10 razões contra os viadutos na Agamenon
Por Luís Fernando Oliveira *
(publicado originalmente em Blog de Jamildo)
A falta de planejamento é a tônica de Recife. Há muito perdemos o aspecto de metrópole aprazível e nos tornamos uma cidade insana, que não oferece qualidade de vida para seus moradores. Atualmente, a mobilidade mostra-se o grande problema da capital. No entanto, ao invés de buscar uma solução racional, o governo do Estado está propondo aquela que pode ser considerada a pior intervenção urbana feita em Recife, talvez só comparada à construção da Dantas Barreto, aquela avenida que acabou com a moradia no bairro de São José, destruiu casarios e igrejas históricas e não facilita em nada o fluxo viário.
Trata-se dos quatro viadutos da Av. Agamenon Magalhães, cujo edital já se encontra publicado. A obra contraria o bom senso:
1.Em primeiro lugar, não vai resolver o problema do trânsito na região. No máximo, pode adiar o estrangulamento total da Agamenon. As vias paralelas e transversais vão continuar com seus gargalos e a tendência é que os engarrafamentos atuais, em vias como a Av. Rui Barbosa e a Av. Rosa e Silva, fiquem piores, pois receberão maior fluxo de veículos. E esses efeitos só serão objeto de estudo durante a obra.
2. O custo de R$ 132 milhões em verbas públicas é muito alto para o seu pouco benefício.
3. Durante a construção, percorrer a Agamenon será um inferno, mesmo que a obra fique pronta no prazo.
4. Vai provocar o fechamento do comércio local, como farmácias e supermercados. A vizinhança, que poderia fazer suas compras a pé, vai precisar deslocar-se para outros bairros. Resultado: mais carros nas ruas e mais engarrafamento.
5. O projeto não privilegia o transporte coletivo e sim o individual. E ainda torna mais difícil a vida de quem trafega pelo local a pé ou de bicicleta.
6. A criminalidade deve aumentar nessa região, como acontece no entorno de todos os viadutos.
7. Em uma cidade com deficiência de moradia, os viadutos serão ocupados por moradores de rua, em busca de um espaço privilegiado, mas sem as condições mínimas de dignidade. Fica praticamente impossível aos governos vedarem essa ocupação irregular.
8. A Agamenon não é só rota de passagem. Milhares moram e trabalham nas suas imediações. Mas os problemas apontados devem desvalorizar o mercado imobiliário, prejudicando os edifícios empresariais e residenciais.
9. Viadutos enfeiam. Uma cidade esteticamente apreciável é como uma bela mulher: todos se sentem bem ao seu lado. Em uma cidade modelo de soluções urbanas, como Curitiba, é raro o uso de viadutos e o trânsito flui bem melhor que em Recife.
10. Aliás, todas as cidades modernas estão abandonando o uso de viadutos. São Paulo estuda derrubar o seu Minhocão, assim como o Rio de Janeiro cogita derrubar o elevado da zona portuária para as Olimpíadas. Só que se gastou muito para construí-los e uma demolição também é onerosa. É praticamente uma viagem sem volta e impede que se faça qualquer alternativa, inclusive como aquelas previstas originalmente para o Corredor Norte-Sul, de instalação de VLTs em elevados ao longo da avenida. Recife está na contramão.
Eduardo Campos vem fazendo um trabalho bem aprovado no Estado. É uma estrela em ascensão nacional. Fica ruim associar sua imagem a uma obra atrasada, feita sem consulta da população interessada, de impacto negativo para as futuras gerações de recifenses. Repensar essa obra é antes de tudo um sinal de bom senso e espírito democrático, e uma boa oportunidade de rebater as críticas feitas pela mídia nacional de que teria inclinações para o coronelismo.
Cabe também aos homens públicos sensatos e aos moradores uma posição contra esse projeto. Ou uma nova Dantas Barreto pode surgir, deteriorando toda uma área da nossa amada cidade.
* Luís Fernando Oliveira é recifense.