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[CANTO DE LU] Lilith, a Lua Negra

Queen of the Night (Rainha da Noite) | British Museum

 

“Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.” (Lilith)

| Por Lu Rabelo* |
(Texto publicado em setembro de 2017)

Dia desses me peguei pensando em Lilith. Isso aconteceu justo quando eu estava lidando com algumas sombras minhas. Sombras difíceis de serem encaradas!

Fui atrás de conhecer melhor a história dela. E vi que alguns astrólogos utilizam Lilith na leitura do mapa. Particularmente, sinto que este é um importante ponto a ser observado e analisado.

Lilith não é um astro, e sim o ponto da órbita da Lua mais afastado da Terra. Um ponto vazio, conhecida como a Lua Negra, o lado oculto da Lua. Canto de segredos, mistérios.

Nas escrituras antigas, consta que Lilith foi criada junto com Adão (e não da costela dele, como Eva), tendo sido a primeira esposa de Adão, dessa forma, a mais antiga figura feminina da Terra . Acontece que Adão quis subjugá-la e Lilith não aceitou! Ela, indomada, foi simbora do Jardim do Éden, voando rumo ao Mar Vemelho. Ela é acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido.

No I Concílio de Nicéia (ano de 325 d.C), presidido pelo imperador romano Constantino, e que reuniu bispos de várias regiões, condenaram, rejeitaram e retirararam dos escritos bíblicos os chamados evangelhos apócrifos (ou gnósticos), aqueles que, segundo o Concílio foram escritos sem a ‘inspiração Divina’ por irem contra os dogmas estabelecidos pelos bispos. Em um desses evangelhos, constava a história de Lilith, que foi banida dos escritos, passando depois a ser descrita como um demônio. Segundo relatos católicos medievais, ela tem a habilidade de cortar o pênis com sua vagina, representando ao mesmo tempo a liberdade sexual feminina e a castração masculina.

Possuidora de grande beleza, é considerada a concubina preferida de Lúcifer, e possui o título de Rainha do Inferno. Conta-se que Lúcifer concedeu a Lilith a Sabedoria Mística.

Lilith foi uma deusa muito cultuada na Mesopotâmia, simbolizando a sombra do inconsciente, o mistério, o poder, o silêncio, a sedução, os ventos e tempestades, a escuridão, a morte. Lilith aparece como um demônio noturno na crença tradicional judaica e islâmica, e como um espírito feminino vingativo em outras culturas como a hebraica. Ela também é retratada em diversas obras da literatura.

Inanna, deusa Suméria da guerra e do prazer sexual,  Ishtar (assírios e babilônios) e a deusa grega Hécate (responsável por guardar as portas do inferno) são algumas das representações de Lilith.

Lilith é algo como a face feminina de Plutão. Profunda, misteriosa, feiticeira, mulher! Representa a libertação, o poder feminino. Ela mexe com os carmas não resolvidos, vaidades, sentimentos de falta, abandonos… Questões de vampirização também são associadas a ela.

Ela é dona do próprio corpo, representa o desapego, aspectos ocultos de nossos desejos, a luxúria, a libertação. Cultuada dentro da alta magia, é tida como a primeira bruxa na história da humanindade.

“A palavra demônio suscita um sentimento de medo e muitas vezes tamanha aversão que percebo que é um tabu pronunciá-la. Porém, em especial quando este demônio é Lilith, paradoxalmente, esta aversão parece acobertar uma atração por conhecer, saber mais, ultrapassar limites. Lilith personifica para mim esse sentimento. Um medo e um fascínio expressos em uma mulher nua que tem aos seus pés uma cobra que lhe circunda. Percebo como algo ambíguo entre inocente e perigoso, ousado, desprovido de limites”, declara a psicóloga Paula Lira, especialista em Clínica Fenomenológica Existencial e mestra em Antropologial da Arte.

Diante de tudo que li sobre ela, e refletindo sobre algumas de minhas sombras e sobre o ser mulher na atualidade, vejo o quanto é preciso olhar para Lilith em nós, encará-la, aceitá-la, integrá-la! Essa mulher sexual, sedutora, dona do próprio corpo, que não se deixa dominar, que questiona, que é livre. Mulher que é temida, rebelde, não se curva, que assusta.

Nessa sociedade ainda tão machista, reconhecer Lilith em mim não é nada fácil. É um desafio! Mas adoro desafios!

Que Lilith nos dê forças para sermos quem somos em essência!

Obs.: A poeta pernambucana Cida Pedrosa lançou há alguns anos o livro ‘As filhas de lilith’. A publicação é composta por 26 poemas, um para cada letra do alfabeto, cada um protagonizado por uma mulher, de A a Z. Nos textos, Cida explora as diversas formas de opressão que nós mulheres ainda vivenciamos. Recomendo demais a leitura!

Fontes utilizadas na pesquisa:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lilith
https://www.dicionariodesimbolos.com.br/lilith/
https://www.viastral.com.br/materia/lilith-a-lua-negra-o-lado-oculto-da-lua-a-face-sombria-do-feminino/
http://oestranhocurioso.blogspot.com.br/2013/01/lilith-primeira-mulher-de-adao.html
https://portalfloresnoar.com/floresnoar/roda-de-conversa-do-amor-e-outros-demonios-com-paula-lira-a-partir-de-313/
http://www.semprequestione.com/2016/06/lilith-primeira-mulher-de-adao-teria.html.+

* Lu Rabelo é cantadeira, arteterapeuta, yogaterapeuta, aromaterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar. É estudiosa de Xamanismo, Astrologia e Tarot.

1 Comments

  • Excelente texto, Lu!
    Tão profundo podermos nos reconectar com essa natureza selvagem, indomada e primal que Lilith representa, com o feminino primordial anterior ao patriarcado.
    Com poder ser mulher e se viver mulher oceanicamente.
    Adorei! Parabéns pelo artigo e pelas referências!

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