“Minha história com o artesanato começou com um ‘fuxico’…”

|Por Maria Hermínia Martins |
(texto publicado em agosto/2014)

Estudei em colégio de freiras, num tempo em que era ensinado às moças trabalhos manuais, especialmente o bordado. Não consigo lembrar daquele tempo das aulas, mas quando resolvi que queria bordar, lá estava na memória das mãos o manuseio de como se deveria fazer determinados pontos.

Sempre fui muito criativa e gostava de elaborar de forma personalizada quase todos os presentes que dava para as pessoas queridas. Mas acho que o período culminante da minha relação atual com a arte manual aconteceu quando após a gravidez do meu segundo filho, dez anos atrás, desejei ocupar um tempo com algo que me distraísse e ao mesmo tempo pudesse ser útil.

Conheci o trabalho de uma colcha de cama feita com fuxico e fiquei encantada, disse pra mim mesma que faria uma pra mim e como tive facilidade de adquirir retalhos com minha vizinha costureira, iniciei com estes pequenos círculos de tecidos uma história de paixão com o artesanato que só tendeu a crescer até os dias de hoje.

Cada círculo se tornava uma flor, uma cor, uma mensagem pra mim. A junção desses círculos me empolgava, cheguei a produzir muito, mas não o suficiente para a colcha, porque resolvi desistir dela, pois era muito grande para a minha tão grande ansiedade. Os fuxicos produzidos se tornaram bolsas, panos de mesas, enfeitaram blusas etc .

Quando fazia um curso de Arteterapia, no final de 1999 até maio de 2000, com Edna Lopes, minha colega de curso Iolita, conhecendo minha habilidade manual ( inclusive na confecção de bijouterias), me motivou a produzir camisetas “customizadas”, nome que a moda dava a produções personalizadas, através de vários acessórios de aviamentos e arte manual.

Eu fui mergulhando nessa perspectiva de aumentar minha renda através do artesanato. Lembrei que em diversos momentos, um deles ainda estudante de Psicologia, eu cobria caixas de chocolates com retalhos e vendia na sala de aula. Os trocados me rendiam o pagamento de passagens e lanches. Quando fazia um curso de Dinâmica de Grupo no Libertas Comunidade, em 1998, eu pintava camisetas para vender entre as(os) colegas e ajudar nos custos do curso.

Aos poucos fui percebendo que podia ampliar minha criatividade além de tudo isso e agreguei valor a muitas peças, passando a bordá-las à mão, com toques de patch-apliquê, crochê e outras técnicas.

Passei depois de um tempo a levar para as camisetas bordadas, minha espiritualidade e sensibilidade através dos desenhos e bordados de Mandalas, desenhos de círculos, considerados sagrados por terem a partir de seu centro, diversas formas e cores representativas do inconsciente coletivo da história humana.

Esta nova fase na confecção de camisetas foi resultado dos meus diálogos com minha amiga Fátima Nunes, parceira também na paixão pelo artesanato, especialmente o pathwork. Com sua sensibilidade e experiência como estilista, me orientou a “focar” nos bordados de mandalas, fazendo desses o meu diferencial. Me envolvi nesse processo, levei os desenhos de mandalas dos cadernos que fazia para as blusas e estou adorando todo meu trabalho.

Atualmente, o bordado faz parte do meu universo particular, me levando a ver nesse talento e arte, as condições propícias para uma conscientização maior do que posso fazer com minhas mãos, inclusive ajudando outras pessoas, quando num futuro breve, uma cooperativa de mulheres artesãs e costureiras está sendo gestada.

‘Linhas da vida,     
linhas do destino…
linhas de costura,
linhas que se misturam…
O que falam?
o que emendam?
Caminho…destino…
destino…caminho…
Desatino.
Vida…linha
linha da vida
emendas e remendos…
Panos de fundo
fundo de pano,
abandono…
Vida: destino e destino,
remendos e costuras,
vida pra se viver,
sem medo, sem se esconder’

(Maria Hermínia Martins)

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