Fique por dentro das novidades do Flores no Ar!

Arquivos

Flores no Ar Logotipo do Portal Flores no Ar

  • Home  /
  • ARTIGOS   /
  • Por que defensores dos animais precisam se envolver com a política?

Por que defensores dos animais precisam se envolver com a política?

| Por Oberom* |

1. O primeiro ponto é lembrar que a participação política não necessariamente envolve a pessoa ter um cargo de representação na sociedade ou ter que tornar-se um político profissional; o segundo ponto é ter consciência de que qualquer pessoa ao fazer escolhas cotidianas está gerando consequências na sociedade, por isso somos seres políticos. Quebrar o preconceito de que política é algo ruim nos faz participar mais dela e assim construir uma sociedade mais justa.

Lembrando que a palavra política é derivada do termo grego “politikos”, que designava os cidadãos que viviam na “polis” e “polis” é cidade ou sociedade organizada. Em outras palavras, política é referente a tudo que envolve o coletivo. E aqui nós incluímos os animais não humanos também e o planeta!

Onde houver mais de uma pessoa, haverá a necessidade de definir regras de convivência, as leis que dão limites à ação e também estabelecer deveres comuns. A política acontece no viver coletivo.

No nosso imaginário, a política está distante de nossas vidas e limita-se aos políticos profissionais, também aos esquemas de corrupção, à polarização de debates, à briga ideológica e mais um monte de coisas que não nos atraem, mas a política vai muito além disso e é fundamental que a compreendamos.

Se voltarmos no tempo, para muito antes da vinda de Cristo, veremos o filósofo grego Aristóteles entender o ser humano como um animal político, visto que, somos seres sociais e por isso buscamos a vida em comunidade, justamente por nossas necessidades de trocas e suporte material e emocional.

Por fazermos parte da sociedade, é importante que participemos da construção dessas regras coletivas, ou seja, leis, assim podemos garantir direitos aos animais e proteção à Natureza.

2. Como vimos anteriormente, na construção política desenvolvemos direitos, deveres, restrições e até sentenças para quem descumpre esses acordos coletivos; essas regras são as leis. No geral o objetivo disso é trazer harmonia para sociedade, garantir o bem-estar individual e coletivo. Quando os representantes são mal intencionados vão construir leis que beneficiam apenas as partes interessadas e prejudicam a coletividade, da mesma forma quando os representantes têm consciência de seu papel, que é transformar a sociedade por meio de leis que possam beneficiar o máximo possível de indivíduos, a coletividade ganha com isso.

Assim, se os representantes não se atentam às causas ambientais e dos direitos dos animais não humanos, dificilmente existirão leis que deem garantias a eles, por isso é papel da sociedade levar essas demandas a eles e pressionar que sejam atendidas.

Por exemplo, na Tailândia, rinhas de galos, pássaros e outros não são proibidas; são até exibidas em alguns canais de televisão. Com isso, existe um mercado que ganha com o sofrimento desses animais que no final ficam mutilados e terminam mortos. No Brasil esta prática é proibida, logo são bem pontuais os casos, minimizando a violação da integridade física desses animais.

Outro exemplo ressaltado é que, em alguns municípios do Brasil, foram criadas leis que proíbem a tração animal nas vias urbanas, ocasionando em uma redução considerável nos casos de animais explorados. Então, se não participamos da política, leis que liberam a caça, farra do boi, rinhas, comércio de animais silvestres, experimentação de animais no ensino e outras vão sendo criadas. Bem como liberação de mineração em terras indígenas, desmatamento em áreas já protegidas, como Amazônia Legal, e assim milhões de espécies aquáticas, terrestres e aves são dizimadas.

3. Além da pressão social que a sociedade pode fazer para aprovação ou veto de leis, temos um dispositivo na democracia que é o poder que o povo tem de escolher essas pessoas que vão criar as leis; esse mecanismo é a eleição. Tanto mais envolvidos e conscientes de que esse processo é fundamental e crucial para beneficiar as pessoas, os animais não humanos e a Natureza ou destruí-los, mais responsabilidade temos em conhecer o histórico das candidaturas, os interesses, suas parcerias, quem financia, a quem estarão servindo.

Por consequência disso, todas essas minúcias são importantes para garantir progresso na luta de libertação dos animais e da regeneração e conservação da Natureza. Quando nos abstemos dessa responsabilidade cívica e compromisso ético, estamos deixando que alguém faça isso por nós e lá na ponta estaremos lutando com todas as nossas forças contra a exploração dos animais não humanos e possivelmente contra leis que os exploram, ou seja, um trabalho penoso que poderia ser avançado com o apoio da legislação, tornando um enfrentamento muito mais difícil, e as conquistas muito mais lentas.

Portanto, é muito importante que o máximo de pessoas deem força a candidaturas, mesmo que pequenas, de indivíduos que possam representar essas demandas da luta que os defensores dos animais empregam todos os dias (aqui vale ressaltar que esse olhar envolve um espectro político que trabalhe a questão social, ambiental e a luta para libertação de todos os animais, não apenas pets). E quando não temos esses candidatos que não nos ausentemos e votemos naqueles com a mente mais aberta, aqueles que dialogam com a sociedade.

4. No jogo político existem várias coisas feias, todos sabemos, e isso muitas vezes nos afasta de qualquer envolvimento. O crítico disso é que quando pessoas conscientes se afastam esses desequilíbrios se mantêm. Então como se posicionar politicamente? Primeiro temos que entender o mecanismo que nos governa (além do capitalismo): existem três poderes, o executivo, o legislativo e o judiciário, atuando nas esferas federal, estadual e municipal, de forma hierárquica, ou seja, as leis federais valem para todo o país, as estaduais não podem ferir as federais e se limitam àquele estado, as municipais, por sua vez, não podem ferir as leis federais, as estaduais e se limitam àquele município.

O poder executivo executa as leis, na esfera federal sendo representado pelo presidente da república (que atua junto aos seus ministérios). Na esfera estadual estão os governadores (que executa junto as suas secretarias) e na municipal estão os prefeitos. O poder legislativo, cria as leis, traz do povo as necessidades e constrói soluções na forma de leis e também fiscaliza o poder executivo; na esfera federal são os deputados e senadores, nos Estados os deputados e, na prefeitura, os vereadores. O poder judiciário, cuida para que essas leis criadas não atropelem as leis da constituição do país e, também, julgam casos que extrapolam o poder dos Estados ou municípios.

Percebe como há uma tentativa organizada de atender as necessidades da população por meio de mecanismos muito bem definidos? Mas sempre há furos, sempre encontram brechas, por isso se desejamos que deixemos de ter zoológicos e que o governo subsidie os santuários, promova uma agricultura sem venenos, proíba a experimentação animal nas instituições de ensino, proíba a exportação de animais vivos e tantas outras demanda. Precisamos saber escolher muito bem todos esses personagens, o presidente, os deputados, os senadores, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. Escolher deputados e senadores é muito importante, pois eles criam as leis e as leis afetam todos nós (humanos, não humanos e meio ambiente).

5. Para podermos escolher um representante para nossas causas e que fará um mandato que contribuirá verdadeiramente com a sociedade, trazendo mais igualdade e justiça para todas as pessoas humanas, não humanas e para a Natureza. Para isso, temos que começar conhecendo as necessidades da sociedade, nos conscientizarmos de que nem todas as minhas necessidades são prioridades para uma parte da população, que existem vidas que não tem a possibilidade de escolha, seja na alimentação ou na forma de se sustentar, não podem escolher por alimentos orgânicos; às vezes o que está mais acessível é o pão branco com salsicha e o arroz branco com frango.

Como vamos libertar os animais se há uma porção grande da sociedade que não tem condições de escolher outra coisa para comer? Então é parte do processo de libertação dos animais políticas públicas que tirem a população da miséria. Só quando as pessoas tiverem condições de escolher é que poderemos informar sobre outras opções e alternativas de consumo. Tomar consciência das necessidades da população e reconhecer nossos privilégios é o que chamamos de Consciência de Classe, algo que precisamos ter para fazermos as reivindicações justas dentro do processo político.

Obviamente nossa ação política não está apenas em conhecer os candidatos e votar. Como foi dito no início, todas as nossas escolhas são políticas, acarretam em consequências para sociedade. Então, uma outra forma de sermos ativos no processo político é através do boicote, não incentivarmos, financiarmos ou enriquecermos quem destrói, quem maltrata e quem enriquece com a morte de seres inocentes. Assim, ter atenção às marcas e empresas, especialmente quando elas ocupam também espaços nas casas legislativas do país, quando financiam campanhas de candidatos, pois obviamente esses eleitos vão atender aos interesses dessas empresas, inclusive na elaboração de leis que favoreçam a exploração dos animais e da Natureza.

6. Como vimos até aqui, muitas coisas estão em jogo e nosso posicionamento é muito importante, mesmo porque existe sempre alguém acompanhando seus passos, assim suas escolhas e forma de lidar com a vida sempre estarão inspirando pessoas. Se você opta por não se envolver, outras pessoas vão achar ok não se envolver, mas se você se envolve, naturalmente há um processo de educação, reflexão e quem sabe atuação da parte de quem te admira, mobilizando ainda mais a sociedade.

Vou ter que escolher entre esquerda e direita? Não, você não precisa decidir entre esquerda e direita, suas escolhas já definem isso por você. Conforme você conhece mais as pautas dos partidos, você vai vendo quantas delas são afinadas com suas próprias pautas de vida e, assim, ao final, saberá se você é de esquerda ou de direita. Não escolhemos lados antes de conhecê-los.

A bancada ruralista por exemplo, é formada por deputados que nem sempre fazem parte do mesmo partido, mas com ideologias parecidas, eles ignoram a Natureza, exploram os animais, defendem grandes concentrações de renda e de terra, são favoráveis aos agrotóxicos (que polui água, solo e o alimento em si, matando um número incalculável de animais), combatem a reforma agrária, a demarcação das terras indígenas (povos que mais preservam a Natureza no planeta) e estão ali para representar seu setor financeiro, o agronegócio, fazendo com que o governo repasse para eles 203,37 bilhões de subsídio para agropecuária e apenas 33 bilhões para agricultura familiar ou o pequeno produtor, que é quem oferece 70% da alimentação aos brasileiros. Mas ao mesmo tempo esses fazendeiros latifundiários defendem os valores da família cristã, os bons costumes, são os conservadores. Podemos perguntar então: Faz sentido uma pessoa que defende os animais apoiar uma bancada ruralista?

O conservador quer conservar, manter como está, o defensor dos animais quer mudar a realidade, quer que os animais sejam finalmente libertos, quer progresso nesse sentido, quer leis que beneficiem a todos. Então um defensor dos animais pode se identificar como progressista, uma postura que vai adiante do tempo que estamos.

* Oberom é professor de Yoga, vegano, ativista, facilitador do Prana Prasakti (retiro de 21 dias) e plantador de árvores.

Leave a comment