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‘Feminista sem saber’

Por Mariana Bahia
http://elafalademaiss.blogspot.com.br/

Eu acho que nasci feminista. Desde que aprendi a falar sou feminista. Quando criança, nunca entendia o porquê de menina ter que usar rosa e menino azul, o porquê de menina ter que fazer balé e menino jogar futebol. Na minha cabeça, não havia sentido nisso.

Me lembro como se fosse hoje o dia em que meus pais me vestiram toda de rosa e me levaram pro balé. Eles estavam bem animados, eu não. Eu devia ter uns 5 anos. Achei aquilo tudo um tédio, só fiz uma aula, me danei a chorar e nunca mais voltei lá. O que eu gostava mesmo era de futebol.

Quando entrei na adolescência comecei a fazer natação, depois basquete, futebol, surf e, por fim, jiu-jitsu. Alguma coisa no universo masculino sempre me fascinava. Talvez fosse a praticidade, não sei.

O que importa é que meu pai sempre foi um grande incentivador disso tudo. E por muitos anos me vesti que nem um menino. Talvez muitos pais tivessem pensado que a filha seria lésbica (o que pro meu pai não seria problema algum), mas ele sempre respeitou os meus gostos e desejos. Sou muito grata por ter recebido essa liberdade.

Mas pra algumas pessoas da minha família, os homens são seres superiores. Só eles podem ser livres sexualmente. Mulheres só devem ter independência financeira, mas a sexual ou a emocional, jamais. Isso também nunca fez sentido pra mim.

Muito nova eu já era muito livre. Namorava com quem queria, falava muito palavrão, me autoafirmava sempre. Não via porque tinha que ser diferente. Por que um homem pode arrotar alto e eu não? Por que um homem pode falar palavrão e eu não? Por que um homem pode ser fanático por futebol e eu não? “Porque a sociedade é machista, Mariana”. Tá, tudo bem. Mas como diria um amigo meu: e qual é a proposta? Fica tudo assim mesmo? As mulheres serão oprimidas nas menores e/ou maiores situações?

Se tem vários parceiros é puta. Se gosta de sexo é puta. Se fala de sexo é puta. Se não quer mais estar casada é puta. Por que? Eu morro de curiosidade pra saber quem criou isso. Me lembro de um dia em que estava tremendamente irritada com um machista e meu pai me disse: “Minha filha, o que o seu irmão pode fazer você também pode. Exatamente a mesma coisa. Lembre-se sempre disso”. E aquilo, realmente, me marcou profundamente.

De acordo com os padrões recifenses, eu demorei pra casar. Trinta anos? “Nossa, vai ficar pra titia, hein”? A questão é que eu me recusava a viver uma relação que fosse baseada nesse padrão machista que estamos tãoooo acostumados. Me recusava a me casar só pra ter marido. Como pode a mulher trabalhar tanto quanto o homem, e ainda fazer todos os serviços domésticos sozinha? “Ah, mas só a mulher tem jeito pra isso”. É mesmo? Então ela não deveria ter jeito pra trabalhar fora de casa, né?

A grande questão é que homens machistas são criados por mulheres machistas. Não educamos esses rapazes para nos ajudar, somos as primeiras a reprimir os seus choros, afinal, homem que é homem não chora, estimulamos que eles não voltem apanhados do colégio, não ensinamos a eles que o diálogo é imprescindível pra qualquer tipo de relação, dizemos o tempo todo que o homem é mais forte do que a mulher: “mulher é um ser delicado, meu filho, somos um sexo frágil”. Uhrun, vai vendo… No dia que um homem fizer depilação (o cantinho, principalmente) ou tiver um parto via vaginal a gente conversa.

Mulher machista me deprime. Me deprime porque ela deveria ser a primeira a saber que a opressão vai te matando aos pouquinhos, te faz sentir menor, burra e incapaz. Entendo que o machismo é uma questão cultural, mas, apesar de não parecer, estamos em 2014. Nada justifica que ainda existam mulheres machistas.

Agradeço todos os dias por ter nascido com essa “lâmpada acesa” do feminismo dentro de mim. Ainda bem que quase fiquei pra titia, e hoje posso dizer com toda certeza: não poderia ser mais feliz por ter me casado com um homem feminista.

Para muitos, casamento é perder a própria liberdade. Pra mim, foi a libertação total. Deixei de ser a “Mariana que assusta os homens” e passei a ser a “Mariana mulher forte do caralho”, como diria meu marido. O que era defeito virou qualidade.

Ps: Espero que esse conceito deturpado de que o feminismo segue a mesma linha de raciocínio do machismo já tenha sido superado. Feminismo luta pela igualdade de gêneros, o machismo “luta” pela opressão da mulher.

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