[ISADORA ZAMARQUE] Grafite

| Por Isadora Zamarque |
Sempre que estou para parir um novo texto, passo a estar mais inquieta, como em uma TPM fora de época. Entretanto, pareço dar mais conta dos atributos do cotidiano.
Conversei com uma amiga sobre o nosso projeto de envio de cartas, ao qual, carinhosamente, chamamos de Tricotar. Percebi que desandei no patchwork e na continuidade das epístolas. Logo eu, que iniciei o envio dessas cartas. Mas essa é a marca essencial da ariana, ter uma potência para inícios, mas ser tão vulnerável aos términos.
Percebi que a minha escrita mais confortável se dá no traço do grafite. Um pouco pela possibilidade de corrigir os erros em um nível, esteticamente, aceitável, pois temos a borracha como item corretor. Mas, para além disso, me dá um conforto ocular enorme ao criticar a minha grafia rechonchuda de grafite zero sete. Escrever à caneta é cesárea, escrever no grafite é parto natural.
Mas, é aquela velha problemática que os nossos professores já levantavam nos tempos áureos de escola “Escreva à caneta para você não desconfiar da sua nota!”
A caneta assinala um sistema de medo e desconfiança em seu uso e em seu serviço. Tudo é questionável, e talvez, por mais positiva que eu seja nos meus negativismos diários, os fatos e as coisas sempre serão questionáveis. Será que eu devo achar bom? Hesito uma resposta.
Mas esse grafite, esse punho cansado e esse papel insistem em me mostrar uma realidade pura, uma narrativa crua, em que nada é planejado, os acontecimentos não são idealizados e a vida é, plenamente, vivida.