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Superlua ao anoitecer desta segunda-feira, dia 14 de Novembro de 2016!!!

Por Haroldo Barros
(http://haroldobarros.wordpress.com)

Lua Cheia acontece às 10h52 desta segunda-feira, dia 14 de Novembro de 2016. Pouco depois, às 11h21 (hora de Brasília, desconsiderado o Horário de Verão), acontece o Perigeu, ou seja, o momento em que a Lua se coloca na posição de máxima aproximação da Terra.

Quando esses dois fenômenos (a Lua Cheia e o Perigeu) acontecem tão próximos um do outro (com diferença de apenas alguns minutos, nesse caso), temos um singular aumento do disco lunar, que se tornará algo em torno de 14% maior e mais brilhante.  O melhor momento para a observação é o nascer da Lua neste dia 14. Quando o Sol se puser, no horizonte oeste, você verá a Lua nascer, no horizonte leste, maior e mais brilhante do que o habitual.

Um belo espetáculo!!!

E obviamente esse fenômeno traz significados simbólicos ricos e dignos de atenção.

Regente do sino de Câncer,  astro mais próximo da Terra, a sedutora Lua, também chamada de “o luminar das noites”, sempre esteve associada à magia, aos encantamentos e à poesia.

Diana, a deusa caçadora (chamada Ártemispelos gregos), é irmã gêmea de Apolo (o Sol) e associada à Lua. O templo erigido em seu culto, em Éfeso, era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Ainda criança, recebeu do pai, o poderoso Júpiter (Zeus), a graça de permanecer sempre virgem, intocável e intocada por qualquer deus ou mortal. Diana representa, portanto, o papel da fêmea indevassável, a donzela arisca, inconquistável, formando, juntamente com Palas Athena e Héstia, o grupo das chamadas “virgens brancas” do Olimpo. E aquele que ousasse ir de encontro a essa castidade era severamente punido. Assim foi com Actéon, o caçador (=buscador; simbolicamente, caçador é sempre representativo do homem, em busca do autoconhecimento, da iluminação, do Sagrado etc.) que, escondido, pôs-se a contemplar encantado a bela Diana, enquanto esta se banhava nas frescas águas de um regato. O olhar da deusa, treinado pelas caçadas, pode perceber a presença do intruso, que sofreu terrível destino : com um gesto, Diana o transforma em cervo e Actéon é despedaçado e devorado pelos seus próprios cães de caça, que não mais o reconheciam.

Com o arco e as flechas recebidos de presente dos temíveis Ciclopes (gigantes de um só olho), Diana corria pelos campos, entretendo-se em movimentadas caçadas, sempre acompanhada de sua matilha de cães de caça e de oitenta ninfas, que lhe faziam as vezes de damas de companhia, todas absolutamente castas como sua senhora.

Regente da arte da caça, impunha normas rígidas aos caçadores. Por exemplo, a fêmea prenhe não poderia ser abatida. Quem quer que descumprisse tal lei seria rigorosamente punido.

Tendo nascido antes de seu irmão gêmeo Apolo, Diana ajudou sua mãe quando do parto dele. Por isso, era sempre invocada pelas parturientes  gregas quando do nascimento de uma criança. Além disso, Diana era chamada de Paidotróphos, que quer dizer aquela que alimenta a criança. Por tais motivos, as crianças eram suas protegidas, sobretudo as meninas, que, até os oito anos, lhes eram consagradas, sendo chamadas arktoi (= ursinhas; o urso era um animal consagrado a Diana).

Astrologicamente, a Lua representa a parcela mágica da nossa psiquê, que é capaz de se encantar com as imagens internas e externas, capazes de alimentar e educar a nossa criança interior. Com suas quatro fases distintas, dividindo o seu ciclo zodiacal (de vinte e sete a vinte e oito dias, o mais rápido dentre todos os astros), a Lua nos convida a refletir acerca da ciclologia da nossa própria vida e de nossas emoções: ora estamos em pleno processo de inspiração e desenvolvimento, como se fôssemos a Lua Crescente; e então ficamos plenos e inflados, como a própria Lua Cheia; depois, tendemos a minguar e murchar, como a Lua Minguante; e em seguida nos sentimos renovados e prontos a iniciar um novo ciclo, como a Lua Nova.

Retratando a Poesia e, mais até do que isso, a poética dentro de nossas vidas, a Lua, considerada o astro dos namorados, nos fala, através de sua luz suave, de sutileza e encantamento. Enquanto o Sol, com sua luz forte, é símbolo da consciência, da razão, da objetividade, do masculino, a Lua é símbolo do subconsciente, da magia, da subjetividade, do feminino.

Com a ocorrência dessa Superlua, que testemunhamos neste dia 14 de Novembro de 2016, estamos sendo convidados pelo Cosmos a sentir a mágica e a poética dentro de nós, que nos animam a mirar o alvo dos sonhos que buscamos realizar, retesando o arco da Poesia para disparar a flecha encantada da Magia, em direção ao Infinito, recuperando nossa capacidade de transformar abóboras em carruagens, sapos em príncipes, pererecas em princesas, resgatando o nosso dom de voar, buscar, sonhar e de se encantar com a realidade, que sempre pode ser bela.

Uma poça d’água no meio da rua pode ser motivo de queixa para os desanimados e insensíveis. Mas, para quem quer lançar o pó de pirlimpimpim, a mesma poça pode ser o espelho encantado que reflete, no chão, o brilho iridiscente das estrelas, no céu.

Detalhe importante. A Superlua acontece aos vinte e dois graus do signo de Touro e com o Sol a vinte e dois graus do signo de Escorpião, ou seja, bem no eixo da transformação. Se você já tem o seu mapa astrológico, poderá avaliar que área da vida (que Casa astrológica) será a mais afetada pelo fenômeno. Assim como qualquer astro próximo a este ponto.

Lembramos que a palavra transformar significa, no étimo, ir além da forma. Portanto, essa Superlua, além de tudo é um convite a uma reflexão acerca daquilo a que precisamos dar forma, em nossa vida; assim como, aquilo que precisamos dissolver, destruir, desconstruir em nossa vida e nossos comportamentos.

E, principalmente, daquilo em que precisamos tornar mais poético!

E se é assim, com poesia terminemos! Afinal de contas, a Poesia é mais verdadeira do que a História. Portanto, quanto mais poético, mais verdadeiro.

E, em se tratando de Lua e consequentemente de Memória (atributo também ligado à Lua), nada melhor do que  o poema abaixo, de autoria do poeta e pensador pernambucano (e canceriano) João Luiz Martins, para estimular, nessa Superlua, o resgate da memória imagética dentro de nós.

O Baú de Mim

I
Abro silenciosamente meu baú,
Retiro de lá a fantasia do meu desejo,
E sua fragrância contida faz com que eu comungue
Aquele saudosismo espelhado em mim,
Nos velhos arlequins passados.

II
Do Arlequim tomo-lhe a audácia,
De mim refaço a alquimia do sonho:
Nesta fusão-de-calores, os amores perfazem,
Com (a) exatidão absurda de um sonho,
Todo o seu desabrochar de ilusões…

III
Com meu baú ainda aberto
Absorvo-me no devaneio de existir
Àqueles que sonham em primeiro serem reais
Para os seus eus,  mas que, por pura
Delinquência consciente e boa,
Deixam-se levar nas águas das quimeras
Que tanto edificam os momentos felizes;

IV
E por mim tomo-me real,
Visto a máscara alegre a denunciar-me
Faço-me de odores de pierrots:
Lanço o meu brilho a vagar
Inda que seja no simples quarto onde,
Estando,
Escuta calado essa magia dos desejos…

V
Entro então no meu baú,
E caibo dentro dessa imensidão de mim que lá está,
E fico e sinto, por longo tempo,
Todo um romper daquilo que me fazia tímido
Para abrir um baú-de-sonho:
A suave impressão de que me perderia para
Poder-me achar,
Como fiz,
Pois estava dentro do baú de mim mesmo.

João Luiz Martins

Fevereiro de 1990

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