[ISADORA ZAMARQUE] Travessia

| Por Isadora Zamarque |

Uma virada de ano é uma travessia fulminante, vem e vai como uma estrela cadente. Em novembro planejamos com tanta expectativa as festas de fim de ano, a festinha na casa dos amigos, o camping na praia com a galera, ou um jantar modesto com aquele namorinho recente.
Assim se esvai.
Tudo passa tão rápido, e quando vemos… atravessamos!
Incrível como uma mudança na dezena nos põe a prova de nós mesmos:
Virou o ano,
a página,
o decano.
E o que é que eu renovo ou inovo agora?
Há uma dormência nos dias de janeiro, um cair de ficha gradual, colocamos datas do ano passado nos recibos e nos papéis de escrita, tudo isso faz parte de uma ressaca corporal que quebra nas cabeças mais ou menos líquidas.
Desta forma venho (re)organizando a ordem dos acontecimentos necessários ao novo ano como jogo as cruzadinhas de um real do Sebo. Preencho, paro para fumar uns cigarros, saio de casa, volto e continuo a preencher as palavras que não fazia ideia do preenchimento antes dos cigarros.
Atravessei.
Atravessamos.
E estamos na cruzada.
E deve haver um sol de oásis pra quem ousa atravessar sua própria ponte de incertezas, ao passo que a rua vibra nos batuques de pré-carnaval, ferve e promete escorregões e estripulias, pedra, musgo e revelia.

Atravessemos!