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[NOTÍCIAS] Miró da Muribeca parte pra outra dimensão

Miró da Muribeca foi um dos maiores poetas urbanos contemporâneos. Foto: Wesley D’Almeida/PCR/Divulgação

| Da Redação Flores no Ar |

A Poesia, a Crônica, a Performance estão de luto. Na manhã do domingo 31 de agosto de 2022, aos 61 anos, no Hotel Central, no Recife, o leonino Miró da Muribeca partiu pra outra dimensão.

João Flávio Cordeiro da Silva, conhecido mesmo como Miró da Muribeca, vivia de poesia. E sua poesia versava sobre o cotidiano e as injustiças sociais. Uma poesia crua, inflamada, mas também, muitas vezes, cheia de humor. Ele, o poeta cronista, sabia bem brincar com as palavras. E ao recitar, com suas performances vitais e inigualáveis, chamava a atenção de qualquer pessoa. Quem teve o privilégio de assisti-lo, ouvi-lo jamais esquecerá aquela entonação e caras e gestos.

Miró já vinha adoecido, tanto pelo alcoolismo, como por conta de um câncer. Pra piorar, teve ainda Covid, que o deixou ainda mais debilitado.

O poeta recifense, nascido em 06/08/1960, é, sem dúvida, um dos maiores poetas brasileiros da contemporaneidade. Deixou cerca de 15 livros publicados, alguns traduzidos em outras línguas.  O artista é um dos autores cujas obras compõem uma exposição permanente no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

Em breve será publicada uma biografia de Miró, escrita pelo poeta e escritor Wellington de Melo.

Confira abaixo algumas homenagens feitas a Miró!

“As ruas, esquinas e noites do Recife perdem um bocado de poesia e sentido neste domingo […] Entre o lirismo e a periferia, escolheu os dois. Subverteu a rima e cunhou uma estética poética popular, urbana, periférica, negra e social.
[…] Miró agora se encanta em verso e prosa, deixando muda a cidade, toda esquina e toda ponte, ainda atravessadas pela poesia que ele inscreveu para sempre na geografia que cada um carrega no peito.”
(Trecho da nota da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura do Recife)

“Miró gigante …. coração enorme, emoção em estado puro. Toda a complexidade e perplexidade da nossa vida cotidiana. Virado e desvirado em dor, transbordando em poesia. Preto, periférico, abrindo caminho com unhas e dentes, trilhando um jeito próprio de fazer poesia. De tomar essa poesia no próprio corpo, na voz, na expressividade. Poeta exu, abridor de caminhos.
O Miró gente tão boa, tão intenso, às vezes até me assustava, eu que sou tímido. Mas eu gostava demais de encontrá-lo e abraçá-lo na rua. Era uma figura tão rara, tão verdadeira. Alguém que estava realmente vivo, sentindo tudo, sem pudores.
Preto, pobre, periférico, da Muribeca […] Miró vive pra sempre. Na poesia, na lembrança, na cidade, na janela do ônibus.”
(Trecho do texto/homenagem escrito pelo artista Germano Rabello)

“Conhecia pouco Miró, mas todas as vezes que sentei à mesa com ele, tomava contato com a gentileza, o cuidado, a fala mansa, o carinho, que o tornavam tão leve. Todas as vezes em que testemunhei suas performances, era invadido por sua lírica furiosa, arrebatadora.
Duas imagens me vem à cabeça quando tento traduzir como percebo o poeta e sua obra. Para mim, Miró era uma força da natureza, um fenômeno como uma erupção vulcânica, um Krakatoa emoldurado pela aurora boreal. Ou, para ficar em um cenário mais pernambucano: uma tromba d’água com aroma de jasmim.
E tal qual uma enchente ou as lavas de vulcão, ele arrastava o público junto. Ninguém ficava impune ao lirismo disruptivo dos seus versos”. (Trecho do texto escrito para Marco Zero Conteúdo, pelo jornalista Inácio França.)

Miró
(Por Jorge Filó)

Riso largo, choro fácil
Muito humor, pura ironia
Uma faca entre os dentes
Uma flor de poesia
Lacônico, contundente
Verborrágico, inclemente
Miró era só magia.

Menino amor, empatia
Homem de forca e razão
A língua que era protesto
Também era sedução
Filho da periferia
De onde nunca sairia
Miró da imensidão.

Era todo coração
Agora é eternidade
Quem nasceu pra ser poeta
Viveu com intensidade
Fonte perene de afeto
Deixou o mundo repleto
De poesia e saudade.

Informações sobre como adquirir as obras de Miró, através do perfil do Instagram: @mirodamuribeca

 

Assista abaixo o documentário ‘Miró: Preto, Pobre, Poeta e Periférico’ (2008), dirigido por Wilson Freire.

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