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A felicidade pode ser um fio de cabelo branco

Por Sheila Bezerra

Há um ano me preparava para me refugiar em mim. Força era meu objetivo – muscular, emocional e espiritualmente. Estava frágil, muito frágil. Tinha descoberto alguns problemas sérios de saúde, e, além disso, tinha desenvolvido uma doença autoimune que se chama Alopecia Areata.

Estava careca em várias regiões da minha cabeça, estas que estavam cobertas pelas partes que, felizmente, não foram afetadas. Muitas são as razões porque uma pessoa desenvolve alopecia e nem sempre os pelos e cabelos crescem novamente. Eu achava que esse seria meu caso, pois depois de um ano ainda continuava careca em várias partes do couro cabeludo e não tinha uma marca sequer de poros.

Minha família ficou numa tristeza só…eu não preciso nem dizer o quanto isso mexeu com tudo em mim. A questão era: por que isso tinha acontecido comigo? Identifiquei muitas coisas. Fui mudando o que precisava – hábitos, pensamentos, alimentação, tomei remédios três vezes por dia durante alguns meses, enfim… neste mesmo período em 2015 já fazia um ano que a alopecia estava comigo. Mais que isso, a sua presença me dizia que poderia ter sido algo pior …por que uma doença autoimune?

Viajei para Florianópolis, Mariscal, para me refugiar. Aprendizados profundos em Yoga, alimentação equilibrada, caminhadas na praia, alguns banhos de mar gelados, amigos/as, paz. Durante minha estadia por lá, eu percebi que os poros estavam se abrindo, percebi que tinha um resistente fio branco numa das áreas afetadas. Sabem o que é felicidade? Felicidade pode ser um fio de cabelo branco. Tive esperança que vários fios brancos nascessem e, novamente, que eu não precisasse continuar a me esconder.

Eu passei mais de um ano me escondendo por baixo de cabelos que caiam sem forma sobre meus ombros, ou amarrados de modo que o vento não me denunciasse. Eu olhava no espelho e não me reconhecia. No final de 2015 outros cabelos brancos nasceram e caíram. Todos os meus fios pretos voltaram aos seus lugares (tenho 35 anos e nenhum fio branco. Nunca arranquei nenhum).

Ontem, uma amiga que não sabia dessa história, e que não vejo há anos, veio me visitar. Ela olhou para o meu cabelo e disse: “Sheilinha, que cabelo preto e brilhoso! Você está pintando?” Eu nunca pintei meus cabelos. Contei-lhe toda história e hoje conto para vocês porque, muitas vezes, pelo facebook, fui ajudada por alguma história de dor que, de algum modo me ajudou a crescer.

Às vezes passamos por questões existenciais muito profundas, questões que muitas vezes que nos provocam dores infinitas, mas somos sutilmente silenciados/as por esse mundo de pessoas muito bem resolvidas (e que não são) e que está destruindo tudo ao nosso redor. Desumaniza-se cotidianamente o outro, suas diferenças e dores. É preciso dizer que se está forte. É preciso ser apenas curioso/a. É preciso apenas olhar e fingir que não viu (ou que viu), e o mundo segue numa grande guerra de nações, e de nós com o mundo.

O caminho contrário é empatia, banho de mar, boa alimentação, cultivar a lealdade aos/às amigos/as, compreender doenças e processos de adoecimento e ajudar. Eu fui muito ajudada, mas fui muito julgada também, o que só agravou minha situação. De algum modo isso foi bom para que eu aprendesse a contar comigo mesma, fosse qual fosse a situação ou os erros que tivesse cometido pelo caminho, e também a entender que cada um/a tem seu próprio tempo.

Às vezes só é necessário um fio de cabelo branco para que a vida volte a fazer sentido. Gratidão, auto perdão, discernimento e fé são o caminho da cura. Viajarei novamente, mas agora é diferente. Vou aprofundar o que aprendi. _/|\_

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