[ARTIGOS] Carnaval é um ensinamento necessário
Por Aline Feitosa (texto escrito no Carnaval de 2016)
Sob um sol de rachar o quengo, pernambucanos costumam fazer no Carnaval uma iniciação ‘de choque’ com suas crias. Basta estar durinho, sustentando o pescoço, que o bebê já recebe aquela fantasia básica de índio e duas listras de hipoglós nas bochechas. São 8h da manhã e os pais, certamente ressacados da farra de ontem, também se pintam, arrumam a mochila da criança, separam os confetes, a pistolinha d’água e seguem para a concentração do bloco.
Às 9h da manhã, meu amigo, a quentura nas ladeiras de Olinda já dão o recado: vai esquentar ainda mais, muito mais. Às 11h, nós, os adultos, já tomamos pelo menos 4 cervejas – combustível razoável para ir pra de baixo do dragão, pulando que só cabrito, assim que toca Vassourinha. É hora de mostrar pros pirraias que carnaval bom demais tem que ter suor, ruge, confete, batom, asseio com cerveja e muita purpurina.
“Mãe, mãe, mãe…vamos embora?” A pessoa se faz de ‘môca’ e solta um “Tome água, meu filho, tome! E bora correr que o bloco tá lá na frente!”
Quando ainda dá, a gente coloca na corcunda pra fazer o menino virar boneco gigante. Não tem ladeira certa. Não sei de onde a gente arruma a força do jedai pra subir correndo a Misericórdia. É pra se lascar! E assim, nesse treinamento que dói nas canelas e de muito amor ao Carnaval, tentamos fazê-los compreender na pele e no coração a liberdade, a brincadeira, o frevo,a orquestra, as boas histórias e tradições. São sorrisos, abraços e beijos muito suados.
“Gostei, mãe. Vamos de novo?”.
Carnaval é um ensinamento necessário.