[HAROLDO BARROS] Vênus em trígono com Plutão
Trígono entre Vênus e Plutão, trazendo grande e bela energia de integração e evolução, especialmente no que diz respeito às questões afetivas e relacionais.
Conta uma das mais belas páginas da mitografia grega que o poderoso Júpiter, pai dos deuses e dos homens, soberano do Olimpo, passeava pela Terra, acompanhado de seu filho e mensageiro, o solerte Mercúrio.
Disfarçados, caminhavam por um vale habitado por diversas famílias de agricultores e pediram pousada em uma dessas casas.
Irritado, o fazendeiro alegou não ter alimento suficiente para receber nenhum viajante e mandou embora os peregrinos. Em outra casa, a dona disse não ter acomodações; e a cada casa em que chegavam, novo pedido e nova recusa. Furioso, Júpiter já pensava em punir toda aquela gente, por negar-se a prestar o sagrado serviço da acolhida e da hospitalidade, prática, aliás, determinada por ele próprio aos deuses e aos homens (por isso mesmo, Júpiter tinha o epíteto de Xenios, o “protetor dos estrangeiros”).
Na última das casas, tiveram sorte diferente: foram recebidos pelo velho Filêmon e sua Esposa Báucis, um empobrecido casal, já no fim da vida, que abrem as portas para o que acreditavam ser viajantes em busca de pouso por uma noite.
Aconchegados diante da lareira, Júpiter e Mercúrio observam Filêmon colocar pétalas de rosas na água, para que os visitantes possam se lavar, enquanto Báucis tira-lhes as pesadas botas de viagem. Depois disso, os dois idosos desdobraram-se em preparar, com os parcos mantimentos de que dispõem, uma refeição decente para os viajantes, composta de figos e uvas secas, queijo e pão de cevada. Insatisfeito com a pobreza da refeição, Filêmon, com um cutelo na mão, põe-se a perseguir o único pato da propriedade, uma velha ave que servia de vigia, a fim de levá-lo para a panela. Mercúrio ria-se com as infrutíferas tentativas do velho que, mal podendo andar, tropeçava e claudicava atrás do pato. Este, percebendo o perigo, esconde-se entre as pernas de Júpiter. O poderoso deus declara que o pato está sob sua proteção e deve ser poupado.
Após a refeição, Báucis prepara a cama para os viajantes, com palha fresca e lençóis de tecido velho e grosseiro, porém limpos.
Na manhã seguinte, Júpiter e Mercúrio revelam suas verdadeiras identidades e dizem que, como prêmio por sua caridosa hospitalidade para dois desconhecidos, Filêmon e Báucis podem pedir qualquer coisa que desejarem. O velho casal se entreolha e pede apenas a graça de não sobreviver um ao outro: quando um deles morrer, que o outro o acompanhe imediatamente.
Profundamente tocado por aquela prova de amor conjugal, Júpiter sente saudades de sua esposa Hera e retorna com Mercúrio ao Olimpo, após abençoar o casal. Naquele instante, uma terrível inundação se abate sobre o vale, que fica inteiramente submerso, com exceção da propriedade de Filemo e Báucis. Sua casa se transforma num luxuoso templo em honra a Júpiter Xenios e eles são alçados à condição de sacerdote e sacerdotisa daquele templo.
Filêmon e Báucis viveram ainda muitos anos em plena felicidade, chegando a uma idade avançadíssima, que mortal algum jamais alcançou.
Um dia, percebendo que havia chegado o momento, caminharam para a frente do templo, trocaram as últimas palavras e olhares, deram-se as mãos e prepararam-se para a última viagem. E sentiram, um no outro, a estranha transformação: uma grossa casca tomou o lugar da pele, o corpo de avolumou, os cabelos encanecidos se transformaram em lindas folhas verdes… Haviam se transformado em duas árvores, dois exuberantes loureiros, cujas ramagens se entrelaçam.
E dizem que até hoje, entre as ruínas do templo, os dois loureiros permanecem abraçados, um testemunho vivo de amor profundo e verdadeiro.
O belo trígono entre Vênus e Plutão que estará nos céus nessa semana é um indicativo de um momento particularmente propício aos processos de aprofundamento e evolução dos relacionamentos.
Ótimo momento, portanto, para aquela conversa séria, para aquele grande projeto a dois, para o estabelecimento de grandes parcerias, pois as sementes lançadas ao solo neste momento terão as possibilidades de expansão e profundidade, a longo prazo.
Aproveite o momento. Reflita que, muito mais do que simplesmente romantismo, o amor é feito de companheirismo, cumplicidade e, claro, sacrifícios. Aliás, o amor se mede, sobretudo pelos sacrifícios.
O momento favorece a maturidade, a sensibilidade e generosidade para com o outro.
Uma sugestão.
Se você vivencia, neste momento, uma relação, fique atento: esse lindo trígono envolvendo Vênus e Plutão é na verdade um grande convite a que vivenciemos com toda a intensidade a beleza de momentos mágicos, encantados. Toda relação deve ser encarada com seriedade e objetividade. Mas deve haver o momento para o sonho e o encanto.
Bem, este é um momento para encanto.
Mais: como os astros envolvidos estão ocupando signos de Terra (Plutão, em Capricórnio e Vênus, em Touro), mais do que viver e sentir o encanto, temos a possibilidade de plasmá-lo, moldá-lo e efetivá-lo na realidade.
Vamos aproveitar!