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[CANTO DE LU] “O quanto de apego, culpa, carência, vergonha ainda me assombram?!”

 

Foto: Débora Bittencourt (Apresentação da performance ‘Caminho de Comadres’, d’As Cumade, em São José do Egito/PE.)

| Por Lu Rabelo * |

Dia desses fui convidada pela artista Joanah Flor a participar de uma live do ‘Vivas ao Vulvas’, junto a outras mulheres, sobre o tema ‘Sexualidade após os 40 anos’.

Escrevi um texto na época e, hoje, com a energia do Eclipse Lunar no eixo Touro-Escorpião, justo nos signos onde tenho Marte e Vênus, respectivamente, encontrei o texto e senti vontade de partilhar um pedaço.

Contava sobre as sombras/espelhos que vieram junto ao Fogo, ainda mais atiçado após os 40. Então comecei a refletir sobre alguns dos bloqueios e ameaças que sofri. Aí continuei:

“Crenças impostas por um sistema patriarcal.
O quanto de machismo ainda tem em mim?
Quanto tolhimento vivi?
E quando aos 6 anos, eu de calcinha na sala, painho me mandou botar uma roupa, e eu nunca esqueci.
E quando aos 13 anos eu e uma amiga nas entre-quadras de Brasília fomos surpreendidas por um homem nu atrás da gente e corremos desesperadas.
E quando, adoecida, sofri um assédio sexual de um conhecido dermatologista.
E quando um policial no centro do Recife, armado, me mandou levantar a camisa.
E quando o bispo Dom Augusto, eu ainda criança, mandou eu vestir uma blusa que cobrisse meus ombros. (Inclusive foi o mesmo bispo que me batizou em Caruaru, quando eu, aos três meses de idade, bati na vela que caiu em cima da bíblia. )
E o que não lembro no consciente, mas vem em sonho, quando morro num estupro, ou quando um homem fardado bota o pé na minha boca, eu deitada no chão; ou da vez que fui largada no Mar.
E quando, também em sonho, mando o desgovernante do Brasil olhar dentro dos meus olhos, e ele não olha.
Quanta mágoa ainda existe em mim, por Mãe Dona, minha bisavó materna abandonada pelo meu bisavô que foi viver com uma menina mais jovem, depois de ter retornado de um surto psico-espiritual, que o manteve isolado por tempos?
E o que de fato se passou quando minha avó paterna engravidou em 1930, num vilarejo do Sertão do Pajeú, e meu avô foi pra São Paulo?
E tantas outras histórias…
O quanto de apego, culpa, carência, vergonha ainda me assombram?!
Me amar, sentir prazer, tem sido uma construção, ou melhor, uma desconstrução, uma reconstrução.”

*  Lu Rabelo é cantadeira, arteterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar.

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