[ISADORA ZAMARQUE] Mateadas

| Por Isadora Zamarque |
Tem sido um inverno quente, agora que busco no mate todos os aquecimentos que preciso. Não é de polaina, cachecóis e jaquetas que menciono, até porque esses itens nunca parecem, efetivamente, cumprir com a função de aquecer (meu corpo corresponde com dificuldade ao frio). Entretanto, o matear cumpre com uma função muito mais potente, a função de descongelar as ideias.
As sinapses ficam mais soltas e livres para se movimentarem no fluxo de que necessitam naquele momento. Se o caso é chorar, aqueço a faringe cheia de nós. Se o caso é observar, mateio. Se o caso é limpar a casa, mateio. Se o caso é ir à praia, mateio. Só não mateio quando viajo, porque o xixi fica apressado demais.
Assim os dias invernais tomam nova textura, o ritual de preparar, cevar a ervinha, beber e, finalmente, limpar a cuia e a bomba são produções que me conectam com algo forte, amargo e belo. As minhas entranhas amadurecem amargamente.
Poros e pêlos reagem harmoniosamente ao corpo que movimenta o que quer que seja e que só carrega aquilo que movimenta. Esse talvez seja o meu inverno mais quente. O mate se tornou uma companhia daquelas que você faz questão de ter por perto, até chegar ao ponto de você inventar movimentos para levá-lo junto à você. Você nem vai tanto ao parque, mas inventa que precisa ir (e talvez, você, realmente, precise), só para levar o chimarrão pra poder pensar melhor na vida.
Aliás, essa tem sido a minha maior proposta nesse inverno, encontrar acompanhamentos líquidos para pensar na vida, e o mate é o que mais coroa esse momento. Aliás, a maior proposta do inverno é, aquecer e guardar os pensamentos mais encaracolados dos nossos neurotransmissores.