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[INTEGRANDO SAÚDE] Mindset uma análise humilde do seu significado

Imagem: Jessica Ottewell (Creative Commons)

Por Gabriela Sencades Migge* |

Antes de voltar à Academia e estudar oficialmente a Psicologia Positiva, como eterna estudante da mente e seus processos que sou, acabei por adquirir um livro, há cerca de um ano meio, cuja temática é o mindset, palavra tão na moda que se tem usado em todas as áreas profissionais. Queria entender o significado daquilo, como se constrói e como se pode ultrapassar o próprio conceito. Confesso que sempre faço leituras críticas, não no sentido pejorativo, mas na intensão de construção do conhecimento, pois acredito que olhando para vários aspectos, que geralmente são abordados de forma fragmentada, podemos construir algo muito maior, se soubermos ir juntando pacientemente várias “peças”.

Então, querendo saber o que era mindset fui atrás do livro e aqui queria considerar alguns conceitos trazidos por ele e expor minhas singelas opiniões, na esperança que possa ajudar alguém a construir e desmistificar conceitos também.

Mindset, segundo o livro, seria o nosso sistema de crenças. Seria algo “por trás” de nossos pensamentos e sensações e que direciona nossa forma de pensar e agir. Como estudante do Budismo que também sou, vejo relação com o que o Budismo Tibetano fala há muito em paisagem mental, mas, aqui, adotando a linguagem acadêmica do livro, a autora nomeia de mindset.

A autora, Carol S. Dweck, localizou, em anos de coleta de dados e análise de pesquisa, dois tipos de mindset bases, um que chamou de fixo e outro de crescimento. Indo além, ela considera que o sucesso que a pessoa terá e como essa pessoa se vê depende de um mindset ou outro que a mente operará preponderantemente.

Assim, àqueles que agem com predominância do mindset fixo apresentam-se dominantes, superestimam-se, não gostam de ser questionados e quando não obtêm o êxito que tanto aspiram tendem a deprimirem-se, achando-se fracassados e culpando terceiros por seus erros. Eles consideram que o sucesso se obtém de forma imediata e sem esforço, pois se julgam com inteligência acima dos demais e por isso evitam desafios que não se conhecem bem, pois se falham sentem-se minimizados, humilhados e derrotados.

Já as pessoas que teriam mindset de crescimento conservam o entendimento que podem aprender tudo e que as dificuldades são para serem ultrapassadas, fazendo delas motor de suas ações. Acreditam que sucesso é uma construção que requer dedicação e, quando erram, consideram o erro um aprendizado e não um fracasso. Com esse tipo de mindset não se consideram perdedores ou fracassados, pois as dificuldades são oportunidade de aprendizado e desenvolvimento.

É bem interessante essa construção. Mais interessante ainda é percebermos que em várias situações ora agiremos de forma fixa, ora agiremos em prol do nosso crescimento. Daí poderíamos pegar essa informação e refletir que ora estamos nos julgando de forma fixa, paralisando-nos diante das situações e ora estaremos acolhendo certas dificuldades e construído nosso crescimento.

Apesar de muito interessante, e até certo ponto libertador, é preciso considerar que, como toda análise acadêmica, ela se fecha até os limites do que foi possível mensurar naquele local e naquele tempo. Dessa forma eu fiquei um tanto decepcionada quando ela não aprofundou as origens da formação do mindset. Mas, eu entendo que este foi seu limite. E apesar de esperar mai,s eu fico feliz que essas buscas estão sendo feitas dentro das universidades.

A consciência, aos poucos e timidamente, vai sendo desbravada no templo da ciência! Isso é fenomenal e considero importante aplaudir e creditar.

Depois dessa consideração é importante olharmos para formação de nosso psiquismo, sem dogmatismos, percebendo que, sim, esse ponto é interessante, mas não podemos dizer que tais características são inatas do ser humano, do tipo ou você nasce assim ou de outro jeito. Ou que o tratamento será esse e ponto final.

Há uma série de fatores que poderíamos considerar para formação do mindset como cultura, criação da família, sociedade, história pessoal, subconsciência, crenças religiosas etc., e cada aspecto quando se interconecta vai fazer com que uma linguagem terapêutica, por exemplo, funcione e outra não. E é por isso que nem sempre um psiquiatra, por exemplo, vai poder ajudar todo mundo. Do mesmo modo, que uma abordagem psicológica pode ajudar alguns, já outros nem tanto.

Desse modo, se já tentamos algum tipo de terapia e não ajudou muito, talvez seja o caso de procurar outra. Um outro terapeuta, uma outra abordagem, uma nova visão. É sempre bom considerar que não se há respostas para tudo e que só iremos construir algo, seja sucesso, saúde, paz, plenitude, entendimento etc. através do binômio tentativa-erro. Isso fundamenta não só a ciência, mas norteia nossa vida.

Dessa forma o livro é bem interessante, rico em exemplos e situações que podem ser muito úteis, pois já vivenciamos algumas delas. Mas, o ponto chave é ir sempre integrando os conceitos e, se algo for antagônico não descarte “de cara”, melhor observar aquilo um pouco mais, pois pode ser que “mais na frente”, se poderá integrar e assim construir o conhecimento, como quem monta um quebra-cabeças, vamos nos munindo de vários meios hábeis que podem nos ajudar de muitas formas e ajudar a muitos seres também.

Um último termômetro para nossa experiência é o teste: se funcionar aderimos ao nosso cotidiano, se não funcionar conosco, descartamos como nossa prática, mas ficamos atentos, pois, talvez, para outra pessoa, será tudo que ela precisa para “desatar alguns nós” de sua própria mente que impedem de perceber as coisas com clareza.

Bom mesmo é não cair no estreitamento corriqueiro de nossa visão. Isso ocorre de forma tão natural, que nem percebemos que estamos agindo de forma estreita. Nos identificamos tanto com algo que passamos a ver somente aquele ponto. E daí passamos a querer encaixar o mundo dentro dessa forma de ver.

Na linguagem do livro, quando fazemos isso estaríamos agindo com o mindset fixo, julgando o mundo e a nós mesmos a partir de nosso ego, ou seja, daquilo que é mais interessante para nós naquele momento.

Todos nós somos passíveis de agir de forma fixa. Mas a boa notícia é que sempre podemos mudar e simplesmente parar de nos julgarmos, julgar o outro e estabelecer relações construtivas e positivas. Engajando-nos de forma presente e colaborativa nos diversos âmbitos de nossa atuação. Tiramos o foco do nosso “umbigo” e focamos em todo o contexto. A vida fica bem mais interessante quando agregamos o mundo em nossa visão. Quando olhamos apenas para nós fica tudo muito solitário. Portanto, expandamos sempre!

Referência:
Dweck, Carol S. – Mindset: a nova psicologia do sucesso. São Paulo: Objetiva, 2017.

 

* Gabriela Sencades Migge é terapeuta integrativa, pós-graduanda em psicologia positiva, pela PUCRS e em neurociências pela FAVENE. É co-fundadora e gerente de marketing do Espaço Cuidar. Para mais informações acesse: https://espacocuidarrecife.wixsite.com/terapiasintegrativas

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