[A MULHER NÔMADE] Onde nascem as imagens

Por Kelly Saura*

Quando eu tinha 11 anos, atravessei uma parede de vidro. Os estilhaços perfuraram metade do meu corpo. Algumas partes foram costuradas, outras cobertas. Mas pele se regenera. Depois de 3 meses, eu estava nova e de volta à vida social. Mas eu sabia que algumas pequenas partículas haviam ficado dentro, por alguns anos eu até podia sentir friccionando a pele.

Um dos meus interesses nas artes é como as imagens se formam. E como as tecnologias influenciam esse processo de fabricação. Eu diria que é sobre a invenção das imagens. Esse momento de aparição, ritual, ciência, truque de mágico de circo. Onde as imagens se formam? Na parede de uma caverna, brincando de sombra com as mãos? No vidro da janela de um ateliê de pintura? Num truque de espelhos em um espetáculo de ilusionismo? Com pixels de luz em uma tela de acrílico?

As imagens se formam dentro da gente. Nesse sertão, interior, buraco, caverna. No estômago, no coração, na garganta. Dentro dessa caixa-preta que é a nossa cabeça. As imagens aparecem porque a gente projeta.

*Kelly Saura
mulher, nômade (Recife-Brasil, 1986)
artista visual, designer, curadora
desenvolve e colabora com projetos culturais e sociais de mídia-tática
articula tecnologias e linguagens do tempo
E-mail: kellysaura@gmail.com
Instagram: @saura.kelly