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Relação de Gilberto Freyre com as artes visuais é tema de exposição na Caixa Cultural

senhora negra com filho no caminho
Senhora negra com filho no caminho

O estudo do passado é, antes de tudo, “uma aventura da sensibilidade, não apenas um esforço de pesquisas pelos arquivos”. Já no prefácio da primeira edição de Casa Grande e Senzala (1933) – livro seminal e paradigmático para a compreensão do Brasil – Gilberto Freyre deixava claro um dos muitos pioneirismos de sua obra: a associação entre arte e ciência. Para Freyre, a sensibilidade era tão importante quanto à razão na análise da vida social brasileira.

Mas o que pouca gente sabe – incluindo estudiosos da obra freyreana – é que o mestre de Apipucos cultivou quase que secretamente, durante a vida toda, uma relação íntima com o universo das artes visuais. Gilberto Freyre – que antes de ser alfabetizado teve aulas de pintura com o pintor Telles Jr – desenhou, pintou, fez caricaturas, além de estabelecer produtiva parceria com nomes importantes das artes visuais brasileiras, como Cícero Dias – autor do célebre painel de abertura de Casa Grande e Senzala –, Lula Cardoso Ayres, Luis Jardim, Manoel Bandeira, entre outros. É essa relação que a exposição “Gilberto Freyre: vida, forma e cor” pretende mostrar a partir de amanhã 22, na Caixa Cultural Recife.

Proposta pela Fundação Gilberto Freyre, a exposição não tem o objetivo de atribuir ao autor o título de artista. “Mais do que dizer se Freyre era ou não artista – questão secundária inclusive para ele próprio, que se definia como escritor – o que queremos mostrar é como esse pioneirismo de Freyre de misturar arte e ciência – já identificado em seus textos, que são considerados excessivamente literários por alguns cientistas sociais – foi uma característica duradoura e que se espraiou por toda a produção de Freyre, atingindo o ápice na sua parceria com alguns artistas que ilustraram seu livros”, esclarece Clarissa Diniz, que assina a curadoria da mostra junto com Fernanda Arêas Peixoto, Jamille Barbosa e Leonardo Borges.

Para tanto, a exposição está dividida em quatro módulos. “Mundo de imagens” abre a mostra com a intenção de mostrar a forte presença das imagens na formação de Freyre. Buscará demonstrar como sua vida esteve permeada pelo encontro com expressões imagéticas de vários tipos, seja criando-as ou colecionando-as. Aqui serão exibidos documentos que ilustram a sua relação ordinária, familiar e corriqueira com a imagem, como caricaturas, cadernos de desenhos para os netos, cartas ilustradas, cartões de natal que Freyre fazia com os filhos para o natal da família. Na sequência, “Escritor de formas e cores” busca mostrar como na obra escrita de Freyre é possível entrever as imagens que ele criou ao longo da vida. A idéia é mostrar como a frase “eu pinto escrevendo e acho que um pouco escrevo pintando” adquire sentido quando são confrontados alguns trechos de textos com algumas imagens produzidas pelo mestre de Apipucos, – o que explicita as barreiras tênues entre uma ação e outra. Telas e desenhos, além de excertos de textos que tratam de alguns dos principais temas de Freyre, como a arquitetura e as relações étnicas-raciais, são algumas das obras mostradas nesta parte da exposição.

Mas é em “Contaminações criativas” que é possível observar como a relação de Freyre com os artistas que ilustraram seus livros foi mais do que “serviços de ilustração”; foram antes diálogos profícuos entre formas sensíveis, entre modos de pensar as questões às quais ele e seus parceiros-artistas estiveram dedicados. A idéia desenvolvida neste núcleo é a de que em Gilberto Freyre a experiência sensível da imagem se configura num método do seu pensamento social. Assim, as trocas com os artistas que se debruçaram sobre suas obras mostra-se um diálogo intelectual absolutamente produtivo, do qual Freyre foi devedor e ao qual sempre deu grande importância e crédito. Aqui o painel de Cícero Dias para a abertura de Casa Grande e Senzala é tomado como um estudo de caso, sendo exibidas as cartas trocadas entre ambos e o desenho de Freyre orienta Cícero Dias na feitura da obra. Além deste caso, as parcerias de Freyre com Lula Cardoso Ayres, Luis Jardim e Manoel Bandeira são mostradas nos livros Assombrações do Recife Velho, Sobrados e Mucambos e Guia Prático, Histórico e Sentimental do Recife.

Por fim, em “Ecos” serão reunidas reflexões de Gilberto Freyre sobre a arte brasileira. Aqui o visitante poderá ver uma linha do tempo com o registro dos encontros do pensamento de Freyre com as artes visuais brasileiras. Neste núcleo estão contemplados também outros artistas que foram objetos da reflexão de Freyre no campo da arte e não apenas os que formaram a parceria demonstrada no núcleo anterior. Assim, Telles Junior e os irmãos Rego Monteiro (Joaquim, Vicente e Fedora) complementam o rol dos artistas com os quais o escritor recifense se relacionou.

“É importante destacar que não temos a pretensão de esgotar o assunto. Pensador versátil e multifacetado como Gilberto Freyre foi, com um conhecimento vasto e amplo sobre tantas formas de conhecimento, é lógico que a sua relação com as artes visuais não se encerra nessa mostra. Aqui queremos apenas descortinar esse novo horizonte de análise do pensamento freyreano, que esperamos que repercuta tanto entre os estudiosos de sua obra quanto entre os que tomaram contato com ela pela primeira vez”, diz Fernanda Arêas Peixoto, professora de antropologia da Universidade de São Paulo e pesquisadora da obra de Gilberto Freyre. Como todos pensadores clássicos, Gilberto Freyre continua oferecendo gratas surpresas aos seus estudiosos, mesmo após quase um século do lançamento de sua obra fundamental.

SERVIÇO
O que? Exposição “Gilberto Freyre – vida, forma e cor”
Onde? Caixa Cultural Recife, Av. Alfredo Lisboa – 505
Quando? De 22 de março a 8 de maio de 2016
Entrada: Gratuita
Horário de visitação: Terça a sábado das 10h às 20h; e domingo das 10h às 17h
Classificação: Livre
Informações: (81) 3425.1915

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