Fique por dentro das novidades do Flores no Ar!

Arquivos

Flores no Ar Logotipo do Portal Flores no Ar

Poemas de José Juva

para ficarmos nus
é preciso desatar
todos os nós

corpos inteiros,
almas plenas
na dádiva presente

e na memória
nenhuma dor
será alimentada.

para ficarmos nus
é preciso a risada
do lótus azul.

*****************************************

inspira e respira, maninha,
andando para lá e para cá.

oxigênio e movimento
são levitações.

equilibra a fome de afago
sem apego, exercita o amor
entre as devastações do incêndio
e as águas calmas que excitam as almas.

grita nos ritos das grutas e das ruas,
rodando no samba das sombras.

maninha, tira cochilos na morada divina
e, ao acordar, não acompanhe a caravana
de pessoas tristes, mas cante e ame.

conseguir é seguir, maninha, com raízes
e sonhos na terra entre ervas daninhas:
a felicidade possível é uma benção,
invenção para muitas noites e dias.

delírios são flores, maninha,
no útero azul do futuro.
nossa respiração
salta o muro.

*****************************************

seja como água, meu amigo,
disse bruce lee sorrindo.

dobrando, esticando, tudo
se move e canta e fica mudo.

seja como água, fluindo,
indo embora toda hora
sem sair do umbigo
do agora.

seja como água, sumindo
no ouro do outro, rindo
das cascas das formas.

seja como água, água
de beber, camarada,
água do banho nu
no rio da madrugada.

seja como água, vazio
é forma, forma é vazio.
seja como água, seja
quente, quente, frio.

*****************************************

via expressa para teu esqueleto,
amores e amoras, ataraxia.

roubaremos as cargas do trem,
montaremos cometas prateados.

bolsos furados pelo fogo, logo
cantaremos os mantras das lontras.

garota, gritaremos pelas ilhas por
diversão e nus apreciaremos o silêncio.

*****************************************

estamos nus & perdemos dentes,
alguns pássaros pousam nos ombros.
muitas águas correm no peito, tempestade
de coices dos cavalos, imaginação das harpias.

a grama permanece verde, espírito
da mulher que ri com o canto da formiga.
atenção & tesão & o macaco que mergulha
no tanque de suco de laranja aos pés da montanha.

idiotas batendo boca contra os lírios, levitação
do rinoceronte que engole a cabana, cobertura
de chocolate no olho da feiticeira, cabeleira
do mágico subindo entre árvores até o céu.

*****************************************

evidente felicidade
da respiração, movimento
dos músculos, devaneios.

não há deserdados
do supremo amor, do sopro
do vento que varre a medula.

música da luz lilás,
água e dia aereo do sangue.

*****************************************

arquivo cósmico do coelho mágico:
terapia lunar da mística pantera:
hidroginástica no útero sagrado:
levitação magnética ancestral:
peixes, crocodilos, cavalos:
rãs, patos, onças, crianças:
vegetação, cantos das nove
mulheres nuas, noites nuas.

*****************************************

zeus está morto.

eu fui o que aprendeu
com árvores e rochas:
lábios não dizem
a idade do céu.

eu fui o que deixou
pelos bolsos as ametistas,
pedras do vinho.

eu fui o que ficou
embriagado pelas auroras.

eu fui o que retornou
para casa carregado
pelos ventos.

*****************************************

medita, macaco, medita
e pratica o primeiro amor.
se algum idiota te irrita
pratica o nonsense, humor.

medita, macaco, medita
mergulha no olho da flor.
anda por aí pelado e evita
o orgulho, avareza, rancor.

medita, macaco, medita
na mordida, disco voador.
ferve teu sangue e acredita
no afeto, no afago aonde for.

 

José Juva
José Juva (Olinda - PE, 1984) – poeta, pousa-tigres e mamífero. Formado em Jornalismo e mestre em Teoria da Literaturapela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ainda por lá, atualmente pesquisa as relações entre a poesia, o mundo natural e o sagrado para o doutoramento. Membro-fundador do coletivo Casa de Marimbondo (2006), com o qual realizou alguns vídeos experimentais, performances e intervenções urbanas premiadas em eventos de arte contemporânea (A Porta, Dapós-utopia, A máquina de escrever azul, entre outros trabalhos). Premiado com bolsas de incentivo à formação pelo Centro de Formação em Artes Visuais (CFAV), da Prefeitura do Recife, pelas oficinas A imagem, a verdade e outros bichos (2008) e Nomes múltiplos: bando de artistas (2009). Publicou o ensaio deixe a visão chegar: a poética xamânica de Roberto Piva (2012), pela editora Multifoco e o livro de poemas vupa (2013), projeto em parceria com a editora Livrinho de Papel Finíssimo.
Contatos:
jose.juva@hotmail.com
www.facebook.com/josejuvavupa

Leave a comment