é associada a Caetano Veloso, sendo muito usada em imitações do compositor baiano na tevê, na verdade vem da letra de Cabeça, que faz parte do disco: “Irmão, o que é que tem nessa cabeça?/Ou não/O que é que tem nessa cabeça?/Saiba, irmão/O que é que tem nessa cabeça?/Saiba ou não/O que é que tem nessa cabeça?/Saiba que ela pode/Irmão/O que é que tem nessa cabeça?/Saiba que ela pode/Ou não/O que é que tem nessa cabeça?/Saiba que ela pode explodir…”. O crítico Tárik de Souza escreveu sobre a obra: “um disco em que se revolucionam os conceitos de melodia, silêncio, ruído; onde a própria respiração do intérprete é usada ideologicamente como acessoria intrumental. Foi o mais ousado projeto autoral de nossa música popular, inclusive em nível de vanguarda internacional.”

Seu segundo disco, o seu melhor trabalho em minha opinião, saiu em 75, e se chamou Revolver. É um disco com experimentações eletrônicas, com acentuados flertes com o rock. Nesse disco disco Walter apresenta ótimas composições, como Feito Gente, Nothing, Toque Frágil, Cachorro Babucho, Partir do Alto, dentre outras.

Em 78 Walter Franco lançava Respire Fundo, seu terceiro disco. Nesse disco Walter traz um trabalho com menos experimentalismos sonoros, mas sem perder a qualidade. Na ocasião a revista Pop, de janeiro de 78, fez uma matéria sobre o lançamento:
“Para muita gente, ele é ‘aquele cara chato da Cabeça’ (a música com que apareceu num Festival Internacional da Canção). Mas Walter Franco é muito mais: é cabeça, corpo, magia, luz e sombra. Lançando seu novo disco, Respire Fundo, pela CBS, ele deu esse depoimento para Mônica Figueiredo, de POP:
‘Esse meu disco é resultado da alegria. Pintou uma coisa mediúnica com uns poemas de meu pai, e mesmo com os outros músicos. E eu acho que essa ligação só acontece a partir do gostar. A gente tá aqui no planeta pra aprender a gostar, né? A gente tá sempre aprendendo, o tempo todo dando e recebendo. E tudo é mesmo só uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. A alegria é a base de tudo isso. Uma coisa de mais luz, mais brilho, mais leveza – que só é possível se a gente não tiver medo. A timidez é a forma mais sutil do medo, né? E a única forma de acabar com o medo é a alegria. Perder o medo é perder a ilusão. De repente uma montanha passa a ser só uma montanha. E não assusta. Então a dor se transforma em pontos de luz… Meu disco é isso. Meu momento é esse. É um trabalho de geração: abrir caminho, conquistar espaço, desde Abbey Road, dos Beatles. Aí pinta um choque e dizem que a minha música não é popular, não é brasileira, não tem raiz. Eu acho que quem tem raízes é vegetal… O disco traz a síntese desses ciclos todos que fizeram a minha cabeça, mas não é uma coisa só minha: é tribal. Você acaba descobrindo que não tá sozinho. Mesmo trancado dentro do teu quarto, as pessoas te descobrem, se você estiver em sintonia com a sua essência. Eu voltei todo o meu trabalho pra isto: aplicar a técnica do pensamento nessa coisa da voz. Sem medo nenhum. A alegria é uma obrigação. E, se a gente quer viver, tem certas obrigações com a vida.'”

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